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Entrevista

Valter Sanches: ‘Fazemos jornalismo para transformar a sociedade’

Confira a íntegra da entrevista realizada pela imprensa do SMetal no dia 3 de junho de 2015 com o secretário geral e diretor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Valter Sanches

Imprensa SMetal/Paulo Andrade
Foguinho/Imprensa SMetal

Valter Sanches é secretário geral e diretor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Democratização da mídia, futuro do jornal impresso, produção de conteúdo e a importância do Brasil ter um satélite público são alguns dos temas tratados pelo secretário geral e diretor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Valter Sanches, que também coordena o projeto Rede Brasil Atual.

Confira a entrevista realizada pela imprensa do SMetal no dia 3 de junho de 2015, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.

Por Paulo Andrade

Imprensa SMetal– O Sindicato dos Metalúrgicos hoje faz parte de uma rede de veículos de comunicação. Quais os veículos que compõem essa rede da qual o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC participa?

Valter Sanches – Nós temos a Tribuna Metalúrgica, que é um jornal sindical diário. Ele nem sempre foi diário, mas ele já é diário há muitos anos, desde 1972. Depois nós criamos, em 2006, o Jornal ABCD Maior, que é um jornal regional, tem hoje uma tiragem de 20 mil exemplares, é rodado três vezes por semana e é distribuído em 256 pontos da região. São 22 pontos de distribuição na rua, tipo, ponto de trajeto de ônibus, de terminais, ferroviários e tal. Duzentos e poucos pontos em displays, padarias, açougues, lojas de materiais de construção e tal.

Então, temos 20 mil de impressos [do ABCD Maior], mas ele tem outros 20 mil de acessos de IP único por dia na internet. Quer dizer, ele é muito mais visto pela internet do que pelo impresso. Ele, hoje, com exceção dos jornais regionais genéricos, que eu diria o Metro, é o mais lido da região. O Metro é um jornal que não é bem regional, por que é um jornal mundial, então você tem as matérias internacionais, tem uma redação nacional e eles tem uma “redaçãozinha” de 3 ou 4 pessoas pra colocar umas matérias da região.

Ele (o Metro) tem mais tiragem do que o ABCD Maior, mas em termos de jornal regional de fato, ele (o ABCD Maior) hoje é o mais relevante. Tem mais circulação que o Diário do Grande ABC, por exemplo, que tem 10 mil de tiragem. Ele [Diário do Grande ABC] é diário. O nosso impresso circula três vezes por semana. Mas na internet o nosso tem três vezes mais audiência que o deles.

SMetal – Neste caso, qual seria o papel do impresso, já que a audiência maior está no site?

Sanches – Hoje em dia, toda imprensa impressa está em decadência né? Não pelo veículo em si, mas ela está em decadência por que você vai pegar um jornal e a notícia já está velha. Por que já foi vista antes pela televisão, pela internet e principalmente agora pelos smartphones.

Agora, o jornal impresso, ele tem essa característica da pessoa. Como ele é um jornal gratuito e de âmbito regional, as pessoas pegam muito, por exemplo, a caminho do trabalho, no semáforo. Ou ela vai entrar numa padaria pra tomar um café, ela tem ali no display e tal; ou ela recebe no trem. Então, a pessoa recebe aquele veículo ali [o Diário do Grande ABC], e há exclusividade nas notícias. Por que onde você encontra notícias sobre a região do ABC? Num jornal regional. Então ele [jornal impresso] tem esse apelo ainda.

SMetal – Você acha que o impresso empresta mais credibilidade por ele ser materializado? Por ser palpável? As pessoas poderem pegar nele?

Sanches – Talvez para pessoas da nossa geração. Mas eu acho que para os jovens ele já não tem mais relevância. Agora, é o que eu falei, é a exclusividade do impresso que conta. Tem gente sem internet. Tem internet ainda pré-paga, né? Ela depende do Wi-fi. Isso dificulta o acesso digital. Aí [o impresso] é uma opção.

O ABCD Maior, apesar de tudo, mesmo na versão impressa, é um jornal que cresce. Ele até demandaria ser diário, mas a gente decidiu que não vale a pena, que não é necessário.

SMetal – E os projetos de expansão da rede, como estão?

Sanches – Em 2007 nós começamos a Revista do Brasil, que o Sindicato de Sorocaba também faz parte, participou da plataforma que lançou essa mídia. O projeto dela foi lançado em um congresso da CUT estadual, que foi em Santos, e 36 entidades custearam e a Revista do Brasil.

