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“Protesto sem pauta tem bandeira sim: a da direita golpista”, afirma presidente da CUT

Em encontro que discutiu a onda de protestos no país, realizado na 6ª no SMetal, o presidente estadual da CUT, Adi dos Santos Lima, avaliou que "protestos sem bandeiras servem a direita"

Imprensa SMetal
Foguinho/ Imprensa SMetal
Sindicato dos Metalúrgicos sediou plenária que debateu desdobramentos da recente onda de protestos no Brasil

Sindicato dos Metalúrgicos sediou plenária que debateu desdobramentos da recente onda de protestos no Brasil

Para o presidente da CUT estadual de São Paulo, Adi dos Santos Lima, muitas das recentes manifestações que vêm acontecendo no Brasil, sem lideranças aparentes nem pauta específica, estão se tornando violentas e intolerantes porque têm sido dirigidas, de forma sutil, pela grande imprensa e pela elite conservadora. “Protesto sem pauta tem bandeira sim: a da direita golpista”, afirma o dirigente, que milita no movimento metalúrgico desde o final dos anos 80.

Adi esteve em Sorocaba nesta sexta-feira, dia 28, conversando com lideranças sindicais e populares para explicar como a central está avaliando a recente onda de manifestações que têm acontecido no Brasil.

Clique aqui para assistir reportagem da TV SMetal.

O dirigente narrou a trajetória da CUT, que surgiu há 30 anos justamente a partir de manifestações nas ruas e nas fábricas por democracia e melhor qualidade de vida para o povo, e afirmou que a central deve manter seu apoio aos movimentos populares, “contanto que eles tenham identidade e objetivos progressistas e revelem os rostos dos seus responsáveis”.

Ele pede, no entanto, cautela diante de protestos que têm intenção de desestabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff, abrindo brecha para a volta de governos neoliberais, conservadores e autoritários que governaram o País antes de Lula.

“Temos que decidir [sobre os atos] sem precipitação. Além disso, temos que continuar levando para as ruas as pautas da classe trabalhadora, como sempre fizemos”, afirmou.

Bandeiras históricas

Para Adi, muitos manifestantes levaram para as ruas pautas legítimas e historicamente defendidas pela CUT, PT e outros partidos e movimentos, como saúde, educação, transporte, liberdade. “Mas aí, chegam os grupos infiltrados nos movimentos e se atrevem a nos expulsar das ruas”, afirma indignado o dirigente.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, Ademilson Terto da Silva, lembrou que muitos militantes foram espancados, presos, torturados e mortos na luta contra a ditadura e para conquistar a redemocratização no Brasil. “Também enfrentamos repressão nas lutas pelo direito de greve, pela Constituição de 1988, nos protestos antinucleares, pelo impeachment de Collor, pela derrubada da Emenda 3, entre outras grandes manifestações das últimas décadas. Por isso, é revoltante ouvir frases soltas como: o gigante acordou, como se a história do País estivesse começando agora”, afirma.

Vários dirigentes e militantes presentes também ressaltaram que a esquerda brasileira enfrentou -e enfrenta – muita violência e tentativas de golpe para dar sustentação à eleição do primeiro presidente operário do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a primeira mulher presidenta, Dilma Rousseff.

Influência da mídia

Sobre a influência e o direcionamento da grande imprensa sobre as manifestações recentes, Adi lembrou que, até meados de junho deste ano, as manifestações de rua organizadas – inclusive pela redução da tarifa de ônibus – eram criminalizadas pela Rede Globo, pela Folha (de S. Paulo) e outros grandes meios de comunicação.

“A TV tratava os manifestantes como bandidos e baderneiros, praticamente incentivando a polícia a descer o porrete. De repente, em poucos dias, tudo mudou. As ordens para as reportagens eram outras. E toda a mídia tradicional passou a tratar os atos públicos de forma padronizada, elogiosa, contanto que não tivessem lideranças reconhecidas e as reivindicações fossem confusas ou atacassem o governo Dilma Rousseff”, afirmou o dirigente.

“Já no ano passado, a CUT levou 4 mil pessoas à Paulista (em São Paulo) para chamar a atenção para a questão da mobilidade urbana. A mídia não deu uma nota sobre o motivo da manifestação. Quando falava sobre o ato, era pra dizer que tinha um pessoal lá [na Paulista] atrapalhando o trânsito”, afirmou Adi.

“Aliás, é o que a grande imprensa adora fazer: cobre um ato público só pra dizer que ele está atrapalhando o trânsito. Só mudou o discurso agora, há poucos dias, porque é conveniente para o projeto político que ela defende, que é o golpe e a volta do neoliberalismo”, afirmou.

Para ele, a Globo está fazendo a pauta e a agenda das manifestações porque quer desestruturar o governo democrático e popular do PT. “Ela tentou isso com Lula e está tentando novamente com a Dilma”.

Partido da imprensa

Ana Lúcia Castro, que é membro do movimento Levante Popular da Juventude e do movimento Contracatraca, ambos de Sorocaba, também considera que a mídia está tentando dirigir e pautar as manifestações. “As manifestações antipartidárias têm partido sim, é o partido da mídia golpista. Ela é que está comandando alguns atos no Brasil”, afirma a jovem estudante.

“Uma semana antes dos atos começarem a ser usados pela mídia, 300 pessoas do nosso movimento saíram às ruas para pedir mobilidade urbana. Fomos marginalizados antes da mídia dar seu golpe”, relatou Ana.

“Está claro que a mídia e a burguesia querem ser eleitos divulgando, agora, pautas que historicamente são nossas [dos movimentos sociais]”, afirmou a estudante de Geografia.

Reflexão nos sindicatos

Mas, além de criticar a manipulação dos movimentos pela “grande mídia”, Adi também pediu reflexão por parte dos sindicatos e movimentos populares. “O movimento sindical deve fazer uma autocrítica a respeito das demandas sociais e políticas que deixou de levar para as ruas nos últimos anos, possibilitando que muitos dos protestos atuais fossem desvirtuados por segmentos que agem nas sombras, incluindo mídia, partidos de direita e empresários neoliberais”.

“Temos que refletir sobre alguns valores e voltar a valorizar o companheirismo, a solidariedade e a coletividade”, disse Adi.

“Temos que conversar com os jovens e com nossas bases e mostrar que as demandas sociais são legítimas. Temos que nos comunicar e explicar que o neoliberalismo, que está de olho no poder de novo, trata a saúde, a educação e o transporte não como responsabilidade do estado, mas como negócios para a iniciativa privada”, alertou o dirigente.

Em Sorocaba

Vários participantes do encontro ressaltaram que a manifestação em Sorocaba, realizada no último dia 20 e que reuniu 30 mil pessoas, diferente de outras, foi pacífica e bem pautada.

O ato local foi organizado pelo Movimento Contracatraca e teve como temas principais o transporte coletivo, a mobilidade urbana e melhoria dos serviços públicos.

O encontro desta sexta-feira aconteceu na sede do Sindicato dos Metalúrgicos e reuniu representantes de sindicatos filiados à CUT, da Federação e da Confederação dos Metalúrgicos da CUT, da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Transporte, do movimento Levante Popular da Juventude e do movimento Contracatraca, membros do diretório do PT e parlamentares petistas.

Presidente da CUT estadual de São Paulo, Adi Santos Lima

Ana Lúcia Castro é estudante de Geografia e integrante do grupo ContraCatraca e Levante Popular da Juventude ( Foto: Foguinho/ Imprensa SMetal)

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