Em entrevista para o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), o mestre em psicologia social, Gustavo Rocha, afirma que participar de organizações coletivas, como os sindicatos, é uma forma de cuidar da saúde mental.
Para o psicólogo, ações comunitárias contribuem para que os trabalhadores compreendam que os problemas enfrentados em seu trabalho, na maioria das vezes, são questões coletivas e não individuais.
Ele critica o fato de que muitas empresas têm desenvolvido ambientes supostamente comunitários, com estratégias para simular uma experiência comunitária. “Isso é muito perverso, porque no fundo a iniciativa privada sabe que o ambiente público está cada vez mais privatizado”. O psicólogo explica que o sentimento de vergonha que predominou no século XX foi também privatizado nas últimas décadas, se transformando em culpa.
“Um sentimento que nos é incutido de incompetência, nos acompanha em forma de sentimento de insuficiência, de pressão”, afirma o psicólogo sobre como o trabalho afeta a saúde mental.
Espaços como a família, amigos, e a organização classista são espaços que podem aliviar esses sentimentos e coletivizar saídas. O psicólogo afirma que participar de espaços deliberativos ajuda a fazer com que o trabalhador se sinta parte dos processos políticos e se sinta protagonista de sua história.
“Um dos grandes sofrimentos de hoje em dia, de maneira geral, é sentir que perdemos as rédeas de tudo. Então, resgatar o protagonismo e algum grau de autonomia dos sujeitos é fundamental”, afirma Rocha.
O psicólogo ainda complementa dizendo que outra vantagem da participação no movimento sindical é a identificação gerada por meio das pautas, amenizando a tendência a se comparar e diferenciar do outro.
Saúde mental no trabalho
Uma pesquisa da Infojobs divulgada recentemente aponta que 90% dos profissionais brasileiros consideram trocar de emprego por motivos de saúde mental, satisfação ou felicidade no trabalho, de acordo com pesquisa.
Em relação às medidas empresariais para lidar com temas de saúde mental, 71% dos profissionais afirmaram que em seu local de trabalho não há ações ou suporte relacionados ao tema.
Para o vice-presidente do SMetal e secretário de saúde do trabalhador da CUT-SP, Valdeci Henrique da Silva (Verdinho), a luta por melhores condições de trabalho, que permitam que a saúde do trabalhador seja preservada, deve ser uma prioridade do movimento sindical.
“Lutamos muito para que os trabalhadores tenham um trabalho digno, que sejam respeitados e que tenham ajuda psicológica quando necessário”, afirma o vice-presidente.
O trabalho envolve todas as dimensões da vida dos trabalhadores. Afeta a programação diária, o sono, a forma de se alimentar, com quem se relaciona, entre outros elementos. “E por isso afeta tanto a saúde mental”, ressalta o psicólogo.
No capitalismo, as normas que determinam as relações sociais são baseadas na esteira de produção, conhecida pelos metalúrgicos.
“Uma produção absurdamente rápida, competitiva, que não permanece apenas no trabalho, mas [esses valores ]estão pulverizados onde estamos imersos”.
A Síndrome do Esgotamento Profissional, conhecida como Burnout, é classificada em três fases pelo psicólogo: uma sobrecarga emocional, causando estresse e irritabilidade; a despersonalização, quando a pessoa deixa de sentir; o enraizamento da culpa. Ele explica que a doença é uma condição de estresse profundamente intenso causado pelo trabalho.
Para o psicólogo, o diálogo e o acolhimento de quem está em sofrimento são muito importantes, mas não são suficientes. São necessárias escutas e acolhimentos qualificados e especializados.
“Muito embora a gente esteja tão acostumado com esse discurso de que a gente não tem consciência das coisas, nem sempre é um problema de consciência. Eu costumo brincar que, provavelmente, ninguém nunca vai deixar de fumar porque as caixas de cigarro indicam que pode causar câncer”.
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Dia Mundial da Saúde Mental
Celebrado nesta quinta-feira, 10, o Dia Mundial da Saúde Mental foi criado em 1992 pela Federação Mundial de Saúde Mental para chamar atenção sobre a necessidade de se cuidar da saúde mental e combater os preconceitos que acompanham quem desenvolve algum problema emocional e psicológico.
Confira o vídeo completo da entrevista
*Com informações da Agência Senado