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Saúde Mental

Setembro amarelo: a necessidade de lembrar o quanto você é importante

O movimento, que teve início em 2014, promove a transformação do suicídio de um assunto tabu para um tópico de conscientização

Gabriela Guedes/Imprensa SMetal
Tânia Rego/Agência Brasil

O lema da campanha do Setembro Amarelo de 2023 é “Se precisar, peça ajuda!”

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados. A campanha “Setembro Amarelo” tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre os sinais transmitidos por quem está em sofrimento e pode vir a tirar a própria vida, trazendo esse tema à tona. A ideia é falar da necessidade de lembrar o quanto você é importante!

Desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) promove a campanha no mês de setembro no Brasil, combinada ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, no dia 10 do mesmo mês. O lema da campanha de 2023 é “Se precisar, peça ajuda!”.

Para a psicóloga social e clínica, Carla Carneiro, as datas comemorativas são um lembrete de que certa situação ainda acontece na sociedade. 

“Às vezes a gente fica tão imerso na nossa rotina, que algumas coisas acabam passando despercebidas. A gente vai empurrando para debaixo do tapete e essas datas nos fazem lembrar que isso ainda acontece, que é necessário a gente falar sobre isso. Como por exemplo a questão do dia contra a LGBTfobia, como a gente tem hoje o dia dos povos originários, o Setembro Amarelo, que é uma questão de saúde mental, são datas para a gente lembrar de que a gente precisa falar e avançar sobre esses determinados temas”, afirma. 

A psicóloga explica que o suicídio é uma resposta emocional imediata, rápida, a uma situação de sofrimento psíquico, pois muitas vezes as pessoas não sabem lidar com determinada emoção, tristeza. 

“O que eu vejo em meus atendimentos é que as pessoas pensam no suicídio quando elas esgotam todas as outras possibilidades que ela tinha dentro dela, todos os recursos instrumentais que ela aprendeu ao longo da vida, para lidar com o sofrimento, para lidar com uma frustração, com uma grande tristeza, às vezes uma grande perda”, conta.

“A informação é o melhor meio para superar os tabus e promover a conscientização sobre o tema, afirmou”. Carla Monteiro, psicóloga, que destaca que o suicídio ainda é um tabu, porque a saúde mental é um assunto pouco falado e precisa ser naturalizado.

“Alguma emoção que está ficando muito grande nessa pessoa, e ela não está conseguindo lidar dentro de uma rotina, e ela acaba, enfim, cometendo atos contra a própria vida. Geralmente suicídio aparece nesse lugar. Então quanto mais a gente fala do acesso à saúde mental de qualidade, de que é um direito a pessoa cuidar da saúde mental dela, tal qual ela cuida da saúde física, eu acho que mais as pessoas vão compreender que é natural sofrer”, explica.

Dados

Em depoimento para grupo de trabalho da Câmara dos Deputados destinado ao estudo sobre o aumento de suicídio, automutilação e problemas psicológicos entre os jovens brasileiros, o psiquiatra Humberto Müller alerta que, no Brasil, acontece uma morte por suicídio a cada 45 minutos e, para cada morte, há 20 tentativas.

Entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil, segundo dados divulgados em setembro de 2022 pela Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgado pelo Ministério da Saúde.

Segundo o portal da campanha Setembro Amarelo, no Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. Em países de baixa-média renda, como o Brasil, as taxas de suicídio de mulheres são mais altas, com 7,1% por 100 mil.

 

Saúde mental e prevenção

 

Sabe-se que os suicídios estão relacionados a algum tipo de doença mental e, por isso, podem ser tratados. A psicóloga Carla Monteiro ressalta a importância da procura de profissionais de saúde, pois é natural não estar sempre bem e ter sofrimento psíquico. Ela conta que outros tipos de doença, como o câncer, são mais palpáveis, físicos, e fazem com que as pessoas procurem médicos de forma imediata, o que é diferente da saúde mental.

 

“Após a pandemia, eu trabalhei em um Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) e, depois,  trabalhei em CAPS Álcool e Drogas, e eu percebia muito o movimento de que o psicólogo, o profissional de saúde mental era sempre o último a ser procurado. Então a pessoa estava num sofrimento há meses, mas antes de procurar um psicólogo, ela procurou um livro de autoajuda, um líder religioso, um amigo e por último ela procurou um profissional de saúde mental”. 

Para a profissional, só o fato da procura do psicólogo ser um dos últimos recursos procurados, demonstra que há preconceito sobre como lidar com a saúde mental e com o sofrimento vivido, que muitas vezes é o que leva ao suicídio.

Para prevenir o suicídio, a psicóloga aponta que vários sinais são dados pelos indivíduos antes de chegarem ao limite. Eles dizem às pessoas próximas que não está bem, se isola socialmente, a higiene pessoal é particularmente afetada, por exemplo. 

“É nesse momento que uma rede de apoio, seja de amigos, familiares, é importante essas pessoas estarem em contato, para ter uma escuta ativa, poder ouvir sobre o sofrimento dela e poder orientar a busca de um profissional, e dizer que essa pessoa não está sozinha, que aquilo que ela está passando é uma coisa natural, que tem outras soluções”.

Ela afirma que há fatores externos que potencializam a possibilidade do suicídio como saída de um sofrimento, como a falta de dignidade e uma qualidade de vida adequada, considerando que a desigualdade social no Brasil estabelece a falta de acesso a direitos básicos como saneamento básico, alimentação adequada, moradia, fazendo com que as pessoas apenas sobrevivam. No caso da saúde, para ela, é impossível falar em saúde mental sem falar em dignidade social e respeito aos direitos básicos.

“Eu percebo que é muito difícil a gente falar de saúde mental quando a pessoa tem fome ou quando ela não tem acesso a uma educação de qualidade. Além disso, quando eu trabalhava no CAPS a gente tinha cerca de cinco mil usuários em uma determinada região de Sorocaba, e éramos quatro psicólogos, o que é impossível de dar conta, praticamente insalubre, tanto para o profissional, quanto para o usuário que está buscando aquele serviço. Então, muitas vezes, essas pessoas de baixa renda acabam buscando pessoas não qualificadas para tratar de um sofrimento psíquico”.

Mundo do trabalho

A pressão, o assédio moral e físico no ambiente de trabalho podem causar ou agravar situações de sofrimento psíquico. Para Valdeci Henrique da Silva (Verdinho), vice-presidente do SMetal e secretário de saúde da CUT, a busca pelo lucro faz com que muitas empresas não valorizem a vida. 

“Neste mês de setembro é muito importante que o SMetal trabalhe essa pauta, porque infelizmente, está aumentando essa situação tem se agravado no mundo do trabalho. Enquanto sindicato cidadão, o SMetal sempre dialoga com os representantes das empresas que além de respeitar os direitos trabalhistas, devem cumprir sua responsabilidade social e garantir o respeito à vida”.

Participe da campanha

Para participar da campanha, confira a Cartilha Suicídio Informando para Prevenir, onde você encontra as Diretrizes para a Divulgação e Participação da Campanha Setembro Amarelo, materiais online para download, e todo o material para a imprensa.

Peça ajuda

Caso conheça alguém que esteja passando por situações como as relatadas nesta reportagem, o Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) do SUS atende em diversos bairros de Sorocaba. Confira aqui (https://sage.saude.gov.br/paineis/planoCrack/lista_caps.php?output=html&) o contato e a localização do mais próximo de você.

Além disso, o Centro de Valorização da Vida (https://www.cvv.org.br/) atende pelo número 188 e realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.

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