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Sorocaba

Desmonte do acampamento de golpistas é feito com apoio logístico da Prefeitura

PM e GCM só olharam enquanto os golpistas desmontavam barracas e estruturas do 'pancadão' antidemocrático; apoio aos atos antidemocráticos pelo governo do prefeito Manga ocorre desde o início

Maíra Fernandes/Portal Porque
Maíra Fernandes/Portal Porque
Golpistas estavam acampados no bairro Santa Rosália desde novembro

Golpistas estavam acampados no bairro Santa Rosália desde novembro

Depois de mais de dois meses, os golpistas alojados irregularmente em Santa Rosália, onde fecharam uma avenida com a condescendência das autoridades para pedir um golpe militar, começaram, enfim, na tarde desta segunda-feira, 09, a desmontar o acampamento antidemocrático situado em frente à Base do Exército. Segundo foi informado no local, o desmonte do acampamento terá todo o apoio necessário da Prefeitura Municipal de Sorocaba — que cedeu veículos para a retirada das estruturas utilizadas para a ação ilegal — além de proteção das forças de segurança (veja vídeo abaixo).

Na conversa com os golpistas, o major, subcomandante da Base de Apoio do Exército, explicou aos golpistas (chamados de senhores e cidadãos “de bem”) estar apenas cumprindo ordens dos superiores. Por isso, precisava que desmobilizassem o acampamento, e informou que já havia acionado a secretaria de Segurança Urbana para cuidar da logística com vistas à retirada das barracas. A fala do major deixa claro que haveria cessão de caminhões por parte do poder público, para levar os materiais a qualquer lugar que precisassem ser levados.

Como o PORQUE apurou, os cones que cerceavam o direito dos sorocabanos de transitar nas vias próximas ao quartel eram de propriedade da Urbes – Trânsito e Transportes, ou seja, o apoio aos atos antidemocráticos pelo governo do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) ocorre desde o início, nos primeiros dias de novembro, logo após o resultado das eleições gerais de 2022.

Em vídeo enviado com exclusividade ao PORQUE, no momento em que o major conversa com os golpistas — já adiantando que não é para eles ficarem “assustados” –, a orientação do Exército é para falar “pacificamente com os senhores”, para que cumpram a determinação de desocupar o local, podendo acarretar, posteriormente, em uso da força. “A Prefeitura irá apoiar, junto com a PM”, afirmou.

Questionado pelos bolsonaristas se poderiam permanecer, mesmo sem as barracas, sob a justificativa de que cercear os atos golpistas deles seria anticonstitucional, o major respondeu: “É direito dos senhores, não vou falar o que é certo ou errado.” O interlocutor do Exército pontuava, reiteradamente, que se tratava de uma manifestação orgânica, pacífica e que ele estava ali cumprindo ordens.

Os golpistas, parecendo desacreditar no que ouviam, insistiam nos questionamentos e pontuavam que o local se manterá como ponto de encontro para planejarem outras formas de agir, dentro do ideal antidemocrático da horda. Em dado momento, uma mulher chegou a questionar o major: “Não ficaremos mais sob a sua proteção?”, e a resposta foi: “Não falei isso.” A partir da resposta do major, a mulher, mais tranquila, falou que o Exército precisa continuar protegendo o grupo, pois estão sendo atacados por pessoas que não são “de bem”. Um policial militar também reiterou que continuarão fazendo ronda naquele local, mas o major deixou claro que a ordem é não ter manifestações em frente aos quartéis.

“Então o Alexandre de Moraes agora manda no Brasil?” e “as Forças Armadas estão contra nós, contra o povo!” foram algumas das reações dos golpistas, claramente decepcionados com o fato das Forças Armadas, tão clamadas por eles, agora, têm, judicialmente, uma democracia para defender.

Sem pressa

Após a conversa com o major do Exército, os golpistas demonstravam calma e nenhuma pressa para recolher materiais como barracas e cartazes pedindo intervenção militar.

A invasão dos bolsonaristas que resultou em depredação do patrimônio público, em Brasília, teve como consequência a ordem de desocupação de todos os acampamentos no país em até 24h pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com apoio das forças policiais.

Por volta das 15h30, integrantes da GCM e da Polícia Militar observavam o movimento, do outro lado do acampamento, em clima amistoso. Interpelados pela imprensa, disseram que a ordem do ministro Alexandre de Moraes seria respeitada e o acampamento ilegal, provavelmente, desmontado, mas pelos próprios ocupantes que, vagarosamente e parecendo ainda incrédulos pelo abandono, iam, aos poucos, devolvendo a ordem ao local. Antes, a passagem de helicópteros da PM sobrevoando o acampamento despertou a atenção dos golpistas. Em conversa entre eles, ouvida pela reportagem por proximidade, duas pessoas reclamavam que, agora, eles é que eram os “bandidos”, tendo que ser retirados pelas forças policiais.

De acordo com o secretário de Segurança Urbana de Sorocaba, Alexandre Caixeiro, tanto GCM quando Polícia Militar estavam, apenas, dando apoio à ação, que seguia pacificamente. Ele ainda disse que, do mesmo modo que os materiais dos golpistas haviam chegado em Santa Rosália, precisavam voltar. No entanto, em nenhum momento falou que o município financiaria o desmonte da ação ilegal. Ainda segundo ele, estavam “dando a oportunidade” para que os bolsonaristas concluíssem a retirada que acreditava ocorrer ainda nesta segunda-feira.

A orientação de Caixeiro à reportagem era para que procurasse o major do Exército, cujo nome não foi identificado, para mais informações. Ao procurar a pessoa indicada, enquanto aguardava o atendimento, o próprio Caixeiro, acompanhado de policiais militares, adentrou a Base do Exército e, logo em seguida, a resposta enviada foi a de que o major não poderia receber a imprensa, pois estaria em reunião.

O PORQUE segue com espaço aberto para manifestações do Exército e das pessoas citadas na matéria. Caso haja resposta, esse texto será atualizado.

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