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Saúde do trabalhador

Um em cada três casos de perda auditiva se deve ao ambiente de trabalho; veja como se prevenir

Setores de metalurgia, construção civil e agricultura são os que mais expõem trabalhadores a níveis elevados de pressão sonora, o que pode levar a uma perda auditiva progressiva e irreversível

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Dispositivos como abafadores de ruído e protetores auriculares são altamente eficazes, desde que utilizados corretamente.

A perda auditiva ocupacional é uma condição grave que afeta milhares de trabalhadores em todo o Brasil. Segundo a SBO (Sociedade Brasileira de Otologia), entre 30% a 35% dos casos de perda auditiva registrados no país são causados pela exposição prolongada a ruídos no ambiente de trabalho, tornando essa uma das principais preocupações de saúde ocupacional, especialmente nos setores de metalurgia, construção civil e agricultura.

Renan Moreno, médico do trabalho e diretor da Trabt Medicina e Segurança do Trabalho, explica que essa condição é resultado da exposição contínua a níveis elevados de pressão sonora, geralmente acima de 85 decibéis por oito horas diárias. “Esse tipo de perda auditiva é progressivo, irreversível e pode se manifestar nos primeiros cinco anos de atividade do trabalhador. Os sintomas iniciais, como zumbido nos ouvidos, dificuldades de concentração e alterações no padrão de sono, são muitas vezes ignorados até que a condição se agrave”.

Por isso, segundo Renan, o diagnóstico precoce para prevenir a progressão da condição é fundamental. “Os primeiros sinais de perda auditiva incluem dificuldade em entender conversas em ambientes ruidosos, a necessidade de aumentar o volume de dispositivos eletrônicos e a sensação de que as pessoas estão ‘murmurando’. Esses sintomas podem ser confundidos com fadiga ou estresse, mas quando persistem após a exposição ao ruído no trabalho, são indicadores claros de perda auditiva”, ressalta.

O Setembro Azul, mês dedicado à conscientização sobre a comunidade surda e as questões relacionadas à surdez, proporciona a possibilidade de promover ações sobre o tema nas empresas e indústrias, onde o risco é maior. “A proteção auditiva é fundamental para prevenir a perda auditiva ocupacional. Dispositivos como abafadores de ruído e protetores auriculares são altamente eficazes, desde que utilizados corretamente. E essa escolha do equipamento adequado deve ser baseada em uma avaliação de risco acústico, considerando o nível de ruído e a duração da exposição. Os empregadores devem consultar especialistas em segurança do trabalho para selecionar os dispositivos mais apropriados e treinar os trabalhadores para seu uso correto”, recomenda.

Atividade insalubre

A legislação brasileira, por meio da Norma Regulamentadora NR-15, classifica a exposição a níveis elevados de ruído como uma atividade insalubre, exigindo que os empregadores adotem medidas de proteção e controle. Caso a perda auditiva seja diagnosticada como relacionada ao trabalho, o trabalhador tem direito à indenização por danos materiais e morais, além de poder receber o benefício do auxílio-acidente do INSS. “É crucial que a perda auditiva seja corretamente documentada para que o trabalhador possa garantir seus direitos”, alerta Moreno.

O especialista explica ainda que o impacto da perda auditiva não tratada vai além da saúde do trabalhador, afetando também a produtividade e a segurança no ambiente de trabalho. “Trabalhadores com perda auditiva enfrentam dificuldades de comunicação, o que pode levar a erros, mal-entendidos e redução da eficiência. Além disso, a incapacidade de perceber sinais de alerta sonoros aumenta o risco de acidentes, colocando em perigo o trabalhador e seus colegas. Esse cenário pode resultar em maior rotatividade de funcionários, aumento dos custos com acidentes de trabalho e prejuízos financeiros para a empresa”.

Por isso, Renan reforça que exames audiométricos devem ser realizados periodicamente para avaliar o grau de perda auditiva. Para garantir que o diagnóstico seja corretamente registrado, o trabalhador deve notificar a empresa sobre os sintomas e apresentar os laudos médicos. A empresa, por sua vez, deve incluir essa informação nos registros do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) e no eSocial. Além disso, o trabalhador deve buscar orientação junto ao INSS para garantir o reconhecimento do diagnóstico e o acesso aos benefícios previdenciários.

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