São Paulo – Para Roberto Amaral, ex-presidente do PSB, e Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP), ambos coordenadores da Frente Brasil Popular, os movimentos sociais, partidos progressistas, centrais sindicais e a esquerda brasileira de modo geral mantêm a unidade em torno da “questão política crucial” do país hoje: a defesa do mandato de Dilma Rousseff.
“Independentemente do papel da Frente Brasil Popular, não me recordo de outro momento de tanta unidade das forças de esquerda no Brasil e das forças populares. Os principais partidos estão unificados na luta. A presença da CUT e da CTB na frente e em todos os entendimentos, e das outras frentes, como a Frente Povo sem Medo, mostram que estamos conseguindo importante grau de unidade e integração. Estamos trabalhando nessas ao lado do MST, do PT, do PCdoB, do PDT, dos movimentos sociais. O que se quer mais?”, questiona Amaral.
Em artigo publicado ontem (23), o sociólogo Emir Sader afirmou que “as forças golpistas retomaram iniciativa em todos os planos, contra-atacam”. Acrescentou que os “golpistas contam com a falta de iniciativa política unificada das forças democráticas”. Um dos sinais do contra ataque seria a operação que ontem (23) prendeu Paulo Bernardo, ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva (Planejamento) e de Dilma (Comunicações).
“Não concordo absolutamente”, diz Amaral. “A ação (da Lava Jato) é uma peça usual, comum, repetida, do processo de golpe. Sempre que há condições de nós avançarmos na defesa do mandato de Dilma, eles iniciam uma operação”, diz. “Esperaram que o Senado se reunisse e votasse a admissibilidade para revelar a delação do Sérgio Machado. Agora é o ex-ministro de Dilma e marido de uma senadora (Gleisi Hoffmann) e ex-chefe da Casa Civil. Como isso é contragolpe? Isso é o golpe. Está dentro do golpe.”
Na mesma linha, Raimundo afirma que a prisão de Bernardo é “a continuidade do projeto e da estratégia de atacar a esquerda, e para isso precisam atacar o governo liderado pela presidenta Dilma, pelo PT, o principal partido de esquerda”. “Não tem nada de ‘desunidade'”, afirmou. “Tinham que prender para dar manchete na televisão. Lamentamos mais uma investigação seletiva da operação Lava Jato, enquanto o núcleo mais importante do PMDB foi flagrado numa operação de obstrução da Lava Jato, enquanto as pessoas que poderiam depor normalmente são coagidas e presas de forma ilegal.”
Amaral reafirma, como em outras ocasiões, que a questão fundamental e “o objetivo concreto, inafastável, que determina todas as nossas ações, é impedir a consumação do golpe.” Segundo Bonfim, o fato de não haver consenso em torno da antecipação de eleição presidencial não significa falta de unidade. Para ele e Amaral, a aceitação de novas eleições seria legitimar o impeachment e a preservação da democracia está diretamente relacionada à manutenção do mandato de Dilma.
“O fundamental é concentrar nossas atenções e nosso esforço na reversão do julgamento do Senado”, diz Amaral. Bonfim acrescenta que a tese de novas eleições pode, inclusive, não ter viabilidade jurídica ou política. “O que precisamos é aumentar o desgaste do governo Temer, pressionar os senadores e a presidenta Dilma voltar.”
A Frente Brasil Popular, segundo ele, está na expectativa de uma carta-compromisso de Dilma aos trabalhadores, movimentos sociais e o povo sobre qual será a tônica do seu governo, caso recupere o mandato. No momento, não há nova data de reunião com Dilma, após a suspensão do encontro de terça-feira (21).
Segundo Bonfim, a frente deliberou que a partir de agora, em vez de grandes dias nacionais de mobilização, vai potencializar ações menores espalhadas pelos municípios e nas regiões, de forma descentralizada. A próxima grande manifestação política de massa, diz, acontecerá em 5 de agosto, na abertura dos Jogos Olímpicos. “Faremos um grande ato e passeata no Rio de Janeiro para denunciar o golpe em âmbito internacional.”