Ainda sob uma grave epidemia de dengue, que já infectou mais 46 mil moradores e matou 19 desde janeiro, os sorocabanos podem enfrentar novos problemas no atendimento à saúde no município devido à chegada do clima mais frio e seco, que costuma causar doenças respiratórias nesta época do ano, principalmente em crianças e idosos. O alerta foi feito por vereadores e dirigentes sindicais durante audiência pública realizada na Câmara Municipal na tarde de ontem, dia 24.
A audiência foi proposta pelos vereadores petistas Izídio de Brito, que presidiu o evento; Carlos Leite e Francisco França. Entre os participantes estiveram Milton Sanches, presidente do Sinsaúde e membro do Conselho Municipal de Saúde; Manuel Francisco Filho, diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, além de representantes de outras entidades, líderes comunitários e munícipes.
O secretário municipal de Saúde, Francisco Antônio Fernandes, foi convidado pra participar do debate, mas não compareceu, o que despertou críticas de vereadores e lideranças sociais presentes.
Izídio afirmou os números oficiais da dengue na cidade, 46.093 casos em menos de quatro meses, ainda estão abaixo da realidade. “Muita gente faz o tratamento por si só e acaba não entrando nesses números”, afirmou.
Para o vereador, mesmo com muitos moradores correndo riscos ao se automedicar, todas as unidades de saúde estão superlotadas, tanto na esfera pública como na particular. Na avaliação dele, o problema tende a se agravar com as mudanças climáticas do outono (21 de março a 21 de junho) e do inverno (21 de junho a 23 de setembro).
Ainda segundo o vereador, a falta de investimentos da prefeitura durante muitos anos, inclusive na contratação de profissionais para a área de saúde, está na raiz dos problemas enfrentados pela população atualmente.
Terceirização à vista
O diretor do Sindicato dos Servidores, Manuel Filho, concordou com a análise de Izídio e disse o governo de Sorocaba parece ter a intenção de preparar terreno para a terceirização da saúde na cidade. “Há dois desafios que a prefeitura se nega a enfrentar, contratação e gestão da saúde. Talvez seja intenção de sucatear para caminhar para terceirização. Essa não é a saída, pelo contrário, é o aprofundamento do problema”, denunciou.
O antecessor do prefeito Antônio Carlos Pannunzio e seu colega de partido, Vitor Lippi (PSDB), hoje deputado federal, votou a favor do Projeto de Lei 4330, que amplia a terceirização em todos os setores, inclusive nos serviços públicos.
Manuel explicou que o sindicato realizou estudos sobre os problemas da saúde na cidade e concluiu que o município opera com apenas dois terços dos profissionais necessários para a área. De acordo com ele, somente no setor de medicina, seria necessário contratar 434 médicos a mais para atender à demanda dos 637 mil habitantes de Sorocaba.
Doenças típicas da estação
Milton Sanches complementou a crítica de Manuel e afirmou haver falta de profissionais de saúde não somente na área pública, mas também nos estabelecimentos particulares, que estão lotados devido ao grande número de conveniados em planos de saúde.
Milton também reforçou o alerta a respeito dos problemas de saúde típicos das estações outono e inverno. “A dengue já está instalada, mas temos que cuidar de outras situações”.
Segundo a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, os atendimentos à saúde nesta época do ano, por causa de problemas respiratórios, aumentam em pelo menos 40%. Entre as doenças mais comuns do período estão gripe, resfriado, asma, bronquite e pneumonia, além de moléstias ainda mais preocupantes, como meningite e gripe suína (H1N1).
Após acompanhar a explanação de participantes, o vereador Carlos Leite desabafou: “Estamos literalmente no fundo do poço. Com a mobilização da sociedade e de lideranças espero que a gente encontre um novo caminho para a saúde na cidade”, concluiu.
Providências
No final da audiência, o vereador Izídio afirmou que será elaborado um relatório sobre o teor do encontro, com as reivindicações e recomendações nele apresentadas. Esse documento será entregue formalmente ao governo municipal, “visto que ele se recusou a participar deste produtivo debate”, ressaltou Izídio.
Izídio não descarta medidas judiciais, caso a prefeitura não responda às questões expostas no relatório. “Precisamos analisar possibilidades jurídicas, talvez uma ação cautelar para que o prefeito tome uma providência”, explicou.
O presidente da audiência também sugeriu unir entidades representativas, dos setores público e privado; como sindicatos, associações e sociedades de classe da área da saúde, para fazer um levantamento completo das estruturas de saúde na cidade e suas deficiências. “Mas isso é uma coisa para ser melhor discutida, pois pode durar meses para coletar todos os dados”, ponderou.