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Comunicação

Paulo Amorim defende mais opções de imprensa no Brasil

Em entrevista exclusiva, o jornalista Paulo Amorim critica a parcialidade de grandes veículos de imprensa, como Globo e Veja, defende uma nova Lei de Comunicação e o crescimento de mídias alternativas

Imprensa SMetal/Paulo Andrade
Foguinho/Imprensa SMetal

‘O Brasil é o único país civilizado e democrático que não tem um marco regulatório da comunicação’ afirma Paulo Amorim

O jornalista Paulo Henrique Amorim recebeu a imprensa SMetal/Revista Ponto de Fusão na redação do blog Conversa Afiada, em São Paulo, no dia 15 de maio. Na entrevista, ele critica a parcialidade dos grandes veículos de comunicação, como Globo e Veja, defende a modernização da Lei das Comunicações e acredita no crescimento das mídias alternativas.

Leia abaixo a íntegra da entrevista exclusiva:

Revista Ponto de Fusão – Na sua opinião, qual o caminho para o Brasil ter uma mídia mais democrática, não só no sentido da liberdade de expressão dos veículos, mas também de haver mais pluralidade, mais opções de meios de comunicação pro brasileiro poder escolher?

Paulo Henrique Amorim – O caminho é muito simples. Ou a presidenta Dilma manda para o congresso um projeto de lei ou um deputado do PT ou da base aliada apresenta um projeto de lei. E aí deixa o congresso se estraçalhar, se engalfinhar. A bancada da Globo torpedeia. A bancada do PT, teoricamente, luta pela democratização dos meios de comunicação. Tenho as minhas dúvidas sobre se a bancada do PT agirá assim. A bancada do PCdoB eu tenho certeza que fará, porque o PCdoB já entrou com uma moção pra fazer isso.

Outra maneira de apressar tudo isso é o governo incorporar ou assumir um trabalho belíssimo da FNDC (Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação), a frente nacional de democratização da comunicação, que fez um projeto de lei quase perfeito, progrediu em relação ao projeto de lei que se conhece do ministro Franklin Martins [ex-ministro do governo Lula], e que poderia ser o ponto de partida de um projeto de iniciativa governamental.

RPF – O que justifica a necessidade de mudança na Lei de Comunicação?

PHA – O que acontece é que o Brasil é o único país dito e chamado civilizado e democrático que não tem um marco regulatório da comunicação. Porque o marco regulatório da comunicação existe nos Estados Unidos, existe na Alemanha, existe na França, existe na Itália e acabou de ser refeito e aperfeiçoado na Inglaterra por causa das bandidagens dos jornalistas do grupo do Murdock [espécie de Roberto marinho britânico]. Aqui não. Nós não copiamos a Argentina, não copiamos o Uruguai, não copiamos o Chile, não copiamos o México…[todos com leis que limitam a concentração de mídia] porque nós somos “melhores”…

Na legislação americana, que é o país mais capitalista do mundo, existe a proibição à propriedade cruzada. No mesmo mercado você não pode ser dono de uma rede de televisão e um jornal, uma rede de televisão e uma revista. Nos Estados Unidos você não pode ter mais do que 30% da audiência em um determinado mercado. Aqui vale a lei da selva.

A lei que regula a radiodifusão no Brasil é de 1962. Foi sancionada pelo grande presidente João Goulart. E essa lei, ela veio do congresso, veio da bancada da televisão, liderada na época pelo grupo associados [Diários Associados, de Assis Châteaubriant], pelo então deputado João Calmon. O Jango pegou esse projeto de lei e apôs 40 vetos, voltou para o congresso e o congresso derrubou os 40 vetos do Jango. E é essa lei que ta em vigor desde 1962. No Brasil a televisão era preto e branco, não tinha internet e tinha mais televizinho do que televisor [televizinho era o costume da vizinhança se reunir na casa do morador mais abastado das imediações para assistir à TV, uma novidade para poucos na época].

RPF – Mesmo com todas essas dificuldades, o congresso com essa formatação conservadora que está, a dúvida a respeito de como vai se comportar a bancada do PT, tem chances de um projeto de democratização da mídia ser aprovado?

