Busca
Busca
Reforma Política

Reforma política não anda e diminui expectativas de mudanças para 2014

Faltando apenas 24 dias para que possa entrar em vigor qualquer alteração político-partidária com validade para as próximas eleições, Câmara e Senado nada aprovaram sobre o tema

Rede Brasil Atual
Montagem RBA/ Fotos arquivo RBA
Viana e Jucá apresentaram propostas, mas Dilma tem a preferência pela PDL que teve 188 assinaturas, no dia 28/8

Viana e Jucá apresentaram propostas, mas Dilma tem a preferência pela PDL que teve 188 assinaturas, no dia 28/8

A aprovação de uma reforma política mediante consulta popular e com validade já para 2014, como propôs o Palácio do Planalto, dificilmente irá se concretizar. Deputados e senadores teriam 24 dias para que alguma matéria legislativa com mudanças de regras percorra um longo caminho entre o nascedouro nas comissões técnicas e a aprovação nos plenários das duas Casas para que possa entrar em vigor um ano antes das eleições do próximo ano. Pouca gente considera possível todos esses trâmites acontecerem até 2 de outubro. O sentimento presente é de que o pedido da presidenta Dilma Rousseff não foi ouvido.

Alguns parlamentares, que atuam em várias frentes de formulação de ideias que possam alterar o sistema eleitoral do país, ainda resistem a formalizar o desânimo. Mas a própria diversidade de propostas em andamento sinaliza, em vez de uma concentração, uma desagregação de esforços capazes de surtir efeito prático antes dos pleitos de 2016 ou 2018.

É o caso, por exemplo, do Grupo Técnico da Reforma Política da Câmara, coordenado pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). O grupo aprovou na quarta-feira (5), por exemplo, o final da reeleição para os cargos de prefeitos, governadores e presidente da República na proposta a ser elaborada pela Casa. A reeleição, entretanto, nem está entre as prioridades defendidas pelos movimentos sociais e de entidades da sociedade civil, que há anos empunham bandeiras como o financiamento exclusivamente público de campanhas, o voto em lista e a ampliação dos canais de democracia participativa nas decisões importantes para os rumos do país.

Insatisfeitos com o ritmo de trabalho desse grupo, integrantes do PT, PCdoB, PDT e PSB apresentaram uma Proposta de Decreto Legislativo (PDL) propondo a realização de um plebiscito. A proposta – que tem destaque para o fim do financiamento privado -conseguiu número de assinaturas suficientes para ser apresentado à mesa diretora na última semana. Em seu pronunciamento em cadeia nacional, na sexta-feira (6), a presidenta Dilma Rousseff manifestou claramente a preferência por essa solução.

“O Pacto da Reforma Política e Combate à Corrupção acaba de dar um bom passo com a proposta de decreto legislativo para a realização do plebiscito. Queremos mais transparência, mais ética, honestidade e mais democracia. Isso passa, necessariamente, pela reforma das práticas políticas em todos os níveis”, declarou Dilma.

“Se os parlamentares tiverem juízo, trabalharemos para que haja esforço político nesses próximos dias e consigamos aprovar algumas regras que, embora pareçam pequenas, poderão representar um grande passo para o início desse trabalho importante que é o da reforma política”, afirmou o senador Jorge Viana (PT-AC), que lidera ele próprio uma terceira frente de trabalho com vistas a uma reforma.

Viana, um dos políticos da base do governo que tem criticado a morosidade do Congresso, diz ter esperança de que sejam feitas, ao menos, mudanças em relação ao gasto de campanhas ou que reduzam o custo e o financiamento feito por pessoas jurídicas aos candidatos.

“Está claro que o país precisa de uma reforma política. Isso é constatado por meio de pesquisas feitas junto à população e pelo desprestígio crescente da representação política no Brasil. Mas é lamentável que, apesar disso, algo que dependa exclusivamente de nós, deputados e senadores, não se concretize. Hoje em dia, campanha eleitoral é sinal de corrupção e se nada for feito, continuará sendo assim em 2014”, reclamou.

Várias frentes

Viana e outros deputados e senadores da base do governo tentam a aprovação, nas próximas semanas, de alguns itens de uma minirreforma eleitoral elaborada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) e de projetos de lei em separado que possam modificar pequenas regras. Mas as mudanças que esperam conseguir alcançar para o próximo ano – como tempo de propaganda eleitoral gratuita na TV e prazos referentes a convenções para homologação de candidaturas, assim como proibições ou reduções de circulação de carros de som – são pouco significativas diante das expectativas da sociedade.

