A Secretaria de Saúde confirmou a primeira morte por dengue em Sorocaba. A vítima foi uma mulher de 57 anos, que faleceu na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa com fenômenos hemorrágicos. Quatro óbitos estão sendo investigados, sendo que dois deles já tiveram sorologia positiva pelo laboratório municipal – tiveram diagnóstico de dengue – e aguardam parecer final do Instituto Adolfo Lutz. Os outros dois, mesmo não tendo sido confirmados pelo exame feito na cidade, tiveram amostras encaminhadas para análise na capital devido aos sintomas apresentados pelos pacientes. Os casos de dengue em Sorocaba aumentaram 64% no período de uma semana, passando de 1.476 para 2.424 o número de pessoas que tiveram a contaminação pela doença confirmada. Precisaram de internação 3% deles, 75 pacientes, cinco em UTI.
Há casos de dengue registrados em todas as regiões da cidade, porém alguns bairros estão em situação mais preocupante. Vila Nova Sorocaba (319 casos) e Nova Esperança (236 casos), juntos, contabilizam 23% dos diagnósticos. Dentre as regiões que merecem atenção estão Vila Hortência e Barcelona (estes citados pela primeira vez com grande volume de casos, 134 e 171, respectivamente), Vila Angélica (181), Lopes de Oliveira (175), Mineirão (106) e Vila Santana (104). “Há uma necessidade de mobilização das pessoas que moram nesses bairros, pois o número de casos é crescente. Parou a chuva, temos que eliminar criadouros.”
Do total de casos confirmados de dengue em Sorocaba, 2.069 foram diagnosticados por meio de exames de sangue e 355 em avaliação do estado clínico e sintomas do paciente. O montante de testes laboratoriais feitos é maior que o esquema de amostragem anunciado pela Prefeitura, de um em cada dez doentes. “Os diagnósticos por amostragem estão sendo feitos em horários de pico de atendimento. Ainda está sendo possível coletar os exames de quase todo mundo”, comentou o secretário da Saúde, o médico Francisco Antonio Fernandes.
Para agilizar esse trabalho, já funciona, desde o último sábado, um serviço de realização de hemogramas na UPH Zona Norte, que concentra as coletas feitas em pacientes daquela unidade, da Zona Oeste e dos pronto-atendimentos do Éden, Laranjeiras e Brigadeiro Tobias. “Esses testes de dengue não se misturam com os de outros pacientes.” Fernandes também ressalta que foi feito um reforço no número de profissionais para recepção dos pacientes com sintomas de dengue. “Estes estão sendo separados dos demais para atendimento.” Para apoio a estes serviços e também ao trabalho de rua, de controle de criadouros dos mosquitos aedes aegypti, 50% dos funcionários selecionados em esquema de contratação emergencial foram chamados para o trabalho. De acordo com Fernandes, as vagas de médicos, que ficaram abertas, já foram preenchidas.
O Ministério da Saúde também divulgou o primeiro boletim epidemiológico de 2015 sobre as notificações de dengue pelo País, referente à semana epidemiológica 4. Foram registrados 40.916 casos, 57% mais que o total de 2014. Destes, 22.636 foram na região sudeste (55% do total do Brasil), dos quais 78% no Estado de São Paulo. “Isso deve estar acontecendo pela qualidade de atendimento na região sudeste ser muito melhor que no Brasil inteiro”, disse o secretário. Naquele momento do levantamento, que aponta os números contabilizados até 31 de janeiro, Sorocaba aparecia com 912 casos, que representavam 5,2% das notificações do Estado.
Prefeitura prepara “Dia D” para sábado
O secretário de Saúde Francisco Antonio Fernandes confirmou que deve ser iniciado, na próxima semana, um trabalho mais amplo de nebulização pela cidade, a fim de eliminar os mosquitos aedes aegypti, transmissores da dengue. A Prefeitura já efetuou a compra de três nebulizadores de grande porte, que devem ser entregues até amanhã e serão instalados em veículos que percorrerão as ruas despejando o inseticida. Segundo o secretário, a população será avisada com antecedência sobre o trabalho, que deve ser iniciado nas regiões onde há mais casos da doença.