PHA – Nenhuma chance, porque o congresso não tomará a iniciativa, sobretudo a Câmara, nas mãos desse “grande brasileiro”, que é o Eduardo Cunha, que deve ter no momento uma preocupação muito importante, que é saber se a tornozeleira eletrônica combina com as gravatas Hermés que ele usa, porque tem que haver uma combinação, ele é um homem muito elegante [irônico].

Então, sob a iniciativa do Eduardo Cunha não haverá provavelmente na Câmara essa discussão. E ele já disse que não vai ter. O PT, eu não vejo da parte do PT nenhum interesse. Porque o que eu vejo no PT é que eles adoram o PIG (Partido da Imprensa Golpista).

RPF – Mas o PT critica o PIG…

PHA – Embora critiquem o PIG, eles adoram porque o PT é majoritariamente paulista e aí eles levam o PIG a sério, o paulista leva o PIG a sério. Eu como sou carioca, eu morro de rir do Estadão, da Folha, da Veja, onde eu já trabalhei porque eu aprendi o jornalismo no Rio de janeiro, e lá ninguém levava a Folha a sério, ninguém levava o Estadão a sério.

Eu trabalhei na Veja no tempo do Mino Carta [diretor de redação de algumas das principais revistas brasileiras desde a década de 60]. Mas hoje a Veja é uma contrafação. A Veja, eu digo no meio site, é um detrito sólido de maré baixa.

O ministro Berzoini [Ricardo Berzoini, das Comunicações], que é uma pessoa dotada dos mais nobres sentimentos, um homem de bem, ele foi bernardizado [em alusão ao seu antecessor, Paulo Bernardo, muito criticado por não se empenhar na democratização da mídia]. Ele diz que vai discutir a questão da liberdade de expressão e de um marco regulatório. Aí eu pergunto: discutir o que ministro? O que que falta discutir? Nós estamos com uma legislação de 1962, o senhor quer discutir o quê?

Ou seja, eles não querem. A chance é a Globo ser “googlada”.

RPF – O que isso significa?

PHA – Significa o seguinte: a Globo vai morrer gorda. Ela vai acabar com uma audiência muito boa, porque ela vai conseguir preservar o status quo, mas hoje o segundo maior beneficiário das verbas publicitárias é o Google. Não é a Record, não é o Sílvio Santos, é o Google.

O Google ta comendo a Globo pela borda. O Netflix vai tomar a audiência da Globo. Já ta tomando a audiência nos estados unidos. A internet vai comer a Globo pela borda. Então, é um trabalho que a tecnologia vai fazer por si própria. Porque se depender da Dilma e do PT a Globo vai ficar exatamente como está.

Eu estou muito pessimista [em relação à mudança na legislação de comunicação no Brasil].

RPF – Mesmo sendo assim, sem possibilidade aprovar o projeto de lei da mídia, nós temos uma profusão das chamadas mídias alternativas, de vários veículos de comunicação mais modestos, mas que estão disputando espaço com as grandes redes. Agora, como fazer pra essas mídias seduzirem mais o público, conseguirem atrair mais audiência?

PHA – Sim, claro. Isso mesmo. Mas você fez uma pergunta muito complicada, porque eu trabalho num blog Conversa Afiada e a gente rebola pra atrair o interesse do público, do amigo navegante, pra transformar em dinheiro essa audiência, que é muito boa, mas é uma batalha, a gente tem que fazer um esforço pra cada vez mais oferecer um produto de boa qualidade para o internauta vir nos visitar.

RPF – E o seu blog é uma das exceções porque tem realmente uma grande audiência, forma opinião. É bastante conhecido. Mas e os demais?

PHA – Espero que sim [que forme opinião], mas não é verdade que seja exceção. Nós temos o Azenha, o Rodrigo Viana, o Nassif, nós temos a Carta Capital, que faz um trabalho muito competente na internet, nós temos o Miro Borges, temos toda a turma do Barão de Itararé, que é um instituto de mídia alternativa que reúne os chamados blogueiros sujos, qualificação que nos foi dada, pra nosso orgulho pelo José Serra, por quem temos uma admiração e um respeito infinitos [risos].

Mas é da natureza desse produto, a opinião e a informação na internet, que você só tenha uma ideia de fato dessa massa visitando muitos, porque nenhum deles tem a audiência de uma TV aberta. Por mais que a gente repercuta, é claro que o Jornal Nacional sempre será uma força muito grande; decadente, porém. Quando eu, o Azenha e o Rodrigo Viana trabalhávamos no JN (Jornal Nacional) a audiência era entre 40 e 50. Hoje, eles estão na região sul, nos 20, 23, 22, 24. E depende da novela que vem antes e que vem depois. Eles são, na verdade, a mortadela do sanduíche.

