Informações e fotos exclusivas da área da Saturnia em Sorocaba, obtidas pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), irão complementar o dossiê entregue à Comissão Especial de Vereadores que investiga a contaminação por chumbo da região da antiga fábrica de baterias.
Os novos dados foram solicitados pela entidade aos órgãos Greenpeace e Fundacentro, que colaboraram na denúncia do Sindicato sobre riscos à saúde de cerca de dois mil trabalhadores nos anos 90.
Em relatório, fornecido pelo pesquisador Gilmar da Cunha Trivelato, que coordenou a ação da Fundacentro, do Ministério Público Estadual, ele esclarece que estudo solicitado à entidade era relacionado aos ambientes de trabalho e possíveis repercussões na saúde dos trabalhadores e não teve relação com a contaminação ambiental existente. O trabalho foi iniciado em 1993 e se estendeu até o final de 1994.
“Em 1995, a equipe Fundacentro interrompeu os estudos sem ter encaminhado o relatório conclusivo ao MPE, mas durante a realização dos estudos todos os trabalhadores avaliados foram informados dos resultados relativos aos níveis de exposição a que estavam sujeitos”, explica.
O estudo deveria abranger as três unidades da Saturnia que operavam em Sorocaba: a fábrica de baterias (maior do país da época); a unidade de reciclagem de baterias usadas e a fundição de chumbo secundário.
“Devido às pressões do Greepeace e intervenções da Cetesb, a Saturnia encerrou suas atividades na unidade de fundição, tendo terceirizado essa atividade para uma empresa que foi constituída por ex-funcionários em outro município. Mas a área onde ela operava em Sorocaba estava muito contaminada e era objeto de intervenção por parte da Cetesb”, conta Trivelato.
O técnico explica que a Fundacentro não realizou estudos na unidade de fundição de chumbo secundários da Saturnia, que deu origem ao passivo ambiental, hoje utilizado como área de garimpo de chumbo pela população de Sorocaba.
E conclui: “os técnicos [da Fundacentro] podem apenas dar testemunho pessoal de que as condições de trabalho existentes na fundição secundária, registradas de forma qualitativa nas visitas preliminares, eram extremamente precárias e, por julgamento profissional, e que as exposições dos trabalhadores deveriam ser excessivas. Podem afirmar também que as operações ali realizadas, com armazenamento de pilhas de sucata contendo chumbo diretamente no piso não adequadamente protegido, contaminou a área em que se localizava a fundição”.
Caixas de baterias a céu aberto
Fotos disponibilizadas pela imprensa do Greenpeace, registradas em 1994, mostram a área da Saturnia tomada por caixas de baterias, provavelmente usadas, a céu aberto. De acordo com o sindicalista Carlos Roberto de Gáspari, que presidia o Sindicato dos Metalúrgicos da época, o local se tratava do pátio externo no fundo da fábrica de baterias.
Em reportagens à imprensa local na época, além questão da contaminação do solo por chumbo, representante do Greenpeace denunciava outra preocupação que levou a entidade ambiental a procurar o Sindicato: caixas de baterias feitas de baquelite, material plástico não reciclável.
De acordo com o órgão ambiental, as caixas não poderiam ser recicladas nem queimadas, pois eliminam grandes quantidades de cloro e enxofre, substâncias tóxicas e cancerígenas. E, nos fundos da fábrica – como demonstram as fotos – estavam estocadas grandes quantidades de caixas, com sinais de incêndios já acontecidos.
A imprensa do SMetal tentou contato com representantes do Greenpeace na época, mas até o momento não foram encontrados.
Cópia do relatório histórico fornecido pela Fundacentro e as fotos disponibilizadas pelo Greenpeace, na íntegra, serão inseridos no dossiê entregue à Comissão Especial da Câmara Municipal de Sorocaba que investiga os problemas na Saturnia, que é composta pelos vereadores Iara Bernardi, João Donizete e Hudson Pessini.