Uma audiência pública na Câmara Municipal de Sorocaba nesta sexta-feira, dia 28, às 9h, vai lembrar os 50 anos do golpe civil-militar no Brasil e debater as consequências da repressão na vida de vários sorocabanos. O evento será a primeira atividade da Comissão Municipal da Verdade, instalada este mês e presidida pelo vereador Izídio de Brito (PT).
A audiência contará com a participação do professor Aldo Vannucchi, que na época da ditadura era padre e foi perseguido pelo regime repressor. Ele também é tio do estudante Alexandre Vannucchi Leme, morto nos porões da ditadura em 1973 e um dos símbolos da luta pela liberdade no Brasil daquele período.
O sorocabano Francisco Gomes, ex-ferroviário, é outra vítima da repressão que confirmou presença na audiência. Chico Gomes, como é conhecido, era militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e teve que fugir do país para não ser preso. Ficou exilado por cerca de 15 anos.
Também está confirmada a participação da deputada Iara Bernardi (PT), uma das criadoras do Comitê Brasileiro de Anistia (CBA) em Sorocaba, que tinha como objetivo, no final dos anos 70, defender o fim da perseguição do governo militar aos cidadãos que se opunham ao regime e a volta dos exilados ao Brasil.
Outras presenças
Outros convidados que vão contribuir para o debates são a jornalista Fernanda Ikedo, autora do livro “Ditadura e Repressão em Sorocaba” e do videodocumentário “Porque Lutamos!”, que tratam de sorocabanos perseguidos, torturados ou mortos durante o regime de exceção; e o deputado estadual Hamilton Pereira (PT), dirigente sindical metalúrgico na década de 80.
Estava prevista ainda a presença de Miguel Trujilo Filho, professor de história e ex-integrante do Partido Comunista, mas ele cancelou sua participação nesta quinta devido a uma consulta médica no horário do debate.
Além de Izídio na presidência, a Comissão Municipal da Verdade é composta pelos vereadores Anselmo Neto (PP), relator; Saulo do Afro Arts (PRP) e Neusa Maldonado (PSDB).
A audiência será aberta ao público e terá transmissão ao vivo pela TV Legislativa.
O Golpe
Em 1964, militares e membros da elite conservadora conspiraram contra o presidente João Goulart e o depuseram em 31 de março daquele ano. A acusação contra o presidente eleito eram as reformas de base que ele tentava implantar no Brasil, consideradas de tendência “esquerdista” pelos golpistas. No dia 1º de abril muitas cidades brasileiras amanheceram com veículos militares transitando nas ruas, impondo aos cidadãos, através do medo, a aceitação do novo regime.
Na sequência, o governo militar decretou vários atos institucionais que eliminaram direitos civis, instalaram a censura em veículos de comunicação, obras artísticas e atividades culturais; fecharam parlamentos; restringiram a liberdade de organização e manifestação popular; iniciaram atos de perseguição, tortura e morte de opositores da ditadura.
Os militares só deixaram o poder, institucionalmente, em 1985, com a eleição indireta de José Sarney por um colégio eleitoral. A primeira eleição direta para presidente da República aconteceu somente em 1989, duas décadas e meia depois do golpe.