Busca
Acesso à cultura

“Sou uma artista proletária”, diz Lucélia Santos durante Cine SMetal

Na comemoração de um ano de projeto, a atriz foi a convidada especial para debater “O ovo”, curta inspirado em conto de Clarice Lispector; veja como foi participação de Lucélia

Caroline Queiróz Tomaz/Imprensa SMetal
Foguinho/Imprensa SMetal

A atriz participou da exibição do curta-metragem “O Ovo”, no Cine SMetal.

Tirar o ser “artista” de um local oposto ao ser “trabalhador” foi o mote de uma das intervenções de Lucélia Santos durante a sessão do Cine SMetal da quinta-feira, 11, que celebrou um ano do projeto. “Sou uma artista proletária”, enfatizou a atriz após a exibição do curta “O ovo” no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal). 

Durante a noite, a atriz debateu diversos pontos com uma plateia lotada que esteve por lá para prestigiá-la. Para ela, o artista é, sobretudo, um trabalhador das artes e precisa estar política e socialmente atento ao que acontece em nosso país. 

A fala de Lucélia se enquadra no mote do Cine SMetal que tem, como premissa, levar arte e cultura para o trabalhador sorocabano. 

“Privilegiamos, em especial, obras que refletem temas da atualidade. No Cine, debatemos racismo, violência doméstica, trabalho infantil e vários outros temas que o trabalhador já vivenciou ou sentiu”, defende a curadora do projeto, Renata Rocha.

É assim que também pensa Leandro Soares, presidente do SMetal. Na abertura das atividades, Leandro fez questão de enfatizar que o cinema tem o poder de proporcionar diversão e entretenimento, mas também formar politicamente os cidadãos. “Esse é um espaço para que o trabalhador forme um senso cultural e crítico, afinal, a arte também reflete nossas vidas”, disse. 

Para além da exibição do filme e intervenção com Lucélia, o momento também foi de retrospectiva. Um vídeo no começo da atividade trouxe depoimentos de diversos produtores, artistas e parceiros que fomentaram as sessões de quinta-feira durante os últimos 365 dias.

Carreira e obra 

Quando questionada sobre como começou a carreira, Lucélia relembrou seus tempos de menina, em Santo André (São Paulo). “Fui assistir uma peça de teatro com a turma do colégio e me encantei com aquilo. Queria ver o que tinha por trás de tudo, quando as cortinas se fecham”, recorda. 

Foi aos 14 anos que, após muito debate com a mãe, pôde se entregar ao teatro e aprender a arte que, há 53 anos, tornou-se seu ofício. Entre sucessos televisivos e teatrais, uma virada de chave para a carreira de Lucélia foi o contato com Nelson Rodrigues, autor brasileiro conhecido por suas obras repletas de conflitos morais e paixões avassaladoras. 

“Fiquei muito na dúvida em aceitar trabalhar em ‘Bonitinha, Mas Ordinária’, pois nessa época eu já fazia sucesso na TV”, disse. A atriz lembra que consultou um amigo da época, que a aconselhou sair da “assepsia” e do “lustre” da televisão e se entregar para o desafio novo que se apresentava. 

Apesar das dificuldades do universo rodriguiano, Lucélia recorda desse projeto como sendo “a maior universidade de atriz que já viveu”. 

Lucélia Santos destacou-se na televisão com o papel de Escrava Isaura. No cinema, para além de “Bonitinha, Mas Ordinária”, participou de filmes como “Engraçadinha” e “Luz del Fuego”, este último exibido durante a mostra do Cine SMetal em sua homenagem. 

Política e posicionamento

Muitos foram os questionamentos da plateia sobre o engajamento político de Lucélia Santos. A artista coleciona momentos de posicionamento político e ideológico em seu currículo, esses pelos quais ela, quando questionada, disse não se arrepender, mas que “sempre há um preço”. Essa afirmação aconteceu quando ela foi questionada, pela plateia, se os seus ideais a afastaram de possíveis projetos. 

Nos anos 1980, Lucélia participou ativamente do movimento Diretas Já, que clamava pelo retorno das eleições diretas para presidente no Brasil durante a Ditadura Militar. Ela também foi uma voz ativa na defesa dos direitos ambientais e dos povos da floresta, ao lado de Chico Mendes. 

Mais recentemente, para além de continuar sendo uma grande defensora da preservação da floresta amazônica e dos povos originários, Lucélia Santos participou da equipe do governo de transição, junto ao Ministério da Cultura, pasta ocupada pela ministra Margareth Menezes. 

Ao falar sobre esses momentos, ela não poupou palavras. Comentou sobre a necessidade de se posicionar, sobretudo, de forma enfática diante das questões sociais. “Neste país é preciso ser 100% revolucionário”, ressaltou. 

Cine SMetal 

Em entrevista para a Imprensa do SMetal, que você poderá conferir na próxima quarta-feira, Lucélia falou da importância do projeto de Cineclube para a promoção da cultura e lazer e expressou seu desejo para que, em suas palavras, “venham muitos anos” de Cine SMetal no futuro. 

Durante um ano, o projeto reuniu mais de 1300 pessoas. Foram 83 obras exibidas em 47 encontros realizados gratuitamente na Sede do SMetal. Por lá, passaram nomes como Paulo Betti, Paulo Miklos, Silvio Tendler, Lucélia Santos e outros grandes produtores locais e nacionais, somando cerca de 60 convidados nos debates pós-sessão. 

Confira a galeria de fotos

tags
artista Cine SMetal Cinema exibição filme gratuito Lucélia Santos o ovo trabalhador
VEJA
TAMBÉM