Na próxima terça-feira (30), a partir das 10 horas, a CUT e as demais centrais farão protestos contra a taxa de juros, a Selic, em frente à sede do Banco Central (BC), em Brasília, em São Paulo e nas demais cidades em que há representação da instituição financeira. A data foi escolhida por ser o primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a taxa de juros do país a cada 45 dias.
Na quinta-feira (25) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anunciou a prévia da inflação. O IPCA-15 avançou 0,3% em julho, uma redução ante alta de 0,39% em junho. O acumulado oficial do ano está em 2,48%, mas a taxa Selic (10,50%), é a segunda maior do mundo.
Embora a inflação do país esteja dentro da meta (4,5%), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem sinalizado que vai manter e até mesmo aumentar os juros, numa clara demonstração de sabotagem à economia brasileira, apesar das críticas do presidente Lula. O Banco Central se tornou independente no governo de Jair Bolsonaro (PL), e apenas o Senado Federal pode destituir o presidente da instituição.
Um dos motivos para os protestos é o prejuízo que os juros altos causam nos orçamentos familiares. A última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada este mês mostra que em junho, a maioria das famílias brasileiras estava endividada e com dificuldades de pagar seus boletos.
Segundo a CNC, o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) permaneceu em 78,8% em junho de 2024, semelhante ao resultado de maio e acima do referente a junho do ano passado (78,5%). Para a entidade esse resultado revela que, após três meses de alta do endividamento, as famílias estabilizaram sua demanda por crédito, receosas do incremento nas dívidas atrasadas.
“O crédito ao consumidor mais caro afeta principalmente os trabalhadores de menor renda. Ao pagar juros mais altos, o que ocorre é uma transferência da renda do trabalhador ao sistema financeiro, explicou Adriana Marcolino, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
“Quem paga são os mais pobres, por isso o aumento na Selic é péssima medida para os trabalhadores”, concluiu.
Esta análise é corroborada pela pesquisa da CNC, que em sua publicação afirma que nos dados desagregados por renda, pode-se perceber que a população de menor renda (até 5 salários mínimos) aumentou o seu endividamento, tanto em relação ao mês anterior quanto a 2023, precisando recorrer a esses recursos para manter seu padrão de consumo. Enquanto a classe mais alta (entre 5 salários e acima de 10 salários mínimos) mostrou redução de suas contas, pois possuem recursos próprios suficientes para a aquisição de bens essenciais.