Em 480 hectares, a poucos minutos do centro de Tapiraí, moram 36 famílias indígenas guarani-MBya, que tiveram de sair do Pico do Jaraguá, terra indígena Tekoa Pyau, em São Paulo, devido à construção do Rodoanel.
Instaladas há menos de dois anos, em terras de monocultivo, essas famílias construíram suas casas com eucaliptos e, contando com “uma vaquinha” feita por amigos não-indígenas, tiveram instaladas duas bombas na parte mais alta, que fazem subir morro acima a água da nascente do rio do Ouro.
Quase metade dos integrantes da aldeia são crianças, inclusive, algumas que já nasceram em Tapiraí. As dificuldades são enormes, diante a dificuldade de se produzir alimento em terreno sem nutrientes.
Como ação emergencial foi construído um banheiro seco, de fossa. Por isso, a necessidade por banheiros é urgente. Na cozinha comunitária, improvisada, falta pia para a higienização adequada dos alimentos. Há apenas um fogão, com gás de cozinha e uma geladeira, que foram doados.
A estudante de turismo e pesquisadora das questões indígenas, desde 2015, Lucinda da Silveira Leite acompanha de perto o cotidiano da aldeia e elabora projetos que possam contribuir para preservar os saberes tradicionais desse povo guarani.
Entre eles, o que recebe apoio do Banco de Alimentos de Sorocaba (BAS) para doação de uma cesta mensal por família por 12 meses.
Pela quarta vez, nesta quinta-feira, dia 29, o caminhão do Banco desceu para a aldeia acompanhado pelos olhares ansiosos de crianças e adultos (confira fotos abaixo). O mais velho da aldeia é o cacique (Xeramõi, que se pronuncia “Tiremói”) José Luis, que deve ter aproximadamente 70 anos e passa a maior parte do dia dentro do Opy (“Opan”), a casa de reza.
A língua de todos é o guarani. Mas até as crianças falam português, como segundo idioma, quando recebem visitas. A tradição se mantém também nos cantos e na espiritualidade que mantêm a união dos membros da aldeia.
As crianças vão para a escola no bairro do Turvo, em Tapiraí. A prefeitura disponibiliza ônibus. Mas de acordo com William, outra liderança da aldeia, genro de Tiremói, a intenção é que seja construída uma escola guarani na área, até 2020.
Desafios
Fora a pia que precisa ser instalada na cozinha comunitária e a construção de banheiros na área, falta ainda a recuperação do solo para a futura roça, que poderá alimentar a aldeia. Tudo envolve custo e muita mobilização.
Lucinda conta que a Cooperafloresta, projeto para agroflorestar do Vale do Ribeira, é parceira em projeto para a implantação de um sistema que beneficie o solo, para que se possa produzir alimentos de forma sustentável.
Para gerar renda algumas mulheres e homens da aldeia produzem artesanatos que são vendidos em alguns pontos em Sorocaba, como no restaurante Vegan Safe (rua Capitão Nascimento Filho) e em banca própria na aldeia.
Ainda há muita trilha a ser feita pela preservação da identidade étnica, inclusive nos artesanatos. Lucinda conta que trabalha essa questão com eles e assim que algumas melhorias forem realizadas será implementado um Plano de Turismo, para ajudá-los.
Proteção Nhanderu
A ligação com o Nhanderu (Criador) é visível aos olhos quando as crianças, com os pés em contato direto com o solo e livres pela aldeia, nos convidam a conhecer sobre o tempo tecido de amorosidade e respeito, uns pelos outros.
Amor compartilhado também pelos cães, que se espalham por toda a área. São aproximadamente 30 cachorros que precisam, urgentemente, de ração, vacinas e castração.
Quem pode ajudar?
Kits de escova e pasta dental, fraldas M, G, XG, ração para cachorros são alguns itens necessários para quem puder contribuir. As doações podem ser levadas até o Banco de Alimentos (BAS), que fica no Ceagesp ou no Sindicato dos Metalúrgicos, na rua Julio Hanser, 140, para serem encaminhados à aldeia.
“Buscamos apoio também com produtores rurais de frutas, verduras e legumes”, ressalta Lucinda. Mão-de-obra também é bem-vinda para a instalação da pia da cozinha e de banheiros, além de um veterinário ou veterinária, que se dispuser a ir castrar os cães.