Hoje a revista tem uma tiragem de 300 mil exemplares, uma vez por mês, basicamente para a base daqueles 36 sindicatos. Dessa plataforma de redação de jornal saíram dois outros produtos. Um deles é a Rede Brasil Atual, que hoje praticamente virou uma agência de notícias dos movimentos sociais e da esquerda em geral, ganhou um caráter bem mais amplo, e estamos com 500 mil acesos por mês de IP único.

Outro subproduto da Revista do Brasil foi a Rádio Brasil Atual, que produz o Jornal Brasil Atual. Ele já existia, mas foi mudando, ampliado. Era um jornal de rádio dos trabalhadores na CUT. Depois virou jornal dos bancários, até virar o Jornal Brasil Atual na rádio.

É um jornal da rádio, um rádio jornal. Ele foi migrando. O programa tinha um horário em uma rádio comercial, até a gente colocar no ar a nossa própria rádio. Então são esses dois subprodutos.

Em 2009 nós ganhamos todas as outorgas (concessão) das TVs e Rádios, embora algumas continuam tramitando no Congresso. Aí nós implantamos, em 2010, a TVT [TV dos Trabalhadores] analógica, em Mogi das Cruzes. Mas com plataforma de internet também.

Em 2012 implantamos as duas Rádios, em São Vicente e Mogi. Agora, no fim de 2014, colocamos a TVT digital no ar. Todos esses veículos se rebatem além do que a gente tem de mídia. O Broadcasting [transmissão], todos junto com internet. Nas outras plataformas, por exemplo, Rádio nós temos Soundcloud [plataforma online de publicação de áudio] Tune In (aplicativo para ouvir rádio), todos esses players de rádio web.

SMetal – Da última vez que nós conversamos com você, o Sindicato estava implantando uns aplicativos para celular. Já estão funcionando?

Sanches – Sim, já estão funcionando. Agora nós estamos para implantar – mas está demorando mais do que eu gostaria- um aplicativo para Smart TV. Estamos negociando com os cinco principais fabricantes de TV: Samsung, LG, Sony, Philips e Panasonic. O objetivo é implantar os aplicativos desde a fábrica. Quando a TV for conectada já vai estar com o aplicativo para as pessoas assistirem por streaming.

Você dribla também uma limitação geográfica que nós temos, porque a TVT aberta hoje está confinada à Grande São Paulo, em transmissão ao vivo. Nossos programas passam também Brasília, em 16 TVs comunitárias e tal, mas a geração dela está aqui em São Paulo e Mogi das Cruzes.

SMetal – Então vocês estão entrando em alguns canais pagos, por assinatura também?

Sanches – Sim, nós estamos na NET. No ABC e em Mogi eles são obrigados a nos carregar [por se tratar de uma TV local]. Mas estamos na NET também em São Paulo, Osasco e região e em Brasília. Ou seja, em Osasco, Brasília e São Paulo capital a gente paga o horário; e no ABC e Mogi eles são obrigados a nos carregar 24hrs.

SMetal – Eu me lembro uma época em que vocês estavam pra entrar na TVV, em Votorantim.

Sanches – Na verdade nós estivemos uma época lá. Foi porque fizemos acordo com a Associação dos Canais Comunitários do Estado de São Paulo, aí entrava a TVV. Mas nos desentendemos com eles [da Associação]. Eles não comprovavam isenção. Então acabamos saindo e fizemos acordo de emissora em emissora. Então, se você tem a ponte lá do pessoal de Votorantim, nós temos interesse.

SMetal – Quem está com uns contatos bons, tanto a TVV quanto com a TV COM e outras TVs em Sorocaba é o Izídio de Brito, que chegou a fazer audiências públicas com as TV’s comunitárias.

Sanches – A gente tem interesse, porque outra coisa, Paulinho [Paulo Andrade], que nós estamos fazendo, um modelo que nós estamos correndo atrás e já está praticamente fechado, é um modelo de uma sucursal informal da TVT. Nós vamos fazer isso no Rio de Janeiro. Lá, no Rio, esse modelo está maduro. É lógico que nós, mesmo junto com os bancários de São Paulo e outros sindicatos, não temos dinheiro pra financiar uma expansão de retransmissoras pelo Brasil à fora.

O que nós vamos fazer? Qual é o modelo do Rio de janeiro? Nós temos lá 8 sindicatos que vão custear uma equipe, uma pequena produtora. Ela vai produzir uma matéria por dia, em média, para entrar no Jornal, que é o telejornal diário. O restante do conteúdo a gente fornece a partir da TVT do ABC.

Então, esse conteúdo compartilhado será exibido no Rio por uma TV comunitária.

Esse é o modelo que a gente quer fechar com o Rio. Nós temos uma meta de fazer isso em seis capitais, se possível até o fim deste ano. A ideia depois do Rio é ir para Recife, Belém, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. De repente Sorocaba, por exemplo, Votorantim e Sorocaba, com duas comunitárias, a gente faz um entendimento de os sindicatos custearem uma equipe mínima e a TVT pode ir pra lá.

