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Racismo

Negros são 63% dos abordados pela PM no Rio; situação se repete no país

Pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania destaca o racismo do país onde a polícia mata uma pessoa negra a cada quatro horas; mortes recentes com destaque na mídia tiveram PMs envolvidos

Imprensa SMetal
Mattheus Santos
Militantes do SMetal e do Movimento Negro no ato por justiça a Moïse, em São Paulo

Militantes do SMetal e do Movimento Negro no ato por justiça a Moïse, em São Paulo

Hiago Macedo de Oliveira Bastos, de 22 anos. Durval Teófilo Filho, de 38 anos. Moïse Kabagambe, de 24 anos. Três homens que, provavelmente, não se conheciam. Em comum, eles guardam o destino: são negros e foram mortos recentemente no Rio de Janeiro.

Mais do que isso, a morte deles guardam outra relação: Hiago e Durval foram confundidos com bandidos e assassinados por autoridades policiais. Um policial militar atirou em Hiago e um sargento da Marinha disparou contra Durval. Já Moïse foi brutalmente espancado ao cobrar o salário em um quiosque comandado por um policial militar.

Os casos dialogam diretamente com o levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que foi divulgado nesta terça-feira, 15. Segundo a pesquisa Elemento Suspeito, 63% das pessoas abordadas pela polícia na cidade do Rio de Janeiro são negras.

Os números apresentados são chocantes. Das pessoas abordadas simplesmente andando a pé, 68% são pretas. Outras 71% pessoas negras foram abordadas no transporte público. 17% dessas pessoas foram paradas mais de 10 vezes pela polícia.

Além disso, os dados revelam que 79% deles tiveram a casa revistada pela PM e 74% tem amigos ou parentes negros mortos pelas mãos da polícia.

Realidade nacional

Mattheus Santos
Dirigentes do SMetal protestaram em São Paulo no início do mês

Dirigentes do SMetal protestaram em São Paulo no início do mês

O boletim da Rede de Observatórios da Segurança, que saiu no final do ano passado, confirma essa realidade. O estado do Rio de Janeiro é o que mais tem pessoas negras mortas pela polícia. São Paulo vem em seguida.

Os dados correspondem ao ano de 2020 e apontam que, ao todo, das 2.653 mortes causadas pela polícia, 82,7% foram de pessoas negras. O levantamento “Pele alvo: a cor da violência policial” revela que, em pelo menos seis estados brasileiros, uma pessoa negra foi morta pela polícia a cada quatro horas.

No Rio, foram 939 óbitos de negros em decorrência de ações policiais. Em São Paulo, o percentual chega a 63% de vítimas negras. Os números se repetem em outras regiões, como no Nordeste. A Bahia tem o maior percentual de negros mortos pela polícia, 98%.

Governo Bolsonaro dá forças para o racismo

Mattheus Santos
Everton da Silva Souza é dirigente da Clarios e do Coletivo Racial do Sindicato

Everton da Silva Souza é dirigente da Clarios e do Coletivo Racial do Sindicato

Para Everton da Silva Souza, do Coletivo Racial do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), as pesquisas revelam o racismo estrutural da sociedade brasileira. “Infelizmente ainda não superamos o passado escravagista do Brasil, que penalizou milhares de negros durante séculos e faz perpetuar a situação do preconceito racial. E o que vemos na mídia é só a ponta desse problema. Temos muito mais mortes que não ganham destaque, que as mães choram sozinhas e caladas”.

Everton é enfático ao afirmar que o governo Bolsonaro acirrou o cenário de preconceito. “Bolsonaro e sua corja são declaradamente racistas e não escondem isso. Chegamos de ver um negro, aquele que preside a Fundação Palmares, apoiando essa gente e usando da posição para tentar manchar a imagem de pessoas brutalmente assassinadas, como o jovem Moïse. É realmente a ascensão do racismo que ganha força sob esse governo fascista”.

Fábio Rossy, dirigente do SMetal e também do Coletivo Racial, lembra que há pouco tempo tínhamos um cenário diferente. “Apesar da violência contra o povo preto sempre ter sido grande, a gente via uma mudança, com negros ocupando os espaços, entrando nas universidades, no mercado de trabalho. Agora, assistimos a esse retrocesso sem tamanho”.

Novos caminhos

Arquivo Pessoal
Dirigente da ZF do Brasil, Fabio Rossy vai assumir uma vaga no Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Sorocaba

Dirigente da ZF do Brasil, Fabio Rossy vai assumir uma vaga no Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Sorocaba

Fábio, que também vai assumir uma vaga no Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Sorocaba, como representante do Sindicato, destaca que é preciso atenção constante para mudar essa situação. “Vejo que, muitas vezes, o movimento negro é reativo, só age quando tem um caso de grande repercussão e a violência, o preconceito está aí o tempo todo. Precisamos de ações concretas cotidianamente para construir outra realidade. Só com uma construção coletiva e consistente vamos mudar essa história”.

O presidente do SMetal, Leandro Soares, aponta para a necessidade de eleger políticos comprometidos com a diversidade. “Esse ano temos a chance de tirar do poder essa gente mesquinha que não respeita o negro, a mulher, o LGBTQIA+. Precisamos de representantes no governo estadual, nas assembleias legislativas, no congresso e na presidência preocupados com o novo povo, preparados para implantar políticas públicas inclusivas de fato. Esse é nosso compromisso nessas eleições”.

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