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Entrevista

Enfermeira comenta como os cortes de remédios afetam a rede pública

Governo federal cancela contratos para produção de remédios de laboratórios públicos. Enfermeira explica como a saúde está, cada vez mais, ganhando espaço como mercado e não como política pública

Imprensa SMetal
Mateus Pereira | Governo da Bahia
Insulina produzida na Bahiafarma está entre os medicamentos distribuídos de graça pelo SUS

Insulina produzida na Bahiafarma está entre os medicamentos distribuídos de graça pelo SUS

Ao invés de investir na indústria nacional de ponta, o governo Bolsonaro retira de circulação 19 remédios de sete laboratórios públicos que eram distribuídos, gratuitamente, na rede do Sistema Único de Saúde (SUS).

Entre eles, o da insulina e para tratamento de câncer. Os laboratórios começaram a receber neste mês cartas informando do rompimento do contrato, sem prévia negociação e sem aviso.

Mais de 30 milhões de brasileiros podem ser prejudicados com o desabastecimento desses remédios e além disso, sem a política de Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a tendência é que o preço desses medicamentos aumente consideravelmente. O alerta foi dado pelo presidente da Associação dos Laboratórios Oficiais do Brasil (Alfob), Ronaldo Dias.

De acordo com a enfermeira da rede pública de Sorocaba Daniela Valentim, as mudanças nas universidades públicas e a suspensão dos contratos dos laboratórios estão ligadas a um projeto de política que governa para a morte e não para a vida.

Ela afirma que a saúde está, cada vez mais, ganhando espaço como mercado e não como política pública. Assim como as universidades, que com os cortes nos investimentos poderão sofrer com parceiras privadas que podem direcionar o que será pesquisado.

Em 2015, quando o Eduardo Cunha era o presidente da Câmara Federal, aprovaram uma emenda constitucional que reforçou a entrada do capital privado no sistema público. Enquanto o Médico Sem Fronteiras fazia uma grande campanha para quebra de patentes contra hepatite C. “Não é possível que tenhamos conhecimento e que possamos expandir o acesso desses medicamentos para o maior número de pessoas e não poder fazer isso por conta de patentes”, explica Daniela.

Mas a quem interessa uma saúde cada vez mais privatizada? Quem pode pagar por ela? Daniela que trabalha em área periférica vê muitos trabalhadores pagando remédios, pagando por atendimento na saúde. “Porque eles precisam fazer isso, mas sabe o que isso significa? que eles terão de comer pior, com menos qualidade na mesa”.

De acordo com a profissional, que tem mais de 20 anos de experiência na rede pública de saúde, o fornecimento de insumos para diabéticos já não é ideal. “Todos os diaa deveriam receber uma seringa agulhada e um kit para o monitoramento do açúcar no sangue, mas não conseguimos garantir esse monitoramento para todos os dias. Um diabético que não usou a insulina de forma correta, vai descompensar. E tratar um paciente descompensado gera mais gasto. A quem isso interessa?”, pontua.

Desemprego acelerado

O ritmo das demissões que ocorrem no país por conta da falta de desenvolvimento industrial e de perspectiva de melhoras na economia, afeta diretamente a rede pública de saúde. “Mais pessoas desempregadas, sem vínculos trabalhistas, que não contam mais com convênios, aumentam ainda mais a procura nas unidades básicas”.

Por um lado há o mercado faminto por lucros aumentando os insumos da saúde e contando com o congelamento nos investimentos da saúde por 20 anos, por outro lado, o número de desempregados aumentando gradativamente.

E os cortes nas universidades?

Com os cortes nos investimentos nas universidades públicas, abrem-se brechas para parcerias com empresas privadas. Isso preocupa porque vão investir onde dá mais lucro. “E as doenças negligenciadas? Sífilis, por exemplo. Os laboratórios não se interessam em produzir porque é muito barato”, questiona Daniela.

Todo investimento em pesquisa em vacinas, insumos de saúde e outros medicamentos podem estar comprometidos pela seletividade do lucro das grandes empresas farmacêuticas, pior, com o respaldo do governo.

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