De repente, esse arranjo de uma produtora, o sindicato mesmo pode ampliar, sei lá, na CUT regional. Esse projeto lá no Rio de Janeiro vai custar 20 mil reais por mês. Quer dizer, não é uma coisa de outro mundo, com 8 sindicatos custeando.

SMetal – Você falou em TVs comunitárias. Essas TVs comunitárias que você falou usam o nome TVT ou elas têm nomes diferentes em cada lugar?

Sanches – Não. São TVs de cada cidade. São 16 TVs, a maioria no estado de São Paulo. Tem duas que transmitem em rede na hora do jornal, que é a TV de Rio Claro, inclusive o presidente é o Marcelo Fiório, nosso parceiro da Sinergia [Sindicato dos Trabalhadores em Energia], da CUT estadual.

Então, a TV Cidade Livre, de Rio Claro, transmite o jornal ao vivo e a TV Comunitária de Brasília também transmite o jornal ao vivo em rede com a gente. Eles também transmitem outros programas nossos gravados. A gente grava a mídia, manda pra eles e eles compõem a grade de programação deles incluindo nossos programas.

São Carlos, por exemplo, tem a TV Educativa de São Carlos, que é uma TV municipal. Mesmo depois que o PT saiu da Prefeitura, a TV não quis deixar dos nossos programas porque gostam deles. Os programas têm público e tal. O prefeito é do PSDB, mas a TV continua mantendo os nossos programas lá.

SMetal – Aquela antena na Avenida Paulista que vocês pretendiam instalar? Aconteceu? Ela foi instalada?

Sanches – Sim. Isso é o que nós começamos em dezembro [de 2014]. Nós iniciamos a transmissão por HD (High Definition – alta definição), que foi quando finalizou todo o processo, a compra do transmissor e tal. Então nós começamos dia 22 de dezembro e está lá. Nossa antena está na torre da TV Aparecida. Tem cinco TVs lá naquela torre, Sport Interativo, Rede Vida, a TVT, além da Aparecida e outras mais.

SMetal – Eu me lembro que em uma outra conversa, por isso até que eu perguntei do jornal impresso da Rede Brasil Atual, você falou que a estratégia era: onde o ABCD Maior não chega aqui na região vocês têm uma versão impressa, um jornal Brasil Atual impresso. Continua assim?

Sanches – O Jornal Brasil Atual impresso é uma coisa que é meio franquia, são franquias. Não tem aqui na região, mas tem acho que em 8 cidades do litoral e do interior paulista. Alguns deles são bem regulares, sabe? É um jornal semanal, por exemplo, em Catanduva. Acho que em Rio Preto e Praia Grande também são semanais. Os outros às vezes têm às vezes não têm, é uma coisa meio sem periodicidade.

SMetal – Valter, vocês já fizeram as contas de qual o alcance de todos esses veículos juntos, em termos de audiência?

Sanches – O que a gente tem é assim: o público exposto. Nós sabemos que o público exposto da TV e da rádio é de 20 milhões, que é o alcance aqui da grande São Paulo. Agora, a audiência em si nós não temos como medir porque o Ibope custa 180 mil reais por mês pra você ter uma medição de audiência de broadcasting.

O que a gente mede é, por exemplo, nosso alcance nas redes sociais e internet. Isso dá pra medir. No caso da TV [pela internet] pode não ser muito acesso, mas a gente vê a evolução. Quando nós começamos, há 5 anos, a gente tinha uma média de 30 mil visualizações de vídeos por mês. Hoje nós estamos com 320 mil por mês. Quer dizer, cresceu bastante, né?

SMetal – E a mensagem? Como que você mensura se está dando certo em termos da mensagem? No sentido de se contrapor aquele eixo de Folha, Veja, Globo. Como você mensura isso?

Sanches – Entre nossos planos em curto prazo está assim: Nós devemos ter uma meta, até o aniversário de 5 anos da TVT, que é implantar mais dois programas. Na verdade vamos implantar mais 3 programas, é que dois são de produção própria e o outro é um parceiro que esta produzindo. Nós também vamos fazer uma campanha publicitária, tipo uma propaganda da existência da TV.

Sobre mensurar [o alcance da mensagem], eu diria um seguinte: esses 320 mil acessos de vídeos por mês que nós temos no youtube e no nosso site, a maior parte disso é de gente do nosso meio, são sindicatos, movimentos sociais, movimentos populares em geral, políticos. Mas tem também, lógico, uma parte que não é nenhum desses. Mas eu diria que a grande maioria é o nosso público cativo.

