Busca
Entrevista

Leandro Soares: O grande desafio

Em entrevista à Folha Metalúrgica, Leandro Soares, que se afasta do cargo de presidente do SMetal no próximo dia 1, assegura que emprego, crescimento econômico e valorização da indústria são possíveis

Imprensa SMetal
Divulgação
Leandro Soares tem 40 anos e foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) por dois mandatos

Leandro Soares tem 40 anos e foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) por dois mandatos

Em entrevista à Folha Metalúrgica, Leandro Soares, que se afasta do cargo de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) no dia 1º de junho para lançar sua pré-candidatura a deputado estadual, assegura que emprego, crescimento econômico e valorização da indústria são possíveis. Confira abaixo:

Leandro, vamos começar pelo básico: você está se afastando para ser pré-candidato a deputado estadual nas eleições 2022. O que te leva a essa decisão?

LEANDRO SOARES: Primeiro, foi um pedido do presidente Lula para que a gente viesse reforçar essa frente pela democracia no nosso país. E a democracia é defender os direitos dos trabalhadores e, principalmente, defender políticas afirmativas em prol da inclusão, da justiça social, das pessoas mais pobres, que o Partido dos Trabalhadores tem com bandeira.

Nós entendemos que a classe trabalhadora e toda sociedade brasileira vêm passando por momentos muito difíceis, de ataques, de retirada de direitos. Aqui no SMetal, trabalhamos incansavelmente para defender a categoria metalúrgica e também para atuar socialmente, nos tornando uma referência na luta por direitos em todos os sentidos. Mas sentimos a necessidade de mais, de levar essa luta para outros espaços e, por isso, atendemos ao pedido, nos colocando à disposição para esse desafio.

Muita gente tem dito que as eleições de 2022 são as eleições das nossas vidas. Você vê dessa maneira?

LEANDRO SOARES: Sem sombra de dúvida. O que está em jogo é a democracia, são os nossos direitos. É toda luta que as gerações anteriores tiveram para nos dar liberdade para reivindicar, para lutar por uma sociedade mais justa, por nossos direitos. Hoje, tudo que conquistamos com muito esforço está em risco por conta do fascismo que se instalou no Brasil desde o golpe de 2016 e que foi reforçado pela política de ódio implantada por Bolsonaro.

De um lado temos nós, que queremos a igualdade, direitos, respeito às pessoas, à vida. De outro estão aqueles que semeiam o ódio, a mentira, que desprezam a vida. É essa a escolha que teremos que fazer esse ano.

Como você se preparou para esse desafio? Como a atuação sindical te ajudou nesse sentido?

LEANDRO SOARES: O Sindicato moldou o meu perfil, minhas lutas em defesa da classe trabalhadora e daqueles que não têm voz. Nessa trajetória busquei aprender sobre as leis, como negociar, formular propostas que trouxessem benefícios para os metalúrgicos. Além disso, desde o golpe, a gente vem se indignando com a injustiça, de ver um país que, até pouco tempo, dava voz para todos, condições aos pobres de terem comida na mesa, de comprar sua casa ou ir para universidade e, hoje, cresce a desigualdade, a fome, a miséria. Nesse tempo todo, atuamos também enquanto Sindicato Cidadão, junto ao Banco de Alimentos de Sorocaba e outras entidades, para minimizar esses impactos e isso tudo nos preparou para batalhar pela mudança dessa realidade atual.

A situação está difícil, com o salário mínimo perdendo valor, tudo muito caro, desemprego e por aí vai. Ainda assim, a categoria metalúrgica contabiliza muitas conquistas. Como o trabalho do SMetal conseguiu superar esses obstáculos e ter resultados positivos?

LEANDRO SOARES: O Sindicato se modernizou e se preparou para as mudanças com muita agilidade. Principalmente se colocando à disposição de dialogar e sendo propositivo. Nós conseguimos demonstrar para categoria e para os empresários que só através do diálogo conseguiríamos sobreviver à Reforma Trabalhista, crise econômica, pandemia. Somos um grande exemplo. Os acordos que o Sindicato construiu trouxeram sustentação jurídica e econômica para um momento instável, sem deixar de lado a manutenção dos direitos. Isso trouxe investimentos que geraram mais de cinco mil postos de trabalho. E isso reflete para além da categoria, porque os acordos garantem milhões de reais na economia e ajuda manter os empregos e gerar novos postos de trabalho em outros setores.

Falando em obstáculos, a classe trabalhadora sofreu nos últimos seis anos com inúmeros ataques aos direitos. Você sempre costuma dizer que emprego se cria com direitos garantidos. Como isso é possível?

