“A Batalha das Ideias: da resistência à ofensiva” foi o tema de mais uma atividade do Ciclo de Formação, realizado na noite desta quarta-feira, dia 22, no SMetal. (Confira galeria de fotos aqui)
Em comemoração aos 15 anos do jornal Brasil de Fato (BdF) os jornalistas José Arbex Jr. e Vivian Fernandes abordaram a importância de se fazer um contra ponto à fabricação de consenso da mídia golpista.
Na abertura do evento, o presidente do SMetal, Leandro Soares, destacou que é preciso acabar com o monopólio da comunicação no Brasil para democratizar os meios e parabenizou o jornal Brasil de Fato por fazer o enfrentamento às narrativas ‘oficiais’.
“O jornalismo tem que ser entendido hoje como arma de guerra”, afirma Arbex, que é fundador do BdF e professor de jornalismo da PUC/SP.
Ele deu exemplos históricos de participação da mídia para referendar guerras, como a invasão dos Estados Unidos no Iraque, em 2003. “Inventaram motivos para o ataque. Mesmo todos sabendo que não havia armas químicas”.
“Sem a mídia não teria tido o impeachment da Dilma. Não basta dar o golpe. É preciso convencer a população do golpe”, ressaltou.
Por isso, a importância de narrativas como as do Brasil de Fato, que é porta-voz dos movimentos sociais. Em sua fala, Vivian Fernandes, que é editora de Internacional do BdF e doutoranda em comunicação pela USP.
Ela contou um pouco do histórico do jornal, que foi lançado em Porto Alegre, em 2003, durante o Fórum Social Mundial para mostrar um Brasil que não aparece na mídia convencional.
Atualmente, há regionais do jornal em vários estados e a tiragem total no país chega a 500 mil exemplares. O BdF integra a rede CPMídias que articula também a rádio Brasil de Fato. Em Sorocaba, é possível ouvir o programa aos sábados e domingos, às 12h, na rádio Super FM (87,5).
O portal de notícias é www.brasildefato.com.br
A realidade que não aparece na grande mídia
Arbex, que cobriu a queda do muro de Berlim, citou na palestra dados da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre assassinatos a bala no Brasil. São 60 mil mortes por ano.
“São assassinatos seletivos porque quem está sendo exterminada é a juventude negra. Onde isso se reflete na mídia? Na Folha, na Globo?”, provoca.
Ele é autor do livro “Showrnalismo: a notícia como espetáculo”, que foi sua tese em história na USP. Para demonstrar o quanto a mídia consegue transformar fatos em ficção e ficção em fatos destaca na obra a Guerra do Golfo, em 1993.
“Os Estados Unidos jogaram 85 mil toneladas de bombas em 40 dias e 40 noites de ataques, mas diziam que era uma guerra sem mortes porque tinham inventado armas cirúrgicas. Como convenceram o mundo disso?”. Arbex continua: “se na época ligasse na CNN (rede de TV americana) não mostrava mortes. Mas, hoje, sabemos que 150 mil mulheres e crianças morreram”.
Em apenas uma semana, o estrago dos bombardeios foi similar a sete Hiroshima, compara Arbex com o ataque à cidade japonesa na Segunda Guerra Mundial.
Em um contexto recente, o jornalista citou a manchete da Folha de São Paulo, no dia 15 de maio, que foi o de “Enfrentamento em Gaza”. “Foram mais de 11 mil palestinos atingidos. Nenhum israelense. A palavra enfrentamento apaga o massacre e tranquiliza nossa consciência”.
Função de anestesiar
Outro ponto comentado foi a questão de como os grandes veículos de comunicação, controlados por poucos grupos familiares no Brasil, fabricam o clima de pessimismo.
“Dória foi eleito com 60% dos votos válidos, em São Paulo. Mas, em seis meses foi derrotado pelos servidores que derrubaram, com grandes manifestações, a reforma da previdência privada que o prefeito queria impor”.
“Nos Estados Unidos, milhares de estudantes secundaristas saíram às ruas recentemente dizendo não ao porte de armas”.
Esses foram dois dos diversos casos exemplificados por Arbex, de reação dos povos e que mostram que não há motivo para desânimo. Ele citou uma frase do escritor uruguaio Eduardo Galeano, durante o lançamento do Brasil de Fato, em 2003: “Deixemos o pessimismo para dias melhores”.
Como disse a jornalista Vivian Fernandes “é preciso desconstruir discursos pré-fabricados e construir a força social”.