No próximo sábado, dia 21, as equipes da Prefeitura também realizarão um Dia D de combate à dengue na cidade. Equipes de servidores públicos municipais estarão espalhadas em ao menos 54 pontos estratégicos da cidade para orientar sobre os cuidados e medidas necessárias para a eliminação de criadouros. Haverá também uma força-tarefa nos bairros onde o estado é mais crítico, inclusive com visita às casas. A ação acontecerá das 9h às 13h se não chover forte – e deve se repetir em outras datas futuras. Segundo Fernandes, os trabalhos nos bairros continuam e a chuva, por vezes, tem atrapalhado a atuação dos agentes da Zoonoses. “Nestes dias a receptividade é ruim, as pessoas dificilmente abrem as portas de casas. Então, temos que suspender o trabalho e voltar quando a chuva passa. O dia ideal para olhar e ver onde pode haver acúmulo de água é o dia seco.”
Unidade de hidratação
Segundo o secretário de saúde, Sorocaba ainda não deve criar unidades específicas para hidratação de pacientes por meio de soro por via intravenosa – uma das principais medidas para tratamento dos doentes de dengue. Fernandes conta que no último fim de semana um esquema piloto de ponto de hidratação funcionou na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Fiori e atendeu 131 casos suspeitos, com a coleta de 21 exames e 12 leitos de hidratação. “Na UPH da zona Norte temos 15 cadeiras para hidratação, fora os sete leitos para medicação rápida, sem relação com a dengue. E na UPH da zona Oeste temos espaço suficiente para instalação de cerca de 20 leitos, se necessário. Temos leito que devem ficar prontos na Santa Casa.”
O momento de decidir pela implantação ou não de um atendimento direcionado em algumas unidades vai depender, segundo o secretário da saúde, do volume e gravidade dos doentes. Ele explica que são quatro dos grupo de classificação de pacientes de dengue. O chamado grupo A, que ainda é a grande maioria em Sorocaba são de pessoas que estão com quadro de saúde sobre controle, necessitando apenas de hidratação e medicação para amenizar os sintomas. A hidratação por vezes é feita na unidade de saúde, inicialmente, e depois a pessoa é liberada para casa. Segundo Daniela Valentim, diretora da Área de Vigilância em Saúde, a rede municipal fornece aos pacientes um soro especial de rehidratação, em pó, que misturado na água garante mais eficiência na reposição dos líquidos do organismo. Em média, são sete dias de repouso. Já o grupo B é formado por pessoas que possuem alguma comorbidade – diabetes, hipertensão, idosos e crianças menores de dois anos. Estes (A e B), segundo o secretário da saúde, correspondem hoje a 95% dos casos da cidade.
O grupo C é formado por pessoas que apresentam quadro que necessita de hidratação imediata e precisam coletar sangue para hemograma. O grupo D inclui pacientes com sintomas que necessitam de internação, às vezes na UTI. “Terça-feira de manhã, na UPH da zona Norte, por exemplo, ocupamos dois dos 15 leitos com pacientes de dengue.” Fernandes também destaca que, aparentemente, se atingiu uma estabilização do volume de atendimentos nas unidades de saúde. “O volume de atendimento tem se repetido nos últimos três dias. Parece que estamos chegando num platô de atendimento dos casos de dengue.”
Gastos com combate podem somar R$ 5 mi
A expectativa da Secretaria de Saúde é de que o período de maior incidência da dengue em Sorocaba perdure até junho deste ano. Até lá, a Prefeitura estima que pode gastar cerca de R$ 5 milhões com as ações para o combate da doença na cidade. Hoje, o custo para ações contra a dengue na cidade gira em torno de R$ 500 mil mensais. Esse montante, segundo o secretário, está sendo gasto com a contratação de mais profissionais de saúde, pagamentos de horas extras, da realização dos exames e compra de equipamentos (como os nebulizadores). “Até o momento recebemos um recurso federal de aproximadamente R$ 230 mil. O restante é recurso municipal.”
O montante de recursos leva em cota a expectativa de que o número de casos tende a aumentar. “Temos mais de três meses pela frente, se continuarmos com o mesmo número de casos crescendo, vamos chegar, no mínimo, a 15 mil”, disse o secretário. Fernandes mantém a previsão de que até 60 mil pessoas podem ser contaminadas pela dengue em Sorocaba – levando-se em conta estimativas estatísticas. Porém, admitiu que acredita que, de fato, a doença deve atingir cerca de 30 mil sorocabanos até o final de seu ciclo.