Uma das principais formas de exercer a cidadania na democracia indireta, modelo político estabelecido no Brasil após a Proclamação da República, é o voto, direito que foi ampliado para todos em 24 de fevereiro de 1932, completando 92 anos neste sábado.
Ainda que o voto feminino tenha sido uma conquista, o Brasil ainda padece de raízes machistas e patriarcais. É o que afirma a diretora e coordenadora do Coletivo de Mulheres do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Nazaré Inocência.
O SMetal busca há anos avanços nos direitos das metalúrgicas, seja através da ampliação da licença-maternidade, ou da valorização da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Assédio (CIPA-A), por exemplo. Em um momento que se discute sobre os avanços da indústria e novas tecnologias, o debate sobre as condições de trabalho das mulheres no futuro pode ter um destaque.
Nesta perspectiva, Nazaré ressalta a importância da participação das mulheres nos espaços de decisão política para representar as pautas das trabalhadoras e concretizar o Estado Democrático de Direito.
“Ainda há muito o que conquistar. Neste contexto em que as mulheres ainda sofrem tanto com a violência, é necessário fomentar ações que intensifiquem o debate, com objetivo de identificar e analisar as condições de vida das mulheres, incentivando políticas de Estado que garantam direitos iguais para todos”, destaca.
Em Sorocaba, a primeira mulher a se eleger em cargo político foi Salvadora Lopes, líder sindical, em 1947, mas foi cassada mesmo antes de assumir o cargo de Vereadora.
História
A professora e historiadora, Júlia Amaral, conta que a conquista do voto feminino no Brasil estava relacionada ao contexto internacional de mudanças sociais e, neste período, o papel de cuidado dos filhos e a realização dos serviços domésticos é fortalecido como papel das mulheres.
“Podemos citar as revoluções francesa e industrial, que abalaram muitas estruturas. Entretanto, como disse Simone de Beauvoir, nesses momentos de crise política, o modo de vida das mulheres é abalado e, nesse período, a imposição social e moral, de separação do papel dos sexos na sociedade, foi reforçada, estendendo esse controle para vida privada”.
A historiadora completa explicando que o movimento sufragista no Brasil também foi ligado à luta abolicionista, pela libertação dos escravizados, apesar de internacionalmente alcançar um número pequeno de mulheres, especialmente brancas e de classe média.
Nas décadas anteriores a aprovação do sufrágio no Brasil, o movimento feminista se fortaleceu, tendo à frente a professora Maria Lacerda de Moura e a bióloga Bertha Lutz, que fundaram a Liga para a Emancipação Internacional da Mulher, um grupo de estudos cuja finalidade era a luta pela igualdade política das mulheres.
“É principalmente na figura da Bertha Lutz, ao lado de outras mulheres que, durante décadas, vai fazer vários tipos de