O conjunto de blogs é que somados vai dar uma massa significativa, que se chama de cauda longa. É uma cauda muito longa de audiências relativamente baixas, mas que somadas dão um bicho grande. Então, isso com o tempo vai ser mais significativo do que é hoje.

Os blogs políticos no Brasil têm uma importância que não têm fora do Brasil. Não tem nos Estados Unidos, não tem na Alemanha, não tem na Itália, não tem na Argentina. Sabe por quê? Porque a imprensa brasileira é uma bosta. Desculpe a vulgaridade, mas a vulgaridade pretende espelhar o que eu to falando. To falando da Folha, do Estadão, da Veja.

Não resistem a uma análise mínima dos padrões do bom jornalismo. E cada vez informam menos, cada vez têm menos notícias; além de informar mal, de deformar, de fazer uma seleção safada, de fechar a porta pra liberdade de expressão. É por isso que a gente tem espaço. Porque eles são muito ruins.

RPF- Além da internet, essas mídias alternativas conseguem se estender para o jornalismo impresso, para a TV? Você vê esse movimento crescendo?

PHA – Sim, eu acho que nesse movimento quanto mais gente melhor e quanto mais meios de comunicação houver mais gente será atingida, mais gente será mobilizada, mais gente será sensibilizada. Existe no Brasil, por causa do governo, o maior culpado, e secundariamente por causa da Globo, uma infinita ignorância, uma ilimitada ignorância sobre o Brasil. O Brasil é determinado, é focado, ele é condicionado pela visão parcial, limitada deliberadamente discricionária da elite jornalística de São Paulo.

O Brasil vê o Brasil pelo olhar da Folha, do Estadão, da Veja e da Globo. Os padrões de aferição de audiência e qualidade são todos eles, feitos em 2100 lares que o ibope mede em São Paulo.
E ninguém fica sabendo o que está acontecendo no RS, em MT, TO.

Você sabe, por exemplo, que uma das regiões mais férteis produtivas onde a expansão da agricultura brasileira é mais brilhante. Você já ouviu falar do Mapitobá? Não sabe que ali a agricultura brasileira parece a Califórnia, a terra fértil da Ucrânia, parece a terra roxa do Paraná.
Você sabe de onde pra onde vai a ferrovia norte sul, onde começa e onde acaba? O Brasil esta sendo cortado como duas linhas centrais na vertical e na horizontal e ninguém sabe por que se ignora a geografia do Brasil.

E isso é culpa do governo também, que só fala sobre economia. O governo precisa do aval da Globo e das agencias de risco [que avaliam o desempenho econômico dos países] pra governar. E a Globo é nada mais que o trombone, o auto falante das agências de risco, do FMI, que em última instância são os trombones dos bancos…e o governo fica se explicando pra eles.

RPF – Vem dessa falta de informações aquelas manifestações antes e depois das eleições: xenofobia, regionalismo exacerbado?

PHA – Não, aquilo ali tem uma química diferente. Aquela ninguém sabe direito o que é. Mas pode ser pelo sentimento dos ‘coxinhas’. Principalmente de São Paulo, de Higienópolis, subindo esse viaduto aqui perto. Eles estão indignados. Primeiro porque São Paulo está perdendo participação no conjunto da economia brasileira. O PIB de São Paulo tem em relação ao do Brasil uma participação cada vez menor, porque o Brasil ta crescendo fora de São Paulo. E o Brasil melhora fora de São Paulo.

Uma boa parte dessa crise, desse ambiente de mau humor, de ressentimento, essa biles que contamina a opinião pública brasileira tem origem em São Paulo. Aí essa classe mediazinha coxinha, que bate panela, vai pra rua. Deixe ir pra rua, nunca vi manifestação derrubar governo. Manifestação não derruba governo nenhum.

Teve manifestação em Hong Kong e o governo não caiu. [Após a] manifestação em maio de 1968 entrou um governo de direita na França. Manifestação bota a direita no poder. Manifestação contra o Obama elegeu o congresso mais reacionário da história dos Estados Unidos. E manifestação no Brasil elegeu o congresso mais reacionário da historia do país. Portanto, não muda nada, se muda é pra pior. Eles vão ficar batendo panela e a Dilma governando. Agora, o problema é que ninguém sabe o que a Dilma faz, é um governo trancado em casa, de costas para o país.

