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Sindicato quer mudança de postura das empresas para evitar mortes no trabalho

Primeira morte, em 10 de dezembro, aconteceu na Matso; na segunda, dia 30, a vítima foi um trabalhador da ZF do Brasil

Imprensa SMetal
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O dirigente sindical Ozeias Carlos Beltramo (foto) durante assembleia na Metso logo após acidente

O dirigente sindical Ozeias Carlos Beltramo (foto) durante assembleia na Metso logo após acidente

Duas mortes relacionadas ao trabalho no final de ano comoveram e revoltaram a categoria metalúrgica. No dia 10 de dezembro um acidente na produção da Metso matou Julio Valladão Neto. No dia 30 de dezembro, R.P.S., funcionário da ZF do Brasil e vítima de doença ocupacional, suicidou-se. Ele deixou carta lamentando a forma como a empresa e o INSS vinham tratando seu problema.

O Sindicato dos Metalúrgicos acompanhou ambos os casos e disponibilizou orientações – inclusive jurídicas – para os familiares. O acidente na Metso Equipamentos foi amplamente divulgado na imprensa. Já no caso do suicídio, tanto a imprensa quanto o Sindicato, optaram pela discrição, para preservar a família do trabalhador e também devido ao risco de motivar outras atitudes de desespero agravadas pelo período de festas natalinas.

As mortes
Valladão, com trinta anos de Metso, tinha 56 anos de idade, casado, um filho e fazia ajustes em uma madrilhadora quando o equipamento entrou em funcionamento automático e atingiu a região do abdômen do metalúrgico.

Já o trabalhador da ZF, afastado da empresa há anos devido a lesões na coluna e nos ombros, vestia uniforme e crachá da empresa quando enforcou-se, em sua residência, em Sorocaba. Recentemente ele havia tido benefício cortado pelo INSS e teria que voltar à fábrica, sob risco de fazer um percurso de retorno ao trabalho e novo afastamento pelo qual já tinha passado antes.

Além desses casos fatais, o Sindicato tem recebido diversas outras denúncias de acidentes, doenças ocupacionais, discriminação de empresas à lesionados, falta de condições de trabalho e cortes de benefícios injustos praticados pelo INSS.

Todos os casos estão sendo analisados e encaminhados pela diretoria sindical desde o início do ano. Os fatos comprovados e as denúncias serão temas também de um seminário sobre saúde que o Sindicato irá realizar nos próximos dias, com participação de dirigentes sindicais e técnicos da área.

Trabalhadores denunciam desrespeito das empresas e do INSS

Além da constatação das duas mortes na categoria metalúrgica, desde o final de ano, o Sindicato tem percebido um aumento nas denúncias de acidentes de trabalho de menor gravidade, mas que demonstram falhas nas condições de trabalho, ritmo acelerado de produção e pressão por produtividade.

A diretoria sindical também recebe denúncias sobre demissão de lesionado na Metso e tratamento desrespeitoso a vítimas de acidentes e doenças do trabalho em diversas fábricas, especialmente na ZF.

A ZF e algumas outras empresas também estão, segundo denúncias, investindo em ações judiciais e recursos administrativos junto ao INSS para reverter casos de doenças ocupacionais em doença comum, a fim de livrar a empresa da responsabilidade para com o funcionário.

Há também, no Sindicato, um grande volume de reclamações sobre a postura do INSS, que corta o benefício do lesionado e obriga seu retorno ao trabalho, mesmo que visivelmente ele não tenha condições de exercer suas funções.

Depressão
“Quando ele [o trabalhador cortado pelo INSS] retorna à fábrica, não recebe a readequação necessária, é tratado como restrito e sofre preconceitos, inclusive de companheiros de trabalho, infelizmente. A empresa, através de alguns chefes, não esconde do operário a vontade de ver-se livre dele. Vários desses trabalhadores apresentam sintomas de angústia e depressão”, relata o diretor sindical Clodoaldo Garrote.

Além de acompanhar a apuração dos fatos junto a órgãos públicos competentes, a diretoria do Sindicato está debatendo os casos de acidentes de trabalho junto aos comitês sindicais, médicos e advogados. O assunto será tema de um seminário sindical que será realizado nos próximos dias.

Na ZF, houve também assembleias sindicais de protesto, na porta da fábrica, semana passada.

A diretoria do Sindicato pede à categoria que continue denunciando casos de acidentes, falta de condições de trabalho e encaminhamento indevido pelo INSS. Denúncias pelo telefone (15) 3334-5400 ou no site www.smetal.org.br , no menu superior, campo “Denuncie”.

Fiscais vão ao local com máquina sem bateria

O Sindicato dos Metalúrgicos deverá questionar a atuação da Gerência Regional do Trabalho e Emprego (GRTE) nos casos de acidentes de trabalho na região. “É um órgão de extrema importância, mas que deve estar bem estruturado para atender às necessidades”, afirma Izídio de Brito, dirigente sindical e vereador pelo PT em Sorocaba.

O questionamento sobre a GRTE teve origem em um fato ocorrido durante vistoria realizada na Metso após o acidente que matou o metalúrgico Julio Valladão Neto, em dezembro. Os fiscais da GRTE deveriam ter fotografado fartamente o local de trabalho e o equipamento causador do acidente. Porém, a máquina fotográfica da equipe estava sem bateria e os fiscais registraram uma única imagem durante toda a vistoria.

“Essa situação é absurda. Ainda mais que se tratava de um acidente fatal. Se faltam equipamentos ou estrutura ao órgão ele deve se manifestar. Os sindicatos podem vir até a ajudar. Agora, se foi mero descuido, é inaceitável. Isso tem que ser apurado e não pode acontecer novamente”, diz, indignado, o vereador metalúrgico.

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