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Pochmann destaca as novas configurações da classe trabalhadora em palestra no SMetal

Para além da economia, o economista da Unicamp, critica a falta da disputa pelos valores culturais, diz que o Brasil historicamente fomenta uma inflação de diplomas e cobra uma postura menos corporativa e imediatista do movimento sindical

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Foguinho/Imprensa SMetal

Pochmann falou sobre economia, cultura, educação, política e outros temas para mais de 200 pessoas

O economista Marcio Pochmann fez palestra na manhã desta sexta-feira, dia 29, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba (SMetal) e foi além do aspecto econômico. Professor titular da Unicamp, Pochmann trouxe elementos para reflexões sobre mudanças necessárias no plano estrutural (a médio e o longo prazos) e uma análise sobre a ordem conjuntural.

Uma das críticas que o economista teceu foi em relação à visão de curto prazo que regem medidas políticas e sociais e acabam em decisões não acertadas. “A alienação nos faz sonhar com as vitórias do dia, e não com as batalhas da vida”

A crítica atinge também as universidades, com o corpo de intelectuais, em sua maioria, trabalham a perspectiva pós-moderna, com o esfacelamento da realidade, como estudo de gênero, sem uma análise de classe social. “Isso justifica, em parte, a alienação que temos hoje na nossa sociedade”.

Em poucos caracteres Pochmann destacou uma mudança comportamental e demográfica no país com a conformação da sociedade se comunicando com apenas 500 caracteres ou menos, devido aos meios eletrônicos de comunicação, abandonando a literatura e o próprio hábito de leitura em geral. Ele também apontou o empobrecimento cultural, com o rebaixamento musical e de outras artes.

Disputa de valores

A luta pelos valores culturais sempre foi uma marca do movimento sindical porque está diretamente relacionada com a luta pela redução do tempo de trabalho. “Hoje em dia, é só pressão constante para se viver trabalhando. Quem tem tempo hoje para fazer um jantar em família, para ouvir os sonhos dos filhos?”.

O dilema que se coloca, na visão do economista, é a de que as pessoas estão sendo atropeladas pela pressão por causa do trabalho e não surgem novas utopias. “Estamos sempre dirigindo olhando pelo retrovisor”, argumenta em relação à falta de projetos.

Movimento sindical

Pochmann cobrou uma postura menos imediatista, mais planejada e até menos corporativa dos sindicatos. “Porque fragmentar a comunicação sindical, que é gigantesca mas pouco atraente? Por que não unir os recursos que os sindicatos dispõe para fazer um veículo de comunicação mais amplo, que ajude a formar e informar os trabalhadores? Parece que somos incapazes de ter um jornal”, questionou.

Segundo ele, o perfil da população mudou e os sindicatos relutam em fazer pesquisas, avaliar as mudanças e participar delas. “As mudanças sociais estão acontecendo e os sindicatos não têm o que dizer? Tem que ter o que dizer”, afirma. “O sindicalismo tem que entender o tempo que está vivendo e dar respostas, sob pena de acabar, de ser jogado no lixo da história, como foram alguns instituições no passado”.

“Fazer greve não é o suficiente nesta era da informação em que vivemos. Tem que se preparar, tem que envolver não somente os trabalhadores envolvidos na reivindicação, mas a sociedade. O sindicato tem que tentar conquistar o apoio da sociedade. Isso exige planejamento”, defendeu.

Demografia

“A classe trabalhadora está mudando drasticamente”. Para cerca de 200 pessoas Pochmann trouxe dados sobre a nova configuração do povo brasileiro. Atualmente, a média de fecundidade é de 0,9 filho por mulher. Em 15 anos a população reduzirá em número absoluto, ou seja, o número de pessoas que morrerão será maior em relação aos nascimentos.

Há também uma redução da população jovem. Na década de 90os jovens representavam 34%; hoje, é de 23% e em 2030 a porcentagem será de 14. Enquanto que a população idosa aumenta, pois hoje está na casa dos três milhões, mas a previsão para 2030 é que chegue a 20 milhões.

Iniciativas e planejamento

Questionando sobre quais as medidas serão adotadas por sindicatos, políticos e outros grupos tendo como base essa nova configuração Pochmann pontua ser urgente o planejamento para a redução da desigualdade, pois outro dado relevante é que em 2030 a população brasileira será 70% negra, que é marginalizada socialmente.

Um dos tópicos de sua análise foi a Previdência Social.

Ele citou o aumento da perspectiva de vida que traz diversos desafios para o governo. Além de situações como “os 400 mil aposentados militares que recebem R$ 24 bilhões, mesmo valor que 50 milhões de pessoas contempladas pelo Bolsa Família recebem”.

Natureza do trabalho

O professor titular da Unicamp também ressaltou a mudança da natureza do trabalho, mostrando diferenças entre o trabalho material e o trabalho imaterial. “O trabalho material é o esforço que resulta em algo concreto, mas 75% dos postos de trabalho abertos são de trabalho imaterial, que não produz algo tangível, principalmente no setor de serviços.

Pochmann criticou a falta de pesquisas sobre o mundo do trabalho no Brasil, mas lembrou que na Inglaterra os trabalhadores que utilizam tecnologias de informação não têm mais a “semana inglesa” (de trabalhar em cinco dos 7 dias). Ele denuncia a extensão do trabalho (que passa do local de trabalho) e a intensidade do mesmo.

Provocações

Diante de tanta pressão e intensidade causada pelo trabalho nota-se por pesquisas que cresce o número de trabalhadores que são medicados por antidepressivos. “Essa insatisfação geral resulta em algum projeto”?, “qual é a agenda dos sindicatos, das associações, do governo”?

Jovens heróis

A situação dos jovens é a de luta por espaço pelo mercado de trabalho e por estudo, o que faz Pochmann classificá-los como verdadeiros heróis quando se desdobram entre a jornada de trabalho e de estudos. “Fomenta-se uma inflação de diplomas que não servem para nada. É impossível estudar nessas condições a que estão submetidos”.

Utopia

“Nessa sociedade de trabalho imaterial 12 horas por semana de trabalho é suficiente, não se precisa mais do que isso”. Parece absurda a proposta, mas o economista lembra que falar em jornada de trabalho de oito horas há 100 anos quando se faziam 16 horas de trabalho também soava absurdo.

Consumo

Depois de argumentar e trazer elementos sobre as mudanças estruturais Pochamann analisou a conjuntura e citou que o Brasil perdeu a oportunidade de transformar a ascensão social em atores políticos. “É preciso não ter medo de ousar, de fazer diferente”.

Próxima agenda da formação

A atividade desta sexta, dia 29, faz parte da programação de formação do Sindicato, que também trouxe no dia 9 de maio, o sociólogo Emir Sader. Acompanhe o site do SMetal para saber das próximas palestras.

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