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Conheça os malefícios dos jogos de azar popularizados na internet

Apesar da divulgação em massa, o 'Jogo do Tigrinho' é proibido no Brasil por ser considerado um jogo de azar

Imprensa SMetal
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Segundo a psicóloga Bruna Mayara Lopes, que atua no Ambulatório dos Transtornos de Impulso, do Hospital das Clínicas de São Paulo, os jogos de azar podem levar à dependência.

O popularmente conhecido como ‘Jogo do Tigrinho’ ganhou notoriedade no Brasil devido a relatos de pessoas que perderam dinheiro nos aplicativos e influenciadores envolvidos na divulgação do jogo ilegal.

A popularidade do jogo, promovido amplamente no WhatsApp e Instagram, trouxe à tona diversas questões legais e sociais, principalmente porque muitos usuários são atraídos pelas promessas de ganhos fáceis, porém, acabam por enfrentar perdas financeiras significativas.

Apesar da divulgação em massa, o jogo é proibido no Brasil por ser considerado um jogo de azar. Esse contexto apresentou para justiça brasileira um grande desafio: responsabilizar proprietários desses aplicativos de aposta online.

Uma operação policial, em novembro de 2023, resultou na prisão de quatro pessoas que recebiam dinheiro para promover a plataforma nas redes sociais. Estima-se que os pagamentos variavam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil por semana, em troca, os influenciadores tentavam atrair novos clientes com vídeos prometendo dinheiro fácil.

Como funciona

Fortune Tiger, conhecido como Jogo do Tigrinho, foi desenvolvido pela empresa Pocket Games Soft, com sede em Malta. Além desse, a empresa possui dezenas de outros jogos no formato de cassino online, como Chicky Run e Zombie Outbreak, por exemplo.

O cassino online funciona de maneira semelhante a uma máquina de caça-níqueis. Nesse sentido, o resultado depende puramente da sorte. Esse tipo de jogo é classificado como “jogo de azar” e é considerado ilegal no Brasil, com base na Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941).

O objetivo do jogo é que o jogador combine três figuras idênticas nas três linhas que aparecem na tela, parecido com o conceito das máquinas caça-níqueis.

Casos de perdas financeiras

A polícia investiga uma série de relatos indicando uma rede fraudulenta para atrair apostadoresEm entrevista ao Metrópoles, uma mulher de Maceió (AL) afirma ter perdido cerca de R$ 200 mil em apostas no “jogo do tigrinho”, o Fortune Tiger.

Ela relata ter sido incentivada por influenciadores digitais. Por este motivo, ela precisou se desfazer de bens pessoais para cobrir as perdas.

Dependência

Segundo a psicóloga Bruna Mayara Lopes, que atua no Ambulatório dos Transtornos de Impulso, do Hospital das Clínicas de São Paulo, os jogos de azar podem levar à dependência. “O jogo de aposta forma hábitos. Quanto mais a pessoa tem acesso a esse hábito, maior a chance dela ter uma dependência. A pessoa corre o risco de ter o transtorno do jogo, que é uma dependência em jogos de azar”, alerta.

Bruna explica que existem pessoas que são mais vulneráveis a esse transtorno. “Por exemplo, pessoas que têm TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) correm mais risco. O que faz com que a pessoa tenha essa dependência é o fácil acesso”. Esse fácil acesso pode ser identificado pela maior incidência de publicidade. “Quanto mais publicidade em relação às apostas esportivas, maior o risco da pessoa se interessar e procurar por jogos de apostas esportivas”.

A psiquiatra Raquel Takahashi, também pesquisadora do tema, explica que o transtorno do jogo está na mesma categoria das dependências químicas. “Inclusive, a gente segue o mesmo princípio [de diagnóstico e tratamento]”. Por isso, ela identifica que são necessárias mensagens insistentes de que o jogo pode causar dependência.

Já a psicóloga Bruna Mayara Lopes avalia que fatores socioeconômicos também influenciam com que a pessoa jogue mais. “Principalmente quando elas associam o jogo a alguns fatores, como renda extra. Na verdade, jogos de apostas não têm nada a ver com isso e deveria ser olhado como uma maneira de diversão apenas”.

A profissional adverte que outro fator que leva a pessoa a achar que está “tudo bem” é quando ela superestima a própria “habilidade”. “Ela acredita que, por conhecer, por exemplo, o time de futebol, pode acreditar que tem domínio sobre o jogo. Mas isso é uma crença que pode até levar a pessoa a criar essa dependência”, diz Bruna Lopes.

Sinais

Um dos sinais de dependência em sites de apostas pode ser, por exemplo, o comprometimento da própria renda nessa atividade. “Quando a pessoa começa a pedir empréstimo para poder fazer as apostas, quando ela começa a ter riscos na vida dela, ou começa a comprometer os relacionamentos pessoais ou o trabalho. Tudo pode ser evidência do risco”.

Nesse sentido, ela entende que, por mais que o jogo possa ter regulamentação e que só pessoas maiores de idade possam jogar, a internet potencializa riscos para jovens. “É importante que os adultos fiquem de olho nos adolescentes. Até porque, quanto mais cedo a pessoa começa a apostar, mais difícil serão as condições de retirar esse hábito da rotina”.

No ambulatório

A profissional explica que esses tipos de jogos de apostas envolvem aleatoriedade. Nesse sentido, a pessoa ficaria “viciada” em jogar cada vez mais para ver se ganha um prêmio. “No nosso ambulatório, mais de 40% dos atendimentos foram destinados a jogos de aposta esportiva. E a maioria é jogos de aposta online, no geral. A gente tem percebido isso cada vez pessoas mais em jovens”. Inclusive, antes, o ambulatório atendia mais pessoas mais velhas.

A psiquiatra Raquel Takahashi também avalia que o grupo de homens jovens é o mais vulnerável. “Pacientes que tiveram dependência por álcool e outras drogas têm um risco maior também”. A especialista explica que os jogos ativam um “circuito de recompensa”. “É uma área especial que está ligada exatamente à dependência química também”. Seria, então, uma dependência comportamental que poderia entrar como uma espécie de fuga de realidade.

*Com informações da Politize! e da Agência Brasil

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