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Direitos Humanos

Novos depoentes são ouvidos na Comissão Municipal da Verdade

Bonadio lembrou que nem mesmo a Câmara Municipal foi poupada, com muitos títulos que não puderam ser entregues, além dos parlamentares sorocabanos cassados pelo Regime Militar no país

Imprensa SMetal
Assessoria Câmara Municpal de Sorocaba

A Comissão Municipal da Verdade “Alexandre Vannucchi Leme” realizou na manhã desta segunda-feira, 2, no plenário da Câmara Municipal, a segunda rodada de depoimentos quando foram ouvidos o professor Miguel Trujillo, que foi preso político, e o jornalista e historiador sorocabano Geraldo Bonadio.

A Comissão da Verdade, de Sorocaba, que debate temas relacionados ao período em que o Brasil vivenciou o regime militar (de 1964 a 1985), é presidida pelo vereador Izídio de Brito (PT) e tem como membros o relator dos trabalhos Anselmo Neto (PP) e os vereadores Saulo do Afro Art’s (PRP) e Neusa Maldonado (PSDB). Além de Izídio e Neto, participaram da oitiva o vereador Pastor Apolo (PSB) e o psicanalista e professor de filosofia Daniel Lopes.

Na última semana, foram ouvidos pela Comissão os primeiros depoentes: professor Aldo Vannucchi, o ex-vereador Oswaldo Noce, o ex-ferroviário sorocabano e militante da ALN Francisco Gomes, o Chico Gomes. Todos os depoimentos colhidos serão gravados, transcritos e entregues à Comissão Nacional da Verdade e também a instituições e bibliotecas da região, onde o conteúdo ficará à disposição da população.

Depoimentos: O presidente da Academia Sorocabana de Letras, Geraldo Bonadio, foi o primeiro a ser ouvido. O historiador iniciou sua oitiva falando sobre o momento histórico durante a ditadura e fazendo ligações com o presente, além de relatar o processo de redemocratização.

Sobre o período em Sorocaba, lembrou a implantação das faculdades na cidade. Do ponto de vista ideológico, destacou a necessidade de um estudo aprofundado do processo de constituição e expansão do Partido Comunista em Sorocaba, durante o Estado Novo, que chega à cidade através da Agencia Nacional Libertadora, por sua força eleitoral local. Também ressaltou que havia uma divisão, não apenas política, mas também em instituições como a Igreja.

Bonadio lembrou que nem mesmo a Câmara Municipal foi poupada, com muitos títulos que não puderam ser entregues, além dos parlamentares sorocabanos cassados pelo Regime Militar nas esferas estadual e federal. Na atividade jornalística, afirmou que não houve censura imediata e lembrou ainda a invasão da sede do Partido Comunista na Rua da Penha.

Daniel Lopes quis saber se Geraldo Bonadio tinha conhecimento dos delegados do DOI-CODI que teriam participado da “Semana da Liberdade”, promovida pelo Gabinete de Leitura, mas o historiador afirmou que soube da presença dos censores, mas não tem os nomes – sendo um dos nomes entregue pelo próximo depoente.

Preso político: Dando continuidade, o professor Miguel Trujillo deu seu depoimento. Ex-preso político, o militante foi torturado pela ditadura e lembrou alguns companheiros que lutaram junto a ele pela liberdade, citando nominalmente cada um deles.

Em seguida, contextualizou o período por ele vivido, desde o início de sua militância, cujo primeiro ato foi sua luta contra a ditadura, implantada quando tinha apenas 11 anos, destacando a influência do pai, mestre de obras na Estrada de Ferro Sorocabana. “Adquiri consciência política muito cedo. Meu pai me ensinou todos os conceitos”, iniciou, contextualizando, em seguida, o cenário nacional no momento do golpe e sobre as reformas de base que poderiam ter sido feitas e que mudariam a realidade do país, como opinou.

Militou no Partido comunista Brasileiro – PCB, que optou pela luta de massas, uma ampla frente democrática através de greves, manifestações e participando do processo eleitoral, criticando a luta armada que, afirmou, “foi um caminhão equivocado e ingênuo, servindo de desculpa para os militares reprimirem ainda mais o povo brasileiro”. Trujillo também disse que a sociedade, instituições e políticos colaboraram com a ditadura. Também ressaltou a importância da Comissão da Verdade.

Sobre as prisões, o militante lembrou que foram presos dirigentes do Partido Comunista em Sorocaba, que através da tortura, entregaram nomes para a prisão de mais uma leva, e outra, onde foi incluído. Com 22 anos, Trujillo trabalhava com a juventude comunista e do MDB em Sorocaba. Miguel Trujillo deu detalhes de sua prisão e dos 15 dias passados no DOI-CODI, incluindo as práticas de tortura utilizadas. Após esse período, foi encaminhado ao Dops, onde ficou incomunicável, seguindo depois para o presídio do Hipódromo. O depoente falou do grau de crueldade dos torturadores da época, lamentando que muitos continuem livres ainda hoje.

Trujillo sugeriu que a Comissão da Verdade levante os delegados e agentes do Dops em Sorocaba na época para que sejam procurados para dar depoimentos e entrem nos relatórios, citando, inclusive, alguns nomes. Em resposta a Daniel Lopes, falou sobre a participação de Alexandre Vannucchi Leme durante a ditadura e citou os nomes dos sorocabanos que foram torturados juntos a ele.

Diante dos nomes citados, o presidente Izídio de Brito anunciou que a Comissão deverá se reunir para definir a estratégia de chamamento de novos depoentes e também abrir a possibilidade do contraditório.

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