O nosso desafio é você transpor esse público; e isso a gente só está começando a partir de agora.

Nós estamos usando o Canal 8, que é o canal virtual, apesar de nossa outorga ser o canal 44, mas nós estamos usando o Canal 8. Nós vimos essa brecha e estamos usando. Então vira e mexe vem gente que está andando por aí e fala: Pô! Estava nas Casas Bahias e todas as TVs estavam ligadas no Canal 8. Aí fulano foi no consultório médico e na TV da recepção estava na TVT.

Essa abrangência de espectro nós só conseguimos agora, essa de pegar na Grande São Paulo inteira, por que antes a gente estava confinado em rádio difusão só lá para a região de Mogi das Cruzes.

Nós estamos ocupando uma lacuna pela novidade, por que as TVs são muito parecidas. Então tem uma TV diferente aqui. Está despertando. Têm pessoas que entram em contato com a gente e você vê que não são de movimentos sociais. E é exatamente esse público [novo] que a gente quer.

Para medir se isso está dando resultado vai ter um tempo ainda de divulgação e tal. O que a gente sabe é que do jeito como a gente é monitorado, às vezes você vê a Globo repercutindo coisas que nós fizemos. Então você vê que os caras estão nos monitorando né? Não somos cachorro morto.

SMetal – Qual é o tamanho hoje da programação diária? Quantas horas na TVT?

Sanches – Nossa programação é de 24 horas. A gente compõe a nossa grade com programas próprios, mas a maior parte da programação é da TV Brasil. A gente também tem convênio com a TV Câmara, TV Justiça e agora acabamos de fechar com a TV Escola, do MEC. Então a nossa programação é composta com esses programas.

A gente transmite algumas coisas em rede com a TV Brasil, por exemplo. Futebol, por exemplo. Agora mesmo eles estão transmitindo o campeonato mundial sub 20. Nós estamos transmitindo em rede com eles; série C, nós estamos transmitindo em rede com eles; o jornal da noite, das 21h, que é o Repórter Brasil, nós transmitimos em rede.

O resto da programação a gente grava e transmite em outros horários.

SMetal – Sobre a grade própria?

Sanches – A nossa grade própria deve estar hoje, de inédito, umas duas horas por dia. Com as reprises chega a umas 5h ou 6h diárias mais ou menos.

SMetal – O foco principal é o jornal [Seu Jornal]?

Sanches – Sim, o jornal é o carro chefe. É onde a gente se posiciona. Ele é diário e até agosto nós vamos passar ele em 45 minutos, porque hoje ele é meia hora. Estamos encorpando ele para ele chegar a 45 minutos. Ele é o carro chefe, até porque é partir dele que a gente fatia as matérias pra trabalhar em redes sociais.

SMetal – A gente falou no retorno de público em relação aos meios de comunicação. Eu queria te dizer que a Rede Brasil Atual, por exemplo, creio que ela seja referência no movimento sindical. A gente pode falar por Sorocaba, como que a gente utiliza essa ferramenta, como profissionais de comunicação. Nós usamos a Rede Brasil Atual porque em nosso site, todo dia, a gente quer colocar alguma coisa que está acontecendo em Brasília, em outros estados. Mesmo em São Paulo; e nós não temos equipe aqui. E a Rede tem equipe. Às vezes a gente repercute também opiniões dos blogs do Paulo Henrique Amorim, do Azenha, do Nassif.

Sanches – Mas [nos blogs] é tudo opinião.

SMetal – Sim, opinião! Nós queremos notícia, onde nós vamos achar notícias de acordo com o nosso ponto de vista? Na Rede Brasil Atual!

Sanches – Semana passada o Edinho Silva (ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) veio aqui visitar a TVT. Ele já tinha vindo, mas para participar de programas como deputado e presidente do PT, e agora veio como ministro.

A gente estava falando, olha, o problema é que fazia muito tempo que a Secom (Secretaria de Comunicação do governo federal) nos via como blogueiros. Nós não somos blogueiros! Tem blogs dentro da Rede Brasil Atual, tem blogueiros que escrevem lá, a Helena, por exemplo. Mas a gente é produção de conteúdo, reportagem, é jornalismo. E isso faz muita falta no nosso meio porque, tudo bem que é importante você ter opinião também, mas você tem que ter a informação, tem que ter a notícia.

SMetal – Senão, a gente fica na mão do Estadão, da Folha de São Paulo. E nós queremos informar como é que está tramitando o PLC da terceirização no Senado, de acordo com coberturas jornalísticas que tenham afinidade com a gente.

Sanches – Exatamente, primeiro você explica, dá a informação; e depois você dá a sua opinião.

