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Editorial

Prenúncio de um regime de exceção

O editorial desta semana fala sobre o prenúncio de um regime de exceção que vem crescendo no país, como repressões policiais sem mandados judiciais que justifiquem as ações

Imprensa SMetal
Arte: Imprensa SMetal

A repressão policial contra movimentos sociais, sem sequer se preocupar em ter mandados judiciais para justificar ações, historicamente é prenúncio de regimes de exceção.

No Brasil de hoje tem havido casos de estudantes agredidos pela PM em desocupações de escolas sem ordem judicial e, no último dia 4, o alvo foi a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), invadida pela polícia civil (Garra).

O fato foi pouco divulgado pela imprensa oficial dos golpistas (Globo, Veja, Folha de S. Paulo, etc). E o pouco espaço que a grande imprensa deu, foi para deturpar os fatos.

Artistas respeitados como o ator Wagner Moura e o músico Lirinha (ex-Cordel do Fogo Encantado) gravaram depoimentos de repúdio à truculência e covardia da polícia e classificaram a ação como prova de que a democracia no Brasil está suspensa e que estamos sob um regime de exceção. Esses depoimentos não foram exibidos pela “grande imprensa”, mas estão disponíveis na internet.

A ENFF, coordenada pelo Movimento dos Sem Terra, oferece 70 cursos de graduação e pós-graduação conveniados com universidades públicas. Os cursos desenvolvem produção científica principalmente sobre agricultura e tecnologia agrícola. A escola é referência mundial nessas áreas.

O local também abriga palestras e convenções sobre diretos sociais. O músico Lirinha participava, no momento da invasão da Garra, de uma palestra sobre cultura popular.

A seguir, trechos da narração dos fatos pela professora Sílvia Beatriz Adoue, doutora em Literatura Hispano-americana pela USP, que leciona na ENFF e na Unesp de Araraquaqua.

“Policiais civis de Mogi das Cruzes chegaram na portaria da escola em uma dezena de viaturas. Não possuíam mandado de busca e apreensão, mas queriam entrar. Os responsáveis pela portaria queriam ver o mandado. Então eles apresentaram um documento que lhes enviaram pelo WhatsApp, na tela de um celular, sem assinatura de juiz”.

De acordo com a professora, descontrolados por terem sido questionados, os policiais entraram à força pela janela da portaria. Já entraram apontando as armas para estudantes que estavam por perto.

Ela segue a narrativa: “O bibliotecário da escola, o professor Ronaldo, um senhor de 64 anos, aposentado (que sofre de mal de Parkinson), se apoiou em um dos policiais que estava do lado dele para não cair. O policial derrubou ele no chão e algemou. Uma das musicistas que estava na palestra sobre música popular foi explicar para os policiais que o professor Ronaldo tinha problemas de motricidade. Ela também foi reduzida e algemada”.

A professora relata que, antes de agredir o idoso e a musicista, os policiais apontavam as armas em direção a um parquinho infantil, onde filhos de estudantes e professores brincavam acompanhados de pedagogos.

Para afastar as pessoas que foram socorrer o aposentado caído, os policiais atiraram para o alto e para o chão com munição letal. “Estilhaços atingiram uma das mulheres presentes”, descreve Sílvia Beatriz.

Por fim, a pessoa que eles diziam procurar, Margareth, não estava no local, não era conhecida de ninguém na escola e, na verdade, era procurada por uma operação policial denominada Castra, deflagrada no Paraná.

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