Artistas como Janis Joplin e Joan Jett, ou mesmo as brasileiras Rita Lee e Cássia Eller, são algumas mulheres que marcaram a história do Rock ‘n’ Roll no mundo. Elas quebraram barreiras em um espaço predominantemente masculino e fizeram a diferença na luta pela igualdade de direitos entre os sexos, trazendo performances únicas e canções cheias de atitude, contrárias ao conservadorismo.
Com a missão de fortalecer a autoestima e incentivar o protagonismo de meninas a partir do Rock e de atividades socioculturais, foi criado em Sorocaba o Girls Rock Camp Brasil.
O projeto promove um acampamento musical diurno de férias só para garotas, o primeiro do Brasil e da América Latina. Segundo a idealizadora da iniciativa, a professora e socióloga Flávia Biggs, durante uma semana 60 meninas, de 7 a 17 anos, participam de oficinas, aprendem a tocar um instrumento – voz, guitarra, baixo, teclado ou bateria -, formam uma banda, compõem uma canção e fazem uma apresentação ao vivo com a presença de pais e amigos.
“Além dessas atividades de música, elas também participam de oficinas de vivências socioculturais; de fanzine, que é uma revista alternativa; serigrafia; montam o logo e a estampa da banda; aprendem defesa pessoal e participam da oficina de imagem e identidade, na qual trabalhamos a desconstrução da imagem da mulher na mídia”, explica Flávia.
Victória Maria Barros, de 15 anos, participou do projeto em janeiro de 2015 com a sua irmã Isabela Aparecida Barros, de 12 anos, e conta que foi uma experiência incrível. “Eu achava impossível aprender a tocar um instrumento em uma semana, fazer uma música, um som legal e apresentar para o público”, disse. No acampamento, Victória aprendeu a tocar baixo e se apresentou com a banda Black Bird.
Quem as inscreveu foi seu tio, Junior Barros, que estava preocupado com a superexposição das meninas nas redes sociais. “Infelizmente, a internet abre janelas para as pessoas no geral, que podem ser perigosas”, explica. “Achava que elas iriam conseguir se valorizar mais a partir do acampamento”, completa Junior.
Para ele o projeto mudou totalmente a rotina e a percepção de mundo das sobrinhas. “Ao participar de um projeto como esse, elas criam novos laços, novas amizades. E tem a parte de trabalhar o feminismo, de mostrar para as meninas que tem que lutar para que as coisas sejam iguais, que elas não são inferiores a ninguém”, disse.
Depois do projeto, Victória conta que aumentou a sua vontade de “correr atrás” e começou a trabalhar como Jovem Aprendiz. “Logo depois que acabou o acampamento, a vontade de ser independente e correr atrás dos sonhos só aumentou. Eu abri os olhos para muita coisa”, lembra.
O projeto
O Girls Rock Camp Brasil é um projeto sem fins lucrativos, formado por mulheres envolvidas com a música e movimentos sociais, inspirado no Rock ‘n’ Roll Camp for Girl, de Portland (OR), EUA.
A sua primeira edição no Brasil aconteceu em janeiro de 2013 e, desde então, é realizado uma vez por ano, durante as férias escolares, das 9h às 17h. Por ser o único no país, recebe garotas de diversas regiões do Brasil.
Victória (em pé, de rosa) foi a baixista da banda Black Bird, formada na 3ª edição do acampamento, em janeiro de 2015
O projeto é mantido com o valor cobrado nas inscrições – que na última edição teve o custo de R$ 250 -, shows beneficentes, além de doações em dinheiro, materiais de papelaria e, especialmente, de instrumentos musicais.
São disponíveis 60 vagas, 50 pagas e 10 gratuitas. Para concorrer à bolsa, as meninas devem estar matriculadas em escolas públicas. O valor inclui todo o material de trabalho e uniforme.
Flávia Biggs conta que o projeto ainda não possui sede própria, mas é um plano para o futuro. “Se tivéssemos um espaço nosso, poderíamos ampliar ainda mais as atividades, fazer cursos mais longos ou mesmo no contraturno escolar”, explicou a idealizadora.
A 4ª edição do Girls Rock Camp Brasil acontece entre os dias 11 e 16 de janeiro de 2016. As inscrições ocorreram em 11 de outubro – Dia Internacional da Menina – e foram esgotadas logo no primeiro dia.
Conheça também
Também com a missão de empoderar meninas e mulheres de Sorocaba, existem outros dois projetos de iniciativa da professora e socióloga Flávia Biggs: o Ladies Camp Brasil e o Viva Meninas.
O “Ladies Camp Brasil” é voltado para mulheres adultas e acontece no recesso escolar de julho, no período noturno. São 30 vagas e as atividades de música e arte são adaptadas para atender a mulher trabalhadora, inclusive com espaço kids.
Já o “Viva Meninas” tem apoio da Secretaria de Desenvolvimento Social de Sorocaba e trabalha nas comunidades periféricas da cidade. “Levamos as estratégias da Girls Rock Camp e, com a música, arte e audiovisual, tentamos realizar a transformação social”, disse Flávia Biggs.
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