SMetal – Se não tivesse a Rede Brasil Atual a gente ia ter que repercutir o Estadão, a Folha [de São Paulo]. Usar os mesmos veículos e fontes que muitos já usam. A ideia é usar fontes mais próxima para dar a notícia.

Sanches – E a rede Brasil Atual é pra isso mesmo. A ideia é essa, é ela se constituir em uma agência de notícias.

SMetal – Você comentou outro dia de um apoio cultural do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para as rádios comunitárias? Continua esse apoio? Quantas são?

Sanches – Tem cinco rádios comunitárias em São Bernardo para as quais a gente deu apoio desde a criação das associações para disputar as outorgas. Demos o apoio jurídico, o projeto técnico, a articulação política com o ministério das comunicações. Quando saíram às rádios nós doamos os equipamentos e fizemos os treinamentos das equipes.

O nosso apoio hoje é editorial e político. Tipo, a gente fez uma intermediação deles com a prefeitura, para que a prefeitura tivesse um programa lá com eles, porque são todos trabalhadores voluntários né? Precisam de dinheiro para, no mínimo, pagar o aluguel, telefone, internet e rede elétrica. Então nós estamos ajudando, a gente manda matérias, as vezes matérias da nossa rádio eles reproduzem lá. Então tem uma relação mais política. Não tem um apoio financeiro.

SMetal – Eu me lembro, Valter, que na inauguração da TVT o Lula disse uma coisa parecida com “Olha! A TV de vocês está ai. Agora, para ela ter audiência vocês vão ter que ter qualidade. E isso é com vocês, não é comigo”. Eu me lembro bem disso.

Sanches – Ele falou isso de novo agora quando a gente fez a cerimônia da TV digital. Ele falou a mesma coisa.

SMetal – Como é essa busca pela qualidade? Vocês acreditam que estão no caminho? Estão conseguindo?

Sanches – Eu acho que sim. A gente sempre tem um paralelo com a TV Brasil. Eu não sei você já teve a oportunidade de conhecer aqui em São Paulo ou lá em Brasília. Ela não tem o problema nosso, que é dinheiro, ter recurso, eles não têm esse problema. Só que eles não cuidam de coisas básicas, por exemplo, a questão da última milha, o sinal chegar em HD para o máximo de gente possível. Então, eles não se preocupam com isso.

Aqui em São Paulo, por exemplo, mesmo no canal HD deles, tem qualidade SD. Isso é uma coisa básica.

A nossa imagem é muito melhor, muito superior. Nós compramos um transmissor alemão, esperamos pra trazer e tal, então a nossa qualidade de imagem não perde para a Globo, não perde da Bandeirantes; e ela é melhor que a Record, melhor que a Gazeta, melhor que a Cultura e todas as outras.

As duas melhores são a Globo e nós. Digo sem falsa modéstia e, lógico, temos uma preocupação com a qualidade da programação. Eu sempre falo que, mesmo a gente buscando público, nós não escondemos quem nós somos. Toda vez que começa o jornal está lá “Este é um projeto de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dos bancários de São Paulo”. Nós não escondemos quem nós somos pra dar voz a movimentos sociais e tal, construir cidadania, educação e tal.

Só que nunca vocês vão ver matérias doutrinárias direcionadas em nossa TV.Mesmo quando vai falar de sindicatos, falam na terceira pessoa. O sindicato disse isso, isso e isso; ou o diretor disse isso… É informativo!

SMetal – Deixou o panfletarismo de lado?

Sanches – Sem panfletarismo. Porque o nosso objetivo, inclusive eu sempre lembro o pessoal: gente, tentem sempre ter uma orientação para que não fique uma coisa codificada, para que o cidadão comum possa entender o que é o sindicalismo. Porque o sindicalista fala sindicalês, não é? Aquele “discursinho” tudo marcadinho, direitinho, que um cidadão comum fala: pô, o que esse cara está falando?

Então a gente sempre pega a voz do trabalhador e não só do dirigente. Até mesmo quando vai pra uma pauta sobre o MTST [trabalhadores sem-teto], vai entrevistar quem está lá na marcha, não só a liderança. Pensamos sempre na questão da linguagem também. Você tem também que ter um padrão técnico porque senão ninguém mais volta [a assistir]. Então a gente está cuidando muito disso.

Agora nós vamos entrar com alguns programas novos, e eu acho que vai ser muito legal. Vão entrar quatro programas, um infantil; um que fala dos sarais da periferia, que mostra a arte da periferia e que não aparece em lugar nenhum. Só pra você ter uma ideia, na capital São Paulo tem 124 sarais de periferia. Isso não é mostrado em lugar nenhum. Ninguém tem nem ideia que isso existe e reúne milhares e milhares de pessoas todas as semanas. Então nós vamos ter um programa sobre isso.

