Uma boa notícia que não foi manchete em nenhum jornal, nem mesmo em site especializado em economia, talvez pelo fato de boa notícia não vender jornais, é a chegada do premiê chinês Li Keqiang, que desembarca no Brasil nesta terça-feira (19) trazendo na bagagem um suculento pacote de projetos de cooperação, no valor total de US$ 53 bilhões (R$ 160 bilhões).
A cereja do bolo é a participação chinesa na chamada Ferrovia Transoceânica, que ligará a brasileira Ferrovia Norte-Sul à costa do Pacífico, no Peru. É um projeto estimado para custar entre US$ 4,5 bilhões (R$ 13,5 bilhões) e US$ 10 bilhões (R$ 30 bilhões).
A Transoceânica permitirá que o Brasil exporte pelo Pacífico soja e minério de ferro, dois dos seus principais produtos no comércio com a China, barateando o custo.
Na próxima terça-feira (19), a presidenta Dilma Rousseff receberá em Brasília a visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, para assinar acordos de investimento de US$ 53,3 bilhões nas áreas de agronegócio, autopeças, equipamentos de transportes, energia, ferrovias, rodovias, aeroportos, portos, armazenamento e serviços.
Desse valor, pouco mais de US$ 3 bilhões já estão em projetos em andamento, como a ligação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte para as regiões Sul e Sudeste. Mas uma cifra muito próxima de US$ 50 bilhões se destina a projetos novos, segundo disse o subsecretário-geral Político do Ministério das Relações Exteriores, embaixador José Alfredo Graça Lima.
Investimentos
A construção da Ferrovia Transoceânica, em parceria com a China e o Peru, ligará a Região Centro-Oeste até o Oceano Pacífico. Além de ser um dos projetos-chave na integração sul-americana, essa logística é estratégica para o barateamento do frete e redução do tempo de escoamento de grãos, carne e outros produtos para a Ásia.
Está prevista a assinatura de quatro acordos governamentais, quatro empresariais, três declarações conjuntas e mais de 25 atos, alguns deles ainda em processo de finalização.
Além de investimentos em infraestrutura, logística e indústria, os chefes de Estado devem anunciar a abertura do mercado chinês à carne bovina do Brasil e a conclusão da venda e entrega do primeiro lote de aviões da Embraer, de um total de 40, à chinesa Tianjin Airlines.
O volume de investimentos, talvez o maior pacote bilateral da história anunciado de uma só vez, supre grande parte das necessidades brasileiras quando grandes grupos nacionais, tradicionais investidores em infraestrutura, passam por dificuldades decorrentes da operação Lava Jato. Além disso, o governo tem recursos do Tesouro Nacional limitados neste ano em decorrência da crise mundial que prejudicou o crescimento econômico e a consequente arrecadação de impostos, impondo a necessidade ajuste fiscal para reduzir o custo de captação de recursos através de títulos da dívida pública.
Os acordos Brasil-China são resultado das crescentes relações bilaterais entre os dois países, incrementadas principalmente a partir do governo Lula, quando o Itamaraty foi estimulado a diversificar as parcerias com países antes distanciados pela política externa do governo tucano atrelada a Washington. Os laços continuaram se estreitando no governo Dilma, inclusive com a formação do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A hora da colheita desses esforços chegou.
A atração desses investimentos desarticula e desaponta a oposição sectária, não só de partidos políticos, mas também da mídia oligopolista. Ficou mais difícil apostar no “quanto pior, melhor”.