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Dia da Indústria

Tendência econômica aponta enfraquecimento da indústria no estado de São Paulo

Entidades cobram o governo estadual para reverter o cenário de desindustrialização e recuperar protagonismo para o estado no setor que emprega milhões de pessoas em São Paulo

Caroline Queiróz Tomaz/Imprensa SMetal

Em Sorocaba, interior de São Paulo, polo industrial emprega milhares de trabalhadores e trabalhadoras paulistanos | Foto: Divulgação

Conseguir emprego na indústria é o sonho de muitos pais e mães de família brasileiros. É neste setor que se encontram as melhores condições econômicas e sociais de trabalho, seja por meio de salários e benefícios ou de outros direitos assegurados por mecanismos como as Convenções Coletivas de Trabalho (CCT). E se te dissessem que este setor pode estar perdendo seu protagonismo no estado de São Paulo?

Dados levantados pela subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) mostram que, em 2020, a indústria de São Paulo representava 28% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro, ou seja, mais de um quarto do todo. Apesar de ser um número expressivo, há menos de vinte anos este cenário era outro. Em 2002, esta mesma indústria representava 35,3% desse indicador.

Essa queda também pôde ser observada no percentual de representação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do estado. Em 2010, o segmento era responsável por uma fatia de 22,41% do PIB e, dez anos depois, este valor caiu para 17,53%.

Os números que refletem a situação da indústria em São Paulo estão sendo chamados por especialistas de “desindustrialização”. O que significa, em linhas gerais, que existe um processo de diminuição da capacidade ou atividade industrial. Não somente os empresários sentem os reflexos deste fenômeno, a desindustrialização afeta também a população, uma vez que os empregos do setor são impactados diretamente.

Ainda de acordo com o levantamento, São Paulo tinha 21,75% de seus trabalhadores atuando nos setores da indústria de transformação em 2010, já em 2020 este percentual foi reduzido para 17,56%. O novo Caged aponta que, até fevereiro de 2023, a estimativa é que a indústria de transformação e extrativa tenha menos 266 mil postos de trabalho em comparação ao ano de 2011.

Elaboração Dieese/SMetal

Luís Paulo Bresciani, que é doutor em política científica e tecnológica, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), e também coordena a subseção do Dieese do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), afirma que esse processo pode ser atribuído a dois fatores principais: enfraquecimento e descentralização da indústria paulista. “Temos uma perda significativa de valor adicionado na economia em termos brutos e também de empregos no Brasil e a proporção preponderante é em São Paulo”, comenta.

Ele afirma que, com o passar dos anos, houve também um processo de descentralização das industriais com destino ao interior, fato que impacta em Sorocaba. “A descentralização da atividade industrial em si não é ruim. Esses 28% (valor agregado na indústria) estavam muito centrados na região metropolitana, certamente hoje eles estão mais espalhados”, defende.

Retomada

Diante desse cenário, a sociedade e as entidades se organizam para colaborar, à medida que podem, para a reindustrialização do estado. Em março deste ano, o governo assinou o decreto que criou o Conselho Estadual de Promoção da Nova Industrialização. De acordo com a base do governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se trata de um órgão “para deliberar políticas e diretrizes do governo de SP para a reindustrialização na unidade federativa”.

Até o momento, não há representantes dos trabalhadores na composição deste conselho. Os membros do órgão são, em sua maioria, secretários indicados por Tarcísio e lideranças que fazem parte de entidades ligadas ao empresariado paulista, como a Fiesp e a Ciesp.

 “Na governança de um plano de reindustrialização do principal estado brasileiro não considerar a participação e organização dos trabalhadores é uma ausência imperdoável”, reflete Luís Bresciani.

Essa é uma crítica que ecoa no movimento sindical como um todo. Para o presidente do SMetal, Leandro Soares, a concepção de novas políticas – que irão impactar diariamente na vida dos trabalhadores – precisa ser realizada com a participação dos mesmos, bem como seus representantes. “O movimento sindical trava a luta histórica de defender melhores condições e acordos para a classe trabalhadora. Repensar a indústria, sem a participação dos trabalhadores, é retirá-los de um debate do qual eles deveriam ser protagonistas”, critica.

Um movimento de passividade quanto a proposição de ações práticas para a retomada da indústria também foi visto nos últimos anos. Na gestão Doria, em 2019, o governo lançou um programa de polos de desenvolvimento industrial regionalizado com recortes setoriais. Em quatro anos dessa administração não existiu iniciativa ou desdobramentos sobre o projeto.

“Isso reflete o que é a composição do governo estadual paulista. É bom lembrar que no campo federal, nos quatro anos anteriores, tivemos um completo alijamento do movimento sindical de quaisquer discussões. Isso deve se repetir em São Paulo a partir do mesmo grupo de orientação política”, alerta Luís Bresciani.

Governo federal e o Plano Indústria 10+

Em contrapartida, o governo federal acena em direção ao que pedem os sindicalistas. Em abril deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reestruturou e reativou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). Nessa semana, o Comitê Executivo deste órgão definiu sete missões para a política industrial.

Nas missões, o CNDI acata algumas das propostas feitas em 2022 no “Plano Indústria 10+”, um documento que reúne um conjunto de diretrizes e proposições do movimento sindical para a elaboração de políticas, programas e ações orientados à reconstrução da indústria brasileira. O plano sugere que a retomada industrial precisa estar ancorada no atendimento de demandas sociais críticas da população.

Segundo Bresciani, a política da indústria seria repensada, sobretudo, para gerar melhorias na vida dos brasileiros. O doutor em política científica e tecnologia explica esse pensamento usando o Minha Casa, Minha Vida como exemplo. Com esse direcionamento, todo o material de infraestrutura que fosse necessário para a construção dessas moradias, por exemplo, deveria ser majoritariamente produzido por indústrias brasileiras. “Nós, Brasil, precisamos fabricar os equipamentos para ampliação da energia eólica, insumos de construção, equipamentos médicos utilizados no Sistema Único de Saúde (SUS), vagões de trens e transporte público e afins”, esclarece.

Além deste ponto, outras questões sugeridas pelas entidades sindicais constam nas sete missões para a política industrial, como a descarbonização, bioeconomia, soberania nacional e outros pontos estipulados no documento que você pode ler clicando aqui.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) segue na mobilização e articulação para inserir a categoria nessas discussões. O presidente da entidade esteve, nesta semana, em diversos debates realizados com parlamentares, ministros e outras lideranças tratando da retomada industrial do estado de São Paulo por meio de investimentos e incentivos.

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