Nós vamos fazer também um programa de auditório. Esse ainda nós vamos precisar captar dinheiro pra fazer, mas é um programa tipo do Serginho Groisman, do Altas Horas. Então, é aquele conceito. Mas assim, nós fizemos o piloto e ele é apresentado pelo Douglas Belchior.

Não sei se vocês sabem que ele tem um blog no site da Carta Capital, ele será o apresentador, o âncora, e assim alunos de 15 a 17 anos e de escola pública, gravado no CEU, na prefeitura.

A prefeitura de São Paulo está dando o apoio, a gente gravou no CEU da zona sul. Intercalado com música, tem uma DJ fixa, que fica fazendo som durante o programa. Tem Quiz, mas um Quiz educativo onde os alunos produzem vídeos antes de chegarem no programa, depois exibem lá e põem temas pra discutir com os moleques interagindo.

Esse piloto falou de maioridade penal, falou de cota, falou de sexualidade, de LGBT. Mas de forma leve com os meninos participando, depois que tiver o piloto eu mando pra vocês.

Tem uma diretora de escola na rede do estado aqui que é transexual. O nome social dela eu acho que é Luiza. É transexual e diretora de escola. E assim, ela discutindo e os alunos adoram ela. Ela fala com propriedade e tal, eu achei muito legal.

Mas é um programa caro, por causa de auditório, precisa de muita produção e tal.

SMetal – É um outro olhar que vocês estão dando pra cultura ou até mesmo para uma modalidade de coluna social?

Sanches – Qual é o nosso problema? É assim, nós temos um método tradicional de fazer as coisas, que é difícil do sindicato se reinventar no jeito com que ele se comunica. Então a gente sempre se comunica com a nossa base pela questão econômica, não é isso?

Basicamente é a contradição da capital de trabalho e a gente quer divisão de renda através de aumento real, de PLR (participação nos lucros e resultados) e tal…Emprego!

Mas vida das pessoas é permeada por um monte de outros assuntos, outros aspectos né? Então você quer se comunicar com a periferia e com jovens. Os jovens se chocam muito com os nossos modelos de comunicação, porque tem outras coisas que tem mais interesses pra eles.

Às vezes, para eles é mais importante ser respeitado pela polícia quando ele está passando na rua dele do que, sei lá, o aumento real daquele mês, não é?

Então esse aspecto eu acho que foge da “ossada” do sindicato. Então nós estamos tentando ver se a gente consegue por pra dentro da TV esses movimentos horizontais que estão acontecendo, a forma como a juventude está se organizando em outros movimentos, tipo, Levante Popular, Mídia Ninja, as casas de cultura, que é outro jeito de os jovens se organizarem; e a gente quer trazer isso pra dentro desse movimento para debater essas coisas, que são cheias de conteúdo.

O que eu sempre falo também é que nós não estamos fazendo televisão, rádio etc. para ganhar prêmio de jornalismo, pra ganhar prêmio Pulitzer, prêmio Esso, não é pra isso! É para transformar a sociedade. Agora, para isso nós vamos fazer um bom jornalismo, com boa qualidade, mas sem a falsa neutralidade.

SMetal – Tem lado né?

Sanches – Sim, tem lado, nítido, claro. Porém, de uma forma que dialogue e que não seja doutrinário.

SMetal -Quando a gente fala de todos esses veículos de comunicação, que eu sei que não envolve só o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tem vários sindicatos envolvidos no projeto, mas a gente esta falando no mercado de trabalho de qual tamanho para profissional de comunicação?

Sanches – Se a gente juntar tudo dá em torno de 150 profissionais. É uma média, né? Porque a gente está falando de rádio, TVT, ABCD Maior e Rede Brasil Atual. Todos eles juntos dá 150 pessoas no total.

SMetal – Quantos anos você esta nesse projeto de comunicação?

Sanches – 5 anos

SMetal – Qual a sua formação?

Sanches – Eu sou metalúrgico.

SMetal – Formação acadêmica, tem alguma?

Sanches – Eu sou Geógrafo de formação. Eu nunca exerci, mas sempre fui técnico em mecânica. Essa é minha profissão. Agora como eu tinha a experiência da CNM [Confederação Nacional dos Metalúrgicos, onde Valter foi responsável por relações internacionais, pela secretaria geral e pela comunicação], num período em que ela estava falida praticamente. Reerguer a CNM me deu certa experiência, por isso o sindicato me repatriou pra eu fazer parte da comunicação.

SMetal – Sei que na CNM uma de suas atribuições também era a comunicação. Então vamos contar esse tempo, 5 anos aqui no ABC e quanto tempo na CNM?

