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Prédio sem uso

Usina Cultural está fechada desde 2013

Prefeitura alega não ter tratativa para nova locação do espaço, que voltou a ser de responsabilidade da Splice

Cruzeiro do Sul - Simone Sanches
Fábio Rogério

O prédio construído em 1909 pela Cianê tinha como finalidade abrigar uma usina geradora de energia e diesel

Desde que voltou a ser a ser responsabilidade de seus proprietários, o Grupo Splice, em abril de 2013, o prédio da Usina Cultural Ettore Marangoni – antes alugado pela Prefeitura de Sorocaba – está sem uso e os produtores culturais da cidade continuam lamentando a perda do espaço público para apresentações. Questionada, a Prefeitura alega não ter tratativa para nova locação do espaço. Também procurado pela reportagem desde o dia 24 de abril, o Grupo Splice não fez nenhum posicionamento sobre o destino do local.

Na ocasião do fim do contrato com a Prefeitura, o empresário Antônio Beldi, afirmou que o prédio da Usina Cultural Ettore Marangoni teria como destino eventos socioculturais. Na mesma época, segundo o empresário, as propostas para a Usina Cultural estavam em fase de elaboração e que um processo de manutenção seria feito no local. O prédio construído em 1909 pela Fábrica São Paulo da Companhia Nacional de Estamparia (Cianê) tinha como finalidade abrigar uma usina geradora de energia a diesel. Foi restaurado nos anos 1990, sendo que em 1996 foi tombado pelo Conselho de Patrimônio Histórico Municipal. Foi no ano 2000 que passou a se chamar Usina Cultural Ettore Marangoni.

A reportagem esteve no local e constatou que o corrimão de acesso ao local foi trocado seguindo as leis de acessibilidade; a parte interna do prédio está em bom estado de conservação, porém a fachada está com marcas de pichação. Segundo o aposentado Jaime do Espírito Santo, que mora do lado da Usina Cultural em uma casa que pertencia à antiga Fepasa, a segurança no local acaba ficando prejudicada. “Se voltar a funcionar tem mais presença de guardas; existem câmeras instaladas mas não sei se está funcionando. Espero que não fique abandonado”, comentou. Segundo o morador os banheiros localizados ao lado do prédio já sofreram depredação e arrombamento.

Artistas lamentam

Segundo o músico, diretor de teatro e da Entreatus – Núcleo de Artes Cênicas, Marcello Marra, o caso da Usina Cultural é emblemático da atual crise que o setor cultural sofre atualmente na cidade de Sorocaba. “De um lado temos o setor público que destina uma parcela irrisória do orçamento anual para a pasta de cultura (menos de 1 %) e do outro o setor privado que não participa e nem apoia iniciativas culturais em nosso município”, comenta. Como consequência, segundo o diretor, é o fechamento de salas de espetáculos e a deterioração dos espaços existentes. “É uma grande perda para os grupos artísticos que utilizavam o local e um desperdício imenso de recursos por parte da Prefeitura que investiu no espaço e até na estrada de acesso ao local meses antes da devolução”, comentou. Segundo Marra novos diálogos poderiam ser abertos. “Acredito que seja uma opção da Prefeitura manter aquele espaço inativo, pois depende fundamentalmente dela reabrir o diálogo com os proprietários para nova ocupação do espaço”, comentou.

De acordo ainda com o diretor, também não há força de vontade em olhar o setor com mais afinco. “Não existe proatividade do Executivo e muito menos do Legislativo em fomentar cultura, apesar do grande esforço da Secretaria de Cultura atual. Em nosso ponto de vista, faltam investimentos diretos nessa área para a criação de novos espaços, pelo menos para repor os que foram extintos, e essa falta de investimentos demonstra algo mais profundo e triste que é a falta de interesse no setor cultural e o descrédito aos Artistas e produtores locais”, ressaltou.

Para o diretor teatral Mario Pérsico, o prédio da Usina faz grande falta. “É uma tristeza aquele espaço estar fechado, inativo. Fiz lá grandes produções e com longas temporadas. Todas lotadas, pois apesar da dificuldade de acesso que obriga longas caminhadas ou acesso de carro, ainda assim não havia problema de falta de público”, comenta. Segundo o diretor, a cidade tem poucas opções de espaços.”Temos apenas um teatro Municipal cujo acesso ficou mais difícil quer pela dificuldade de agenda, quer pela dificuldade econômica. Os demais teatros são particulares como o Sesi, Sesc e Fundec. Então sobram pouquíssimas opções como o auditório Pedro Salomão José (anexado à Escola Municipal Getúlio Vargas) que é pequeno e com escassos recursos técnicos. A Usina é um desfalque imenso para todos nós e para o público”, comentou.

Alternativas

Por conta da cessão do contrato de locação da Usina Cultural, a Prefeitura de Sorocaba transformou os galpões da antiga Estrada de Ferro Sorocaba, em um novo espaço cultural da cidade. Segundo a Secretaria da Cultura (Secult) o denominado Barracão Cultural, que fica ao lado da Estação Ferroviária (antiga área de bagagem), junto à Casa do Turista foi uma alternativa ao fechamento da Usina. “O espaço abrigou recentemente uma das etapas do Frestas e vem sendo ocupado com uma agenda de atividades ligada a projetos da LINC (Lei de Incentivo à Cultura de Sorocaba), Núcleo de Formação Cultural e/ou atividades culturais locais”, diz a nota. Segundo a assessoria de imprensa, a utilização do espaço é gratuita, feita mediante agendamento.

Na época, o prefeito Antonio Carlos Pannunzio (PSDB) havia anunciado que existiam muitos espaços dentro da área da antiga EFS, que são de propriedade da União, mas que a Prefeitura pretendia conseguir uma cessão de uso e transformar o espaço em um novo pólo cultural. “Os galpões da Estação pertencem à União e estavam cedidos à Prefeitura de Sorocaba, que planejava utilizar o espaço para ações culturais. Porém, recentemente, o Instituto Federal requisitou os galpões para a União para a implantação de cursos técnicos no local”, informou em nota a assessoria.

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