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Entrevista

Do Zé do Aperto à Folha Metalúrgica, estamos escrevendo uma história

Ex-presidente do SMetal, Geraldo Titotto, fala sobre as mudanças dos canais de comunicação do Sindicato desde os primeiros carros de som até a Folha Metalúrgica, que chegou à milésima edição

Imprensa SMetal
Foguinho/Imprensa SMetal
Geraldo Titotto foi presidente do SMetal entre 1989 e 1992

Geraldo Titotto foi presidente do SMetal entre 1989 e 1992

A partir de 1983, com a eleição de Wilson Fernando da Silva, o Bolinha, uma nova fase do sindicalismo na região teve início e ampliar o diálogo com a categoria foi uma das principais mudanças trazidas.

O carro de som na porta das empresas se tornou insuficiente e nasce o “´Zé do Aperto”, um boletim de denúncia, que falava das necessidades específicas dos trabalhadores de cada fábrica. Com o tempo, foi necessário profissionalizar a comunicação e, com isso, surge a Folha Metalúrgica.

Para celebrar as 1000 edições do jornal, Geraldo Titotto, ex-presidente do SMetal, conta um pouco desta história.

Folha: No início, a Folha Metalúrgica vem para denunciar situações dentro das fábricas. Uma vez que acontece a profissionalização do setor de imprensa do Sindicato, o que muda?

Titotto: Sindicato deve ter uma visão de classe. Essa mudança no perfil do material representava bem isso. A partir do momento em que a categoria, mesmo que de forma isolada por fábrica, tenha se organizado e obtido muitas conquistas, isso passou a dar uma visão de classe metalúrgica. Isso exige uma nova abordagem e a Folha Metalúrgica veio com este desafio, de começar a se relacionar com os trabalhadores não a partir desta ou daquela fábrica, mas do conjunto da categoria.

Folha: Na época dessas mudanças de comunicação o presidente era o companheiro Wilson Fernando da Silva. O que você pôde absorver da concepção do Bolinha de comunicação?

Titotto: Eu gostaria de falar de dois ex-dirigentes sindicais. O companheiro Bolinha era um grande dirigente de massas, ele sabia o poder da oratória e como ela poderia chegar nos trabalhadores e, mais do que isso, como eles poderiam se mobilizar em volta disso. Ele possibilitou que todo esse discurso se materializasse em um boletim informativo.

Ele tinha ao lado o companheiro Carlos Roberto de Gaspari, que foi o dirigente mais organizado, articulado e agitador que conheci. Então, nós tivemos o privilégio de ter de um lado o Bolinha, que era muito bom em comunicar com as massas, e o Gaspari que era extremamente organizado. A combinação dessas personalidades permitiu que este novo modelo de Folha Metalúrgica, compromissada com a formação e informação da categoria. Eles enxergavam todos os mecanismos de comunicação: carro de som, boletim, folhetos, como uma forma de entrar na vida e nas casas dos trabalhadores.

Folha: Do ponto de vista de comunicação, qual era o papel da Folha?

Titotto: Ela tinha um compromisso – e ainda hoje tem – de fazer um contraponto na cidade. De não permitir que apenas a imprensa conservadora coloque o seu ponto de vista. Mais do que isso, a Folha sai do campo da denúncia pela denúncia e procura, ao mesmo tempo, informar e formar o trabalhador. Em várias edições saía um lembrete para que o trabalhador não descartasse o jornal, que ele levasse para a casa, e sua esposa e seus filhos tivessem acesso.

Esse salto de qualidade da visão de classe me faz lembrar de algo que o Bolinha sempre falava, que era o hino das greves: “com as máquinas paradas nossa voz se ouvirá”. E a nossa voz foi ouvida em todos os sentidos, os metalúrgicos aprenderam que o caminho é o da luta e da solidariedade.

Folha: Atualmente, os canais de comunicação do Sindicato se expandiram. Como você enxerga isso?

Titotto: Eu acho que todas as formas de comunicação são importantes. Seja do ponto de vista das novas tecnologias, que são ferramentas essenciais de luta. Isso vem para agregar assim como outros mecanismos. Por exemplo: Dá para descartar o carro de som? Não dá! Você inova, mas não descarta. Existe espaço para todas as ferramentas e elas devem ser utilizadas para atendermos às demandas da categoria. A articulação desses meios, se tem por objetivo formar, informar e mobilizar o trabalhador, é válida.

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