Numa outra frente, tramitam três Projetos de Lei do Senado (PLS) de autoria de Jorge Viana que estavam engavetados e começaram a ter andamento na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Casa. O primeiro, trata do financiamento privado de campanha, propondo limites às doações feitas por pessoas jurídicas. Ainda que não venha a conseguir acabar com esse tipo de “patrocínio”, Viana acredita que por outro lado, o texto pode ao menos representar um avanço no sentido de minimizar esse tipo de prática.

O relatório foi apresentado esta semana pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) – designado para a relatoria -, mas foi paralisado outra vez mediante pedido de vista feito pelo senador Pedro Taques (PDT-MT). Outra proposta, que reduz gastos de campanha, foi distribuída para um relator: o senador Aloísio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Ficou faltando, da cota de Viana, um terceiro PLS, que tipifica como crime o caixa dois, que ainda não teve movimentação na CCJ. Mesmo assim, não se pode ter na conta que tais matérias estão “andando”. “A questão é só de vontade política e do empenho do Renan Calheiros (PMDB-AL, presidente do Senado) em acelerar a votação”, diz Jorge Viana.

Na Câmara dos Deputados, o líder do PT, José Guimarães (CE), vê o PDL sobre o plebiscito como uma proposta que “nasceu robusta”, ainda que tardia. “Com a proposta estamos dizendo à população que queremos a reforma política e que o povo seja ouvido, para que a reforma seja transformadora e dê substância aos partidos e ao sistema eleitoral brasileiro”, acentua, evitando expressar alguma expectativa de prazo para que seja votada e de data a ser estabelecida no texto para o plebiscito.

‘Não factível’

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) rebate as críticas de que o Congresso não tem se esforçado. “Desde que esse grupo foi criado já sabíamos que a reforma a ser proposta não poderia ser factível para 2014. Estamos fazendo o possível e estou muito satisfeito com a proximidade da conclusão dos trabalhos”, diz Vaccarezza, acusado por colegas da bancada governista de fazer corpo mole pelo plebiscito e pela reforma para o próximo ano.

Na reunião de hoje do grupo técnico, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) demonstrou preocupação com o prazo para a reforma e com a forma como a matéria está sendo tratada. Erundina destacou que, como o Congresso há tempos discute o tema de maneira inconclusiva, única alternativa de fazer as mudanças andar é a concretização de um projeto de iniciativa popular.

O Palácio do Planalto evita tocar oficialmente no assunto e destaca por meio da assessoria que a questão está a cargo do Congresso Nacional. Recentemente, o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, principal interlocutor da presidenta Dilma Rousseff durante o período das manifestações populares, limitou-se a afirmar que o governo cumpriu com o seu papel contribuindo para que a reforma fosse pautada – uma vez que ouviu vários setores a respeito e sugeriu a realização de plebiscito ao Congresso.

A forma cautelosa de abordar o assunto por parte do governo reflete de forma velada a mesma insatisfação externada pelo grupo de deputados e senadores que constantemente sobe ao plenário pedindo mais atenção para com a reforma, como Guimarães, Viana, Erundina ou a líder do PCdoB na Câmara, Mauela D’Avila (RS).

De acordo com o analista legislativo Antonio Augusto Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o grande problema de qualquer alteração político-partidária valer para 2014 é que temas solicitados por muitas pessoas e mesmo entidades da sociedade civil, como cláusulas de barreiras ou voto distrital, por exemplo, exigem alteração por meio de Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que requer a aprovação de três quintos do total de deputados e senadores.

Já matérias com trânsito teoricamente mais fácil, por exigirem menor quantidade de votos – como financiamento de campanha ou voto em lista fechada, que podem ser aprovadas por meio de Projeto de Lei (PL) – abrangem temas polêmicos e, por isso, também de difícil encaminhamento.

Queiroz acredita que as pequenas modificações a serem feitas para 2014, se forem efetivadas, em tese poderão favorecer quem está no exercício do mandato, o que dificulta a renovação da representação política. “Qualquer pequena mudança, se conseguirmos que aconteça e atualize um pouco as regras vigentes, já funcionará como um pontapé para nós nesse trabalho da reforma política”, pondera Jorge Viana.

tags
2014 2016 2018 Brasil dilma roussef eleições 2013 plebiscito Política PT reforma politica
VEJA
TAMBÉM