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Direitos humanos

Trabalhadores haitianos vivem situação precária em Sorocaba

Comissão apura más-condições de trabalhadores haitianos em Sorocaba. Semana passada, uma mulher morreu, mas causa da morte é desconhecida pelo grupo. Vizinhos apontam situação precária em alojamento

Imprensa SMetal
Foguinho/Imprensa SMetal

Migrantes do Haiti enfrentam dificuldades em Sorocaba

“Que tipo de ajuda pode ter um homem que teve a sua mulher morta”, questiona um rapaz, desorientado e com bastante dificuldade de se comunicar em português. Preferindo não se identificar, ele faz parte de um grupo de nove haitianos, sendo seis adultos e três crianças, que dividem uma pequena casa no bairro Central Parque, zona oeste de Sorocaba. Segundo vizinhos, sem água, sem luz e com pagamento do aluguel atrasado, o grupo de imigrantes corre risco de ser despejado do imóvel a qualquer momento.

Há uma semana, a casa tinha dez habitantes. Segundo relatos dos vizinhos, uma moradora da casa, de 47 anos, morreu na última segunda-feira, dia 16, após passar mal. O comerciante José Everton Pereira, vizinho do imóvel, conta que três dias antes, na sexta-feira passada, dia 13, ao tomar conhecimento do estado de saúde da mulher, bastante doente, acionou o Samu. “Ela estava suando frio e com muita febre. Ela foi atendida, mas não sei para onde foi levada. Na segunda-feira à noite, veio a notícia de que ela tinha falecido. Ela foi enterrada como indigente”, relata. A causa da morte da mulher é desconhecida pelo marido e pelos vizinhos.

Sem conseguirem se comunicar em português ou inglês – eles falam francês e crioulo, idiomas oficiais do Haiti -, três homens que estavam na casa na tarde desta sexta-feira, dia 20, receberam visita de uma comissão, formada pelo vereador sorocabano Izídio de Brito e de dois assessores do deputado estadual Hamilton Pereira, que foi ao local para apurar a situação e oferecer ajuda. Demonstrando preocupação e timidez, os haitianos pediram para não ser fotografados e não quiseram se identificar.

Um dos homens relatou ter chegado de Porto Alegre há quatro dias, mas não revelou há quanto tempo desembarcou no Brasil. Outro, disse estar na cidade há dois meses, ainda sem emprego. “As outras pessoas da casa trabalham na construção [civil]”, afirmou um deles, desconhecendo nome da empreiteira contratante e seus responsáveis.

Preocupados com a situação de dificuldades pelas quais os haitianos estão passando, vizinhos do imóvel têm ajudado o grupo naquilo que podem e afirmam que a água e a luz do imóvel já foram cortadas por falta de pagamento. “A informação que a gente tem é de que uma empresa os contratou para trabalhar na construção de prédios, mas parou de pagar o aluguel do alojamento. É lamentável a situação deles. Já estavam sofrendo lá no Haiti, por causa do terremoto [ocorrido em 2010] e da guerra civil, aí ficam sofrendo aqui também”, acrescenta Pereira.

O comerciante conta que o grupo de haitianos vive no imóvel há pelo menos um ano e meio, mas, segundo ele, há muita rotatividade. “Eles passam um tempo aqui e depois vão para outro lado. Já chegou a morar mais de dez nessa mesma casa”, explica.

Medidas imediatas
Após a visita aos haitianos, o vereador Izídio disse que vai investigar imediatamente o hospital para o qual a mulher foi encaminhada, bem como a causa da morte. “Também estou acionando o Ministério do Trabalho para levantar mais informações sobre a empreiteira que esses haitianos estariam trabalhando”. O nome da empresa que teria contratado os trabalhadores só será divulgado após confirmação da reportagem.

Além disso, o vereador Izídio também acionou a Secretaria de Cidadania, para que esta preste assistência social imediata ao grupo. Por telefone, uma assistente social informou ao vereador que uma equipe visitará a casa do grupo na manhã da próxima segunda-feira, dia 23.

Já o mandato do deputado Hamilton Pereira se prontificou em fazer contato com o consulado haitiano no Brasil, em São Paulo, para se informar sobre a situação do grupo.

Há pouco mais de um ano, jornais locais noticiaram o fluxo migratório de haitianos em busca de oportunidades na região de Sorocaba.

“O que falta é trabalho”
No início da noite desta sexta-feira, dia 20, o vereador Izídio e assessores do deputado Hamilton retornaram ao local para conversar com Tomas Fausin. Há um ano e meio vivendo em Sorocaba, ele é o único do grupo que fala português.

Tomas conta que ele e outros haitianos trabalhavam para uma empresa de construção civil, mas foram todos demitidos há cerca de três meses. “Hoje faço bico em construção. Mas tem dias que tem [trabalho] e tem dias que não”, relata.

Aos 46 anos, Tomas é pai de 14 filhos. Apesar das dificuldades que tem enfrentado no Brasil, ele não deixa o desalento ser maior que a sua esperança. “O Brasil é muito melhor que o Haiti. Só o que falta agora é trabalho, para conseguir juntar dinheiro e trazer minha família”, conta.

Sobre o Haiti
A República do Haiti fica na América Central e a população atual é de 10,17 milhões. Marcada por uma série de governos ditatoriais, golpes de estado e guerra civil, o Haiti é o país economicamente mais pobre da América. Segundo dados da ONU, aproximadamente 60% da população é subnutrida e mais da metade vive abaixo da linha de pobreza, ou seja, com menos de 1,25 dólar por dia.

No dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu capital haitiana, Porto Príncipe, provocando a morte de mais de 200 mil pessoas.

O comerciante José Everton Pereira manifesta indignação com as condições de vida enfrentada pelos haitianos

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