RPF- E esta incoerência de se ter um grupos pedindo a volta da ditadura, do militarismo nos meios de manifestações, que só são possíveis porque estamos numa democracia?

PHA – [Por isso] Eu não gosto de manifestação. Eu gosto de greve. Porque aí o cara vai lá pedir aumento [de salários], que nem na Volkswagen, suspenderam as demissões. Fechar a via Anchieta e dizer assim: quero meu salário, quero meu emprego! Isso eu gosto.

Agora, ir lá pra Avenida Paulista, pra ficar comendo coxinha e tomando champanhe no camarote do Oliva [Vitor, empresário brasileiro], Isso não me interessa, isso não muda nada. Vão lá pra fazer barulho. Como diz o Mino Carta, vão lá por que é engraçado, pela farra. E pra falar mal do governo. Claro que eles querem os militares.

No fundo, o substrato disso é acabar com a democracia, acabar com a manifestação do povo, com a soberania do povo. Democracia é a soberania do povo. É isso que eles não querem. Eles querem um regime militar ou então um regime de economista de banco, como era no regime do Fernando Henrique [Cardoso], que era governado pelos bancos, que tinha a ideologia dos bancos.

RPF- Paulo, você falou dessa capacidade da comunicação da mídia alternativa pra discutir política, economia, e vai para enfrentamento. E quando a gente quer falar de outros conteúdos que os leitores também procuram, como cultura, esportes…

PHA – Vamos falar de cultura e esportes. O predomínio da Globo é responsável pelo sufocamento cultural do Brasil. A Globo matou a dramaturgia brasileira. Qual é o último dramaturgo brasileiro? Cadê o Plínio Marcos? Cadê o Jorge de Andrade ? Hoje as peças que você vai assistir peças de são peças de Vaudeville, peças de brincadeira com artistas globais.

A Fernanda Montenegro, a Nathália Timberg, que são duas das maiores atrizes que eu já vi na minha vida, sendo obrigadas a fazerem papéis ridículos na novela Babilônia.

Vamos falar de cinema brasileiro, cinema nacional. O que é que tem de bom?

RPF- A quantidade de filmes lançados tem aumentado…

PHA – É tudo Globo, tudo Globo Filmes, é tudo xarope, é tudo brincadeirinha, é tudo policialzinho de quinta categoria, é tudo comediazinha. Cadê o Glauber Rocha? Tem aquele pernambucano fantástico de “O som ao redor” [dirigido por Kleber Mendonça Filho]. Ele se recusou a ser produzido pela Globo Filmes e fez um grande filme.

É isso então, cultura zero. Estamos na cultura da Ivetinha, de programas no estilo American Idol, de campeonato de cantor.

RPF- Você ia comentar sobre esportes também…

PHA – É uma vergonha o futebol brasileiro. Ele é dominado pela CBF, que por sua vez é dominada pela Globo, que faz um campeonato brasileiro que dá três jogadores para a seleção brasileira, sendo dois goleiros.

Corinthians e São Paulo eliminados do campeonato sul americano sabe por quê? Por que os clubes são controlados e financiados pela Globo e por essa lei neoliberal que é a lei do passe. A lei do passe é feita pros agentes, não é pros times, não é pro Brasil.

Esse futebol que a gente joga no Brasil hoje, no Brasileirão, não pega a terceira divisão do campeonato Inglês.

RPF- Já declararam a morte do jornalismo impresso várias vezes, agora estão falando sobre isso de novo. Você acha que tem vida, tem futuro o jornalismo impresso.

PHA – Tem pro jornalismo de nicho. O modelo de negócios do jornalismo impresso foi pro saco, não tem futuro. Tem o jornalismo de nicho, que é a revista dirigida aos Metalúrgicos de Sorocaba é a “The Economist”, na Inglaterra, é a Carta Capital no Brasil.

A Carta Capital que é dirigida ao nicho de pessoas de alto padrão intelectual e que pensam contra o PIG. Isso é nicho.

Mas isso [o avanço do jornalismo de nicho] depende muito da qualidade.

RPF- e como se conquista essa qualidade?

