“Deixemos o pessimismo para dias melhores” pode ser um mantra para salvar nossos dias da falta de humanidade e da ignorância.
Precisamos trilhar muito ainda para reestabelecer a saúde da democracia e o senso de humanidade da forma mais ampla. Enquanto milhares de brasileiros estão na extrema pobreza – só em Sorocaba são mais de 26 mil famílias sobrevivendo com apenas R$ 2,60 por dia, conforme dados da Prefeitura, publicado em reportagem do Cruzeiro do Sul – o presidente Bolsonaro faz um vídeo ao vivo cortando o cabelo.
Enquanto centenas de famílias lamentam não ter encontrado os corpos de seus entes queridos para dar um enterro digno a eles, Bolsonaro, covardemente e com crueldade, agride a memória de Fernando Santa Cruz, militante que morreu pelas mãos da repressão na ditadura – pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Enquanto a taxa de informalidade no interior do Brasil (62,4%) é maior do que nas regiões metropolitanas e atinge 20,8 milhões de trabalhadores, sem CNPJ e sem contribuição para a previdência oficial, de acordo com dados divulgados no dia 24 pelo IBGE, o governo Bolsonaro anuncia oficialmente (30/7) a extinção de 90% das Normas Regulamentadoras, criadas para prevenir acidentes de trabalho.
Enquanto a mediocridade e a crueldade governarem este país, não haverá recursos para pesquisas em saúde, para as universidades, não haverá projeto para geração de emprego e renda, nem mais investimento em arte.
Mas, nenhuma Medida Provisória, nenhum Decreto, pode proibir o sonho por uma nova realidade, menos injusta, mais solidária. Sonhar para tornar possível é a nossa tarefa mais urgente.
Um dia sonhamos ver os nossos filhos nas universidades, sonhamos em ter moradia, viajar nas férias, por meio de um emprego digno. Mesmo após 21 anos de ditadura, pudemos vivenciar, como povo brasileiro, esse momento de esperança em governos populares e democráticos.
Mas a história é um ciclo e não estamos agora, nem de longe, vivendo um momento de esperança. Que possamos aprender com as grandes lutadoras e os grandes lutadores do povo para não esmorecer, para não deixar apagar a potência do que ainda podemos ser.
Esse momento há de voltar, quando deixarmos todas as iras de lado, quando pensarmos coletivamente na transformação necessária, quando a sociedade “trocar o fatalismo pela indignação ativa”, como avalia o cientista político Boaventura de Sousa Santos.
A partir daí, buscar as saídas democráticas, mas sem a ilusão de uma resposta mágica à exclusão social, que perpassa o capitalismo, colonialismo e patriarcado. Não há tempo para pessimismo, a transformação é urgente e deve começar com aquele sentimento básico, o de se preocupar com quem está ao seu lado, seja no trabalho, na família ou no bairro.