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Entrevista

Lutar pela democracia no palco e na vida real

O ator e diretor Paulo Betti viveu uma infância de muitas dificuldades no antigo quilombo de Sorocaba e mostra sua indignação com a manipulação midiática-jurídica que prejudica a vida dos brasileiros

Revista Ponto de Fusão - Fernanda Ikedo
Divulgação

Paulo Betti durante cena da peça ‘Autobiografia Autorizada’

O ator e diretor Paulo Betti viveu sua infância e adolescência na Vila Leão, antigo quilombo em Sorocaba, e, atualmente, se desdobra entre as apresentações de sua peça “Autobiografia Autorizada” e nos ensaios para a nova novela das 19h, da Rede Globo.

Ele acaba de sair das gravações do filme “A Fera na Selva”, que dirige e atua junto com a atriz Eliane Giardini, sua ex-esposa. A obra está sendo montada por Eduardo Scorel, o mesmo que fez “Dois Perdidos em uma noite suja” e “Eles não usam Black-Tie”, entre tantos outros filmes.

A trajetória de Betti também sempre foi marcada pelo seu posicionamento político em favor dos movimentos progressistas e sempre deixou claro sua defesa pela democracia. Deu declarações a favor de Lula e de Dilma e respondeu críticas de colegas de trabalho, da Globo, sobre a luta por uma sociedade mais justa.

Com um currículo profissional consolidado, que inclui atuação em cerca de 60 obras cinematográficas como “Lamarca” e “Chatô, o Rei do Brasil”, dezenas de novelas e minisséries, Betti não teme represálias por suas escolhas. Durante a entrevista, ele mesmo afirma que deve ter perdido diversos trabalhos por seu pensamento político, mas em seus mais de 40 anos de carreira continua atuando e produzindo, sem deixar de lutar por um mundo melhor.

Revista Ponto de Fusão: No monólogo ‘Autobiografia autorizada‘ você conta sua vida de menino em Sorocaba. Você emocionou plateias do Rio – em sua cidade natal e até em Uberlândia e Bonito – com a vida familiar em situação econômica difícil e com os problemas de saúde do seu pai, na Vila Leão. Depois de tantas apresentações qual é o sentimento que ficou dessa infância/adolescência?

Paulo Betti: Ainda estou na estrada com a peça. Cada noite é diferente. O que fica cada vez mais claro para mim foram as condições especiais que tive a sorte de desfrutar: escola pública de boa qualidade, fez a diferença. Estudei no pré-primário e o primário anexo do Estadão, um curso especial, certamente criado para atender os professores e uma elite. Minha mãe conseguiu me colocar lá. De lá, saí para um preparatório no Grupo escolar Padilha e consegui passar no Ginásio Industrial, em período integral. Ainda tinha o trabalho social dos Salesianos, que eu frequentava e que cobria o pouco de tempo que eu tinha livre. Escola boa e gratuita foi tudo. Bons professores!

RPF: Qual foi a parte mais emocionante para você da peça?

Paulo Betti: Cada apresentação eu me emociono em momentos diferentes. Mas quando falo do meu avô, que era imigrante italiano e trabalhava a meia para o fazendeiro negro Achiles Campolim, no local onde hoje é o bairro Campolim, costumo me emocionar.

RPF: Entre os principais cenários de “A Fera na Selva”, filme que você dirige com Eliane Giardini e que está sendo montado por Eduardo Escorel, está o Morro Ipanema. Quais outros você destacaria?

Paulo Betti: Sorocaba e Votorantim entraram de cabeça no filme. Filmamos na Fundec, por exemplo, que foi muito generosa conosco, colocando a orquestra para tocar. Em Votorantim, filmamos no Hospital Santo Antonio e na represa de Itupararanga. Tive o apoio da Ossel e da Flextronics e tenho como coprodutora a Batuta Filmes de Sorocaba.

RPF: Entre quais trabalhos você divide seu tempo atualmente?

Paulo Betti: Apresentações da peça e a nova novela das 19h, ‘Rock Story’. Estou começando a ensaiar para a novela que começo a gravar em agosto. Fora isso, estou escrevendo “Autobiografia Autorizada”, o livro, mais completo do que a peça.

RPF: Em relação ao seu posicionamento político, de apoio aos movimentos sociais e ao Partido dos Trabalhadores (PT), você já encontrou algum problema ou impedimento para atuar ou conseguir patrocínios?

Paulo Betti: Meu posicionamento político sempre me trouxe consequências. Devo ter perdido uma porção de trabalhos, mas fazer o que né? Agora, com essa verdadeira perseguição ao PT, a coisa fica ainda mais grave. Mas continuo trabalhando. Acho que consegui construir uma carreira que independe de meus posicionamentos políticos.

RPF: Você já teve vários momentos em que provocou discussões políticas com colegas de trabalho por apoiar movimentos sociais e grandes líderes do PT. Como você analisa o ódio que surgiu e manifestado nas ruas e nas redes sociais, após as manipulações midiáticas para a intervenção no governo de Dilma?

Paulo Betti: O que vemos com relação a Dilma é um golpe realmente. Uma conjunção midiática/ judicial que levou a situação ao desfecho que prevemos. O ódio está relacionado com a luta de classes, sempre dissimulada. Por outro lado, creio que Dilma e o PT, Lula, inclusive, devem fazer uma autocrítica. Não adianta colocar só a culpa na mídia e na direita. Muitos problemas ocorreram, um legado maravilhoso do ponto de vista ético, foi jogado no lixo, por vaidade e deslumbramento com o poder. Mas isso não invalida tudo de bom que ocorreu, nem quer dizer que devemos abandonar a luta, pelo contrário, devemos encontrar e apoiar as opções mais progressistas e continuar a luta.

RPF: Temer vem promovendo um ataque aos direitos sociais e trabalhistas, você acredita que o grande público está conseguindo acompanhar essas ações com uma visão crítica?

Paulo Betti: O exemplo recente da pesquisa do Datafolha mostra a que ponto vai a manipulação. 62% dos pesquisados se colocaram por novas eleições e isso foi omitido. É muito difícil se manter crítico o tempo todo. A mídia é avassaladora. Mesmo assim, Lula lidera as pesquisas para presidência em 2018. A tentativa de destruir Lula é incessante. Qualquer erro que ele tenha cometido é hipervalorizado, suas qualidades são minimizadas.

RPF: Qual sua expectativa para o cenário político após os 180 dias do governo interino?

Paulo Betti: O Senado certamente vai impedir Dilma, dificilmente o desfecho não será esse.

RPF: Quer deixar alguma mensagem para seu público da Região Metropolitana de Sorocaba?

Paulo Betti: Gostaria muito que quando estrear meu filme, “A Fera na Selva”, o público comparecesse ao cinema para provocarmos um fenômeno de bilheteria. Esse é meu sonho, que o filme bata recordes de bilheteria na cidade.

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