PHA – Qualidade você conquista com o trabalho, com estudo com leitura, e, sobretudo, no que diz respeito ao jornalismo, você conquista com reportagem, apurando, se informando, telefonando, indo pros lugares, pegando depoimentos. É assim que você faz qualidade. Os blogs, por exemplo. Não adianta você só dar opinião, porque todo mundo tem opinião, você precisa ter informação, você precisa ter conteúdo. Precisa ter músculo.

RPF- O diploma de jornalista continua importante?

PHA – Não. Eu acho que o ideal é que o jornalista tenha um diploma universitário, seja de jornalismo, economia, filosofia, historia, geografia, literatura portuguesa, bioquímica, seja qual formação for.

O curso universitário te dá, teoricamente, disciplina, leitura, convivência, visão de mundo. Agora, não é obrigatório você fazer curso de jornalismo, porque na minha modesta opinião o jornalismo no fundo você aprende tudo em três meses.

O que o jornalista precisa é ler Machado de Assis na fase madura, Dom Casmurro, Quincas Borba, Brás Cubas, Memorial de Aires e Esaú e Jacó. É isso que precisa pra ser jornalista. E ir pra rua, olhar ver, apurar, se informar, estudar inglês pra poder ler os melhores jornais do mundo, que são os ingleses, depois os americanos. Estudar espanhol, pra ver que o Brasil não está numa redoma, isso aqui não é sozinho no mundo.

RPF- O chamado PIG vende a imagem de imparcialidade jornalística…

PHA – Não vende mais. A grande imprensa, que nos chamamos de PIG, o Partido da Imprensa Golpista prega para os convertidos. Para tentar preservar o seu modelo de negócio eles tentam segurar os leitores fiéis, que são os coxinhas, a direita. E o Estadão e a Folha ficam disputando, um pega numa ponta o outro pega na outra ponta da coxa. Evidentemente que os dois estão quebrados. Vamos falar sério, eles não tem mais a pretensão da imparcialidade, eles são militantemente defensores dos interesses da Casa Grande.

RPF- Mas a imparcialidade existe ou existiu? É possível?

PHA – Existe e é possível. A imprensa pode ser imparcial. Ela num noticiário ela pode ser perfeitamente objetiva, por mais que se diga que ser objetivo, que ser neutro é impossível. Até é impossível, mas você pode procurar tentar, pode reduzir a parcialidade. O que não pode fazer é como se faz no PIG. Eles mentem, fraudam, escondem.

Jornalistas entram nessa onda, aceitam trabalhar dessa forma para pagar as contas da família, vai fazer o que tem que fazer pra pagar a conta da família. Vai trabalhar na UOL, aí vai pra Folha, vai trabalhar na Época [revista]. Mas deve trabalhar com o dedo no nariz.

O Mino Carta tem uma tese que eu considero muito boa Ele diz que no Brasil os jornalistas são piores que os patrões do PIG, porque pra defender seus empregos eles fazem mais safadezas que o patrão provavelmente exigiria, são mais realistas que o rei, e eu tenho certeza disso.
Talvez não seja possível ser imparcial, mas é uma tentativa que você deve fazer.

A imprensa inglesa, alemã, italiana, que é uma imprensa de muita qualidade [seguem essa linha]. A imprensa americana tem uma série de distorções, o The New York Times é um jornal da aristocracia novaiorquina, e, portanto, tem em relação aos judeus, em relação ao estado de Israel uma posição, com a qual eu não concordo, uma posição de leniência (excessiva tolerância), diante da violência de Israel com relação aos palestinos. Mas, fora isso, você pode ler o New York Times sobre assuntos da política interna americana.

Porque lá é mais embaixo, porque você não pode ficar só Democrata, só Republicano. Lá tem que ficar segurando as duas velas. Eles podem ser a favor de Israel e contra a China. No New York Times tudo da China dá errado. Mas é compreensível porque eles são o símbolo de um império que agora esta sendo contestado progressivamente pela China.

Tudo bem, não precisa ler sobre a China no York Times, mas vai ler noutro lugar. Vai ler nos jornais ingleses, o Guardian, por exemplo, um excelente jornal. Agora, você pode tentar ser menos parcial. Bernardo Kucinski tem razão [jornalista e escritor, que diz não existir imparcialidade no jornalismo], nós somos seres humanos, mas a gente pode tentar ser menos parcial.

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