Sanches – É que lá não era minha função exclusiva, né? Era uma das coisas que eu fazia, mas também mais uns 5 anos.

SMetal – Nessa sua experiência, hoje, quais veículos alternativos, fora esses que a gente já citou, você considera que são importantes para se contrapor ao eixo de mídia tradicional?

Sanches – A gente tem alguns bons portais, inclusive pessoas com quem a gente tem cooperação. Hoje no campo da esquerda, por incrível que pareça, se você acompanhar é até de difícil de você chutar certo, mas quem são sites de esquerda que têm mais acesso? Você saberia dizer?

SMetal – Não, a gente até quer publicar isso na revista [Ponto de Fusão].

Sanches – Por incrível que pareça, é o Carta Maior; depois, Portal Fórum; e em terceiro estão o Paulo Henrique Amorim e o Diário do Centro do Mundo. São todos de opinião. O Renato Rovai [editor do portal Fórum] e o Diário do Centro do Mundo, do Kiko Nogueira e Paulo Nogueira, os irmãos; eles produzem um pouco de jornalismo, mas é mais opinião. Depois aparece Luís Nassif.

SMetal – E a Carta Capital?

Sanches – Carta Capital não é bem esquerda. No espectro atual da comunicação, eu diria: é esquerda! É que o Mino [Carta, idealizador e editor] é uma pessoa muito forte, uma figura muito forte, mas o veículo não é exatamente de esquerda.

SMetal – O que o sindicato tem feito para emplacar um projeto de lei de democratização da mídia?

Sanches – Nosso sindicato tem esses dois papéis. Enquanto filiado à CUT, estamos juntos com todo mundo na campanha. Só que a gente não pode ficar só vendendo terreno na lua, pra quando a gente conseguir chegar lá. A gente tem que construir coisa aqui mesmo.

Minha tarefa é muito mais construir esses veículos do que lutar pelo projeto de democratização. É lógico que a hora que houver a democratização vai facilitar minha vida também.

Uma das coisas que eu estava discutindo com o Edinho [Secretário de Comunicação] era a seguinte, eu disse: Poxa, Edinho! Como é que pode a TVT, até hoje, se juntar tudo que entrou de verba publicitária em cinco anos, para a rádio e para a TV, o que veio da Secom [Secretaria de Comunicação do governo], acho que não chegou a 100 mil reais… deve ter dado uns 80 mil em cinco anos.

A Globo recebe, por ano, 500 milhões em verbas publicitárias do governo. É aquela coisa que a gente fala, como é que pode o Jornal Nacional inteirinho destruindo a Petrobras e, chega na hora do intervalo, quem é o patrocinador? A Petrobras! Gasolina Podium e não sei o que, não sei quantos barris. Que sentido faz isso?

Se eu fizer um programa contra o alcoolismo, você acha que a Ambev vai patrocinar? Não faz sentido! E é isso que a gente tenta convencer o governo, sobre esse absurdo. Mas é lógico que os nossos esforços maiores são para construir os veículos de comunicação e, junto, participar da luta pela democratização.

SMetal – Por que essa dificuldade toda de convencer o governo? Não é só a Dilma? E o Lula? A divisão publicitária não era muito diferente…

Sanches – O Lula eu até entendo. Ele confessa de leve que ele errou por não ter comprado a briga. Mas, acredito que, na verdade, o Lula sentia que ele não precisava comprar essa briga talvez. O pau estava comendo, destruindo o governo…o que ele fazia? Um pronunciamento dele já ofuscava tudo. Quer dizer, ele acabava com a confusão com um pronunciamento oficial.

Agora, nós temos uma presidenta que não gosta e não sabe se comunicar. Aquilo que o Lula fazia era assim: a mídia gritava e gritava, ai ele fazia um pronunciamento e acabava. Ela (Dilma) não tem esse elemento, ela precisaria mais da lei de democratização da mídia do que o Lula. Então perdeu a chance de fazer no passado e agora está muito mais difícil, porque nesse Congresso Nacional que nós temos não vai passar nada.

O Eduardo Cunha falou textualmente: a proposta de democratização da mídia só passa por cima do meu cadáver. Falou com esses termos. Então, quer dizer, não vai passar. Não vai acontecer.

Eu tinha esperança. Falamos até com o Berzoini [Ricardo Berzoini, Ministro da Comunicação] depois que ele tomou posse. Eu acho que, em termos de alinhamento político ,a gente nunca esteve tão bem, essa dobradinha, juntos o ministério das comunicações e a Secom, os dois alinhados. Então eu tenho esperança que a gente vai comendo em bife o boi, entende?

