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Além dos 9,46%

Metalúrgico chega gastar metade do salário apenas com alimentação básica

Dados da Cesta Básica Sorocabana mostram que o preço de itens básicos de alimentação subiu 27,64% em um ano; somado com gás de cozinha e combustível, o trabalhador chega a comprometer 73% do salário

Imprensa SMetal
Mariana M Maginador/Banco de Alimentos
Trabalhador está trocando de marca ou deixando de comprar certos produtos para alimentação básica

Trabalhador está trocando de marca ou deixando de comprar certos produtos para alimentação básica

Você, trabalhador, sabe o quanto gasta do seu salário para colocar comida na mesa da família? Não é pouco. E, cada vez mais, esse custo pesa no seu bolso. Garantir uma alimentação básica pode custar mais de 50% dos ganhos mensais de muitos trabalhadores. Isso sem contar outros gastos como combustível e gás de cozinha.

Em um ano, fazer as compras de itens básicos de alimentação ficou 27,64% mais caro em Sorocaba. Os dados são da pesquisa Cesta Básica Sorocabana, realizada pela Universidade de Sorocaba (Uniso).

O estudo da Uniso acompanha os preços de 34 produtos básicos para alimentação, higiene pessoal e limpeza doméstica. E quando se diz básico, é básico mesmo: arroz, feijão, carne, farinha de mandioca, sabão em pó e sabonete, são alguns dos itens analisados (veja a lista completa abaixo).

Comprar esses 34 itens básico custa R$ 955,41 em Sorocaba. Para se ter uma ideia do quanto o valor é alto, basta comparar com o salário mínimo, que hoje é de R$ 1.100,00. Significa que 86,9% do rendimento mensal do trabalhador é comprometido apenas nesse quesito.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Leandro Soares, enfatiza a necessidade de recuperar o poder de compra dos metalúrgicos. “É a classe trabalhadora que levanta cedo todos os dias e mantém as fábricas produzindo, gerando assim lucro e riqueza. Portanto, esses pais e mães de família precisam ter sua força de trabalho valorizada e ganhar o suficiente para viver com dignidade. Sindicato vai lutar para que isso aconteça”.

Custo da alimentação básica, em Sorocaba, é de R$ 955,41 e consome 86,9% do salário mínimo, que é de R$ 1,1 mil

Custo alto para o metalúrgico

Para o secretário-geral do SMetal, Silvio Ferreira, é preciso olhar para o cenário de forma ampla. “Quando falamos que a inflação da nossa data-base está acumulada em 9,46% não dá a real dimensão de como tudo pesa no bolso do trabalhador. O metalúrgico já não consegue encher o carrinho no supermercado como antes, tem que escolher entre um produto ou outro, sofre para abastecer e pagar o combustível. Não podemos aceitar isso de braços cruzados, temos que mobilizar nossa categoria para mudar essa situação”.

Levantamento da subseção do Dieese, do SMetal, comprova esse cenário. Um metalúrgico que ganha R$ 1,8 mil gasta 53,08% do salário com a alimentação em Sorocaba. Há um ano, ele desembolsava 41,58%, ou seja, 11,05% do salário a menos. Para ele comprar 5kg de carne de segunda, o mínimo por semana para uma família de quatro pessoas, precisa tirar 8,26% do que ganha no mês, um custo 36,53% maior do que tinha em agosto de 2020.

Um litro de óleo de soja que custava R$ 4,71 chega, agora, a R$ 7,91. Ou seja, o trabalhador gasta 67,94% a mais para ter esse produto em casa. Já o gás de cozinha subiu 33% em um ano e chega a consumir mais de 5% do salário desse mesmo metalúrgico.

Se considerar outros gastos, como abastecer, que subiu 39,31% em um ano, o metalúrgico que ganha R$ 1,8 mil compromete mais de 73% do salário com alimentação básica, gás de cozinha e combustível.

Na base do SMetal, na qual o trabalhador da produção tem remuneração média de aproximadamente R$ 3 mil, o custo de vida também subiu significativamente. Em agosto de 2020, esse metalúrgico comprometia 35,1% do salário com itens básicos de alimentação, gás de cozinha e combustível. Agora, ele precisa gastar 45,97% do que ganha no mês para isso, um acréscimo de mais de 10%.

O economista Fernando Lima, responsável pelo estudo, aponta que o aumento generalizado desses produtos impactou duramente o salário do metalúrgico. “Tanto subiu que chegou ao ponto de o trabalhador ter que mudar seus hábitos alimentares, seja substituindo produtos ou diminuindo quantidades. A demora de iniciativas do Governo Federal para fazer a gestão adequada dos preços provocou o cenário que vivemos hoje”.

Conta que não bate

Do outro lado, os empresários continuam confiantes e com a produção em alta. Esses mesmos empresários, na mesa de negociação com a Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM/CUT), reclamam da situação e já sinalizam: não vão pagar um reajuste que reponha a inflação e, ainda, querem dividir a data-base em duas vezes.

Para Leandro, existe uma tentativa do setor empresarial de jogar o peso da crise econômica para o trabalhador. “Crise esta que eles mesmos criaram e que se arrasta desde o golpe de 2016, se agravando com a pandemia da Covid-19. De lá para cá, os empresários e os governos Temer e Bolsonaro implantaram uma pesada agenda de retirada de direitos da classe trabalhadora, não controlaram a inflação, não fizeram investimentos na indústria. Com isso, o salário do trabalhador foi desvalorizado ao mesmo tempo que tudo ficou mais caro”.

Silvio completa que, durante a pandemia, uma parte considerável dos metalúrgicos continuou trabalhando. “São pessoas que tiveram que arriscar suas vidas para garantir o sustento de suas famílias. E foi pelo esforço desses trabalhadores que a indústria seguiu produzindo e, agora, já está com os mesmos índices de antes da pandemia. No ano passado, o trabalhador entendeu o cenário e fez a sua parte. Agora, é hora de cobrar o que é justo”.

Leandro finaliza dizendo que o Sindicato vai batalhar pela reposição integral da inflação e aumento real dos salários. “Não aceitamos a metade de nada e nem dividir o que quer que seja. Estamos mobilizando os metalúrgicos e nosso recado é bem claro: ou os trabalhadores recebem o que eles merecem ou vão conhecer a capacidade de luta da categoria”.

Confira a íntegra dos produtos e preços que compões a Cesta Básica Sorocabana:

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