Periferia é periferia em todos os cantos do Brasil. Cada uma com sua especificidade, mas com uma série de características em comum: problemas de saneamento básico, transporte, baixa renda, nível de escolaridade e de violência.
As favelas, morros e guetos são produtos da exclusão social expressa nas cidades. No centro, os ricos; na margem, os pobres, majoritariamente negros.
A coordenadora do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (NUCAB) da Universidade de Sorocaba (Uniso), professora Ana Maria Souza Mendes, afirma que a forma como a abolição da escravatura foi realizada, em 1888, sem planejamento de sobrevivência e inclusão social dos libertos, contribuiu para o problema, até hoje não superado pela sociedade brasileira que é a desigualdade social.
Desde então, a população negra em Sorocaba e no país vem buscando formas de organização, reconhecimento e inserção social. Seja com música, projetos de educação ou em movimentos sociais, o jovem da periferia tem exigido melhores condições de vida e menos violência.
Movimento hip-hop
O hip-hop é um exemplo de luta e resistência contra o racismo no Brasil. Ele chegou no país na década de 80 e, além de conter expressões artísticas, como música, dança e grafite, é um movimento popular e social.
“O hip-hop é uma forma de se organizar que pode apresentar novas possibilidades e horizontes para a juventude que está nas periferias e não vê perspectivas de melhora de sua própria vida e de quem está ao seu redor”, explica Melquisedeque Silva, participante do Fórum do Hip-Hop de Sorocaba.
Para o skatista Mateus Santos, conhecido como Tolão, morador do bairro Laranjeiras, em Sorocaba, um dos pontos mais negativos da periferia é a falta de espaços públicos destinados à cultura e ao lazer. “Acaba que os jovens do bairro, por si mesmos, organizam suas atividades, como batalhas de rap, baile funk, campeonato de skate”, conta.
A falta de segurança também é criticada por Tolão. “Não existe segurança na periferia de Sorocaba. E boa parte da comunidade tem medo da polícia, mesmo que não tenham motivo para isso”, conta, afirmando que os moradores vivem episódios cotidianos de prejulgamento e falta de respeito generalizado por parte de policiais.
Educação
Ana Maria, do NUCAB, acredita que a mudança é possível a partir de uma “escola de verdade, onde os jovens sejam incitados a buscar conhecimento, não onde se despejem sobre eles conceitos já analisados e, às vezes, com preconceitos enraigados”.
Além disso, de acordo com a educadora, “sem emprego e educação, não é possível ter uma vida minimamente digna na sociedade que vivemos hoje. A falta de estabilidade – seja financeira, emocional – contribui para que a própria sociedade não consiga se desenvolver. E é o jovem negro que está mais vulnerável a essa situação”.