Se saírem algumas coisinhas, tipo, a proibição da propriedade cruzada na comunicação; se a Secom começar a dar um “torniquete” financeiro nesses caras [deixando de investir tanto em propaganda na mídia de oposição] e começar a distribuir verba de forma mais justa; dar um incentivo maior para as TVs comunitárias, TVs regionais, eu acho que a gente tem uma chance de começar a mudar um pouco. Porque a lei inteira, como a gente queria, não vai passar, por mais que eu queira lutar, no Congresso atual não vai passar.

SMetal – O movimento [FNDC] já começou a discutir nesses termos? Por exemplo, pegar o projeto de lei, tirar algumas coisas de lá e tentar fazer passar em partes?

Sanches – Não. O movimento não discutiu porque alguns acham que é coisa menor você brigar por isso, pra aprovar partes do projeto.

SMetal – Corre-se o risco de acontecer igual a jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Sanches – Não é mesmo? A gente podia já ter chegado lá.

SMetal – Se fosse parcelado, gradativo.

Sanches – Sim. Se fosse gradativo já estaríamos em 40 horas semanais hoje. Lá atrás o pessoal não aceitou.

SMetal – Em resumo, você defende aceitar essas condições. Se destrinchar o projeto podem aprovar algumas coisas. É isso?

Sanches – Sim. O Berzoini está com uma linha muito boa. Por exemplo, ele falou: pô eu estou lutando aqui pelo satélite brasileiro. Ele luta para que novo satélite não entre no contingenciamento de recursos. Sabe por quê? Porque se entrar no contingenciamento de recursos não dá pra lançá-lo no primeiro semestre de 2016, que é a previsão. Esse satélite brasileiro é uma revolução. Porque, com a privatização das telecomunicações, privatizou-se os satélites. Então os satélites brasileiros hoje são do Carlos Slim (multibilionário mexicano do setor de telecomunicações).

Por isso que a NSA [Agência de Informações dos EUA] espiona a Dilma a hora que quer, porque o Brasil não tem satélite. Todos os segredos militares do Brasil passam por um satélite privado. Isso é um absurdo!

Esse satélite, além de permitir um salto tecnológico e de privacidade, de segredos e de tudo que é institucional brasileiro, inclusive militar, ele vai permitir universalizar a internet para o Brasil todo. Regiões como Amazonas, Centro Oeste, onde se tem uma internet muito difícil, vão ter um grande problema de comunicação resolvido. Esse satélite vai permitir chegar internet de alta velocidade pra todo o Brasil.

Quando acontecer isso, eu acho que a rádio difusão vai perder mesmo relevância em relação à internet. Na hora que tiver uma internet de alta velocidade, confiável, barata e universal, para quê você vai querer ligar na Globo? A maior parte das pessoas que moram em grandes centros, a televisão delas hoje é o Netflix.

Eu assisto TV por dever de ofício. Eu fico lá pra ver os golpes que estão sendo dados [contra o governo e movimentos sociais]. Mas quando eu quero entretenimento, ver filmes e tal, eu vejo a Netflix. Meus filhos mesmo não assistem nada de TV.

Eu diria que a democratização das comunicações, na prática, vai passar mais por ai, entendeu? É também viabilizar uma TV pública forte e de boa qualidade. Porque hoje a TV Brasil não exerce esse papel, pois ela é pouco conhecida do público. Pesquisas dizem que só 31% conhecem a TV Brasil, ou já ouviram falar. Então, o caminho para democratizar, na prática, é fortalecer a TV pública e fortalecer a internet, universalizar e baratear, e os movimentos e sindicatos terem bons veículos de comunicação. Eu acho que é por aí que vai.

Na internet todo mundo é japonês, entendeu? É mais ou menos todo mundo igual, em tese, nós e a Globo iguais. Estamos lutando com a mesma arma. Lógico que, você tendo mais dinheiro é mais fácil, mas a gente ganhou essa batalha da neutralidade da rede. Então, a hora que tiver essa neutralidade pra todo mundo, aí sim, eu acho que nós estamos bem.

SMetal – Valter, para finalizar, quem mais você considera que gera conteúdo, com esse mesmo olhar do movimento sindical da CUT e dos movimentos sociais, hoje no Brasil? Digo, conteúdo noticioso.

Sanches – Então, eu acho que a Carta Capital é uma que tem equipe de reportagem e tal. Eu acho que o Brasil 247 um pouco. Ele trabalha com as coisas bombásticas, ele pega uma coisa que está rolando ali e bum! Põe uma manchetona. Mas ele também produz um conteúdo, ele faz um pouco esse papel de reportagem, ele entrevista muita gente. Em Brasília eles são muito fortes.

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