Aos 17 anos, Isabelle Aryel Belarmino Simões (foto), estudante de odontologia, irá exercer o direito ao voto pela primeira vez em 2022, ano em que se comemora 90 anos do reconhecimento do voto feminino no Brasil. Animada, a estudante conta que sempre teve vontade de votar, “de sentir que estou ajudando na escolha de quem irá nos representar de alguma forma”.
O consentimento do voto feminino no país foi declarado no dia 24 de fevereiro de 1932 e incorporado à Constituição de 1934, porém, de forma facultativa. Somente em 1965, o direito da mulher escolher seus governantes tornou-se obrigatório, sendo equiparado ao dos homens.
“É importante comemorar as conquistas das mulheres, como quando passamos a ter voz nas urnas, mas temos que reforçar sempre que há muito no que se avançar e que a mudança começa agora”, é o que acredita Priscila Passos da Silva, dirigente sindical e membro do Coletivo de Mulheres do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal).
Para ela, uma das principais lutas das mulheres em relação à igualdade e representação nos tempos atuais é combater a violência política de gênero – que se tornou cotidiana no Brasil. Essa prática, que tem ocorrido em todos os âmbitos (municipal, estadual e federal), vai desde interrupções em falas, até chantagens, xingamentos, desmerecimentos e ameaças.
Segundo pesquisa do jornal Globo, divulgada em julho de 2021, 80,8% das deputadas e senadoras afirmam ter sofrido algum tipo de violência política de gênero durante o mandato. Entre elas, 54,8% foram violentadas dentro do próprio Congresso.
A vereadora sorocabana Iara Bernardi (PT), que está em seu quinto mandato no legislativo municipal e ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados por três vezes, é uma das vítimas dessa violência política de gênero. Ela relembra que se elegeu vereadora pela primeira vez na época da ditadura militar, período sombrio da política brasileira, mas o que tem acompanhado atualmente é uma quantidade de ofensas às mulheres nunca vista antes.
“Hoje, vejo um quadro violento e desrespeitoso, principalmente neste ano que temos uma Câmara na maioria bolsonarista. E tenho visto isso em várias Câmaras Municipais também, porque, na última eleição, elegemos muitas mulheres, pessoas LGBTQIA+, mulheres trans, feministas reconhecidas, e eu vejo que se formou uma cultura de ofensas muito grande, como aconteceu comigo aqui na Câmara Municipal, que me deixou espantada”, critica.
Segundo ela, o desrespeito às mulheres na política e em cargos de poder é generalizado. “Te julgam pela sua aparência, te julgam pela idade, pela cor da sua pele, pelo que você fala, pela sua ideologia. Nem nos tempos da ditadura vi algo como hoje. Muito incentivado também pelas falas do presidente, que minimizam as mulheres”, lamenta.
Representação feminina
Para a dirigente sindical Priscila da Silva, esses ataques às parlamentares, que foram democraticamente eleitas no Brasil, podem dificultar ainda mais a luta por representatividade feminina no cenário político. “Se somos a maioria das eleitoras, porque há tão poucas parlamentares mulheres?”, questiona.
“Essa instabilidade e insegurança faz com que muitas mulheres não queiram mais entrar para a política. Existem vários quadros ótimos de militantes feministas, com importantes pautas a serem debatidas na sociedade e não podemos deixar que essas vozes sejam caladas. Precisamos, urgentemente, de ações que inibam essa violência descabida”, ressalta.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil tem atualmente cerca de 147 milhões de eleitores. Desses, quase 77.800 milhões são mulheres e pouco mais de 69 milhões são homens.
Porém, apesar de representar 52,87% do eleitorado brasileiro, as mulheres são minorias em cargos políticos – sejam vereadoras, prefeitas, deputadas e senadoras. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, de 513 cadeiras, apenas 76 são ocupadas atualmente por deputadas. No Senado, há somente 13 senadoras entre as 81 vagas elegíveis.
Na cidade de Sorocaba não é diferente, o eleitorado feminino também é maioria, 53,1%. Mais de 262 mil eleitores são mulheres e 231.689 são homens. Por sua vez, de 20 cadeiras no legislativo, apenas duas são ocupadas por mulheres.
Para o presidente do SMetal, Leandro Soares, é fundamental que os homens também se engajem nessa luta. “É compromisso de todos nós lutar contra qualquer forma de machismo, contra a violência que tanto afetam as mulheres. Temos que trabalhar para fortalecer e garantir os espaços para as companheiras em todos os aspectos. A mudança só ocorre quando temos consciência que somos parte do problema e também parte da solução”.
Voto consciente
Consciente da importância do voto, Isabelle revela que, para a sua primeira eleição, está à procura de candidatos que efetivamente apoiem as pautas do movimento feminino.
“Mesmo com todas as evoluções sociais, ainda vivemos em uma sociedade machista e meu voto tem que ser em pessoa que representa aquilo que penso. Sendo uma mulher, não me vejo por exemplo, votando em alguém com ideais que oprimem as mulheres ou a diminuem de alguma forma”, assegura.
Solicite ou regularize seu título
O prazo para as pessoas solicitarem ou regularizarem o título de eleitor e participar das eleições de 2022 termina dia 4 de maio e, agora, dá para fazê-los sem sair de casa, pela internet. Confira aqui o passo a passo para solicitar ou regularizar o seu título de eleitor.
O primeiro turno das eleições de 2022 acontece no dia 2 de outubro. Neste ano, os brasileiros e brasileiras votarão para os cargos de deputados federal e estadual, senador, governador e presidente da República. O segundo turno está previsto para 30 de outubro.