LEANDRO SOARES: O trabalhador sem valorização salarial, sem PPR, sem convênio médico, sem estabilidade não ajuda a economia girar. Garantir os direitos faz com que as pessoas comprem uma casa ou façam reforma, invistam num carro, desafoguem a saúde pública. Somente com estabilidade e direitos temos uma economia forte e isso gera emprego e renda. A categoria metalúrgica é exemplo disso. Mesmo com os ataques, conseguimos, através das Convenções Coletivas, manter os direitos e o resultado foi positivo tanto para os trabalhadores quanto para as empresas, que saíram fortalecidas com uma mão de obra qualificada e empenhada. Isso trouxe investimentos para Sorocaba e aumentou os postos de trabalho. É importante lembrar que, mesmo diante de crises econômicas, Lula e Dilma mantiveram os direitos e a valorização salarial, fazendo Brasil chegar ao pleno emprego. Essa é a receita.

Outro ponto importante nos seus discursos é que você sempre aponta para a falta de uma política industrial no país. Qual é o caminho para voltarmos a ter crescimento econômico, valorizando a indústria?

LEANDRO SOARES: Nós não temos mais uma política para a indústria, especialmente para as empresas de médio e pequeno porte. Tudo que o governo prevê é voltado para os megaempresários e para os banqueiros e sempre como viés de retirar direito dos trabalhadores. Infelizmente, o que vemos é uma política de sucateamento do setor industrial, especialmente do que ainda é serviço público, com o claro objetivo de entregar tudo para iniciativa privada. Não temos, por exemplo, um programa como Inovar Peças e Inova Autos ou os incentivos para linha branca ou mesmo um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que foi fundamental para impulsionar a indústria e aquecer a economia brasileira. É isso que precisamos, de investimentos, de incentivos que tragam autonomia e expansão do setor industrial para manter e gerar novos empregos.

Falando especificamente da nossa Região Metropolitana de Sorocaba, o que precisamos para expandir, para gerar mais empregos?

LEANDRO SOARES: Nossa região tem um setor industrial muito forte e Sorocaba, principalmente, é a prova disso. Temos inúmeras multinacionais que vêm expandindo suas plantas e a produção local. Mas isso acontece sem nenhuma ajuda do governo federal, estadual ou municipal. Quem está no poder nessas três instâncias está mais preocupado com pautas ideológicas do que com investimento, com emprego. A relação das empresas com o sindicato, sempre pronto para o diálogo e propondo medidas para o crescimento, tem sido o diferencial. Precisamos de governantes que valorizem e invistam na nossa região, que tem uma excelente localização e infraestrutura, especialmente em termos de universidades, faculdades e escolas técnicas. Temos que investir nisso para que os jovens voltem para esses espaços e estejam qualificados para o mercado. Acredito que com políticos comprometidos temos condições debater com empresários e trabalhadores caminhos para o fortalecimento da nossa região metropolitana.

Estamos falando bastante de mudança, de crescimento econômico, investimento na indústria, na criação de emprego. Tudo isso passa inevitavelmente pela política. Como um deputado pode contribuir nesse sentido?

LEANDRO SOARES: Cabe a um deputado propor leis e medidas que passam pela educação, saúde, cultura e economia, entre outros. Ele também tem que estar pronto para dialogar com os trabalhadores, com a sociedade, com outros políticos e com os empresários para construir propostas que melhorem a vida das pessoas. Um deputado precisa ser o representante do povo, buscar por caminhos que tornem nosso país mais justo, mais igualitário.

Ele tem que ser a voz do povo. Uma parte considerável dos políticos hoje não tem compromisso nenhum com essas bandeiras. A Região Metropolitana de Sorocaba, por exemplo, que foi uma grande luta do nosso companheiro Hamilton Pereira, não tem políticas públicas de investimentos, de integração. Só ver a questão do transporte, quem vem de fora tem que pagar dois ônibus para chegar no trabalho, estudar, ir ao médico. Então, mais do que trazer emendas parlamentares, precisamos de projetos que façam a diferença na vida das pessoas, que traga inclusão, emprego e renda.

Além de deputados e senadores, é fundamental que tenhamos governador e presidente alinhados com a luta dos trabalhadores, certo?

LEANDRO SOARES: De nada adianta deputados e senadores alinhados com as necessidades do povo se não tiver um presidente ou governador que seguem o mesmo caminho. E o contrário também é verdade. Quem governa o país ou o estado precisa de apoio para implantar importantes políticas que realmente atendam a sociedade. Então, precisamos tanto dos deputados estaduais e federais quanto de um presidente e um governador alinhados e compromissados em realmente trabalhar pelo nosso povo.

Qual recado você deixa para a categoria?

LEANDRO SOARES: Por força da legislação, tenho que me ausentar da presidência do SMetal para uma futura candidatura. Nesse período, o Sindicato será presidido pelo companheiro Silvio Ferreira, que tem como base o comprometimento com a nossa categoria. Mesmo afastado, meu compromisso continua igual e, mesmo de fora, estarei acompanhando e auxiliando no que for possível para continuar garantindo nossos direitos e ampliando nossas conquistas.

tags
candidato Deputado desafio entrevista Estadual leandro rumo sindicato SMETAL soares Sorocaba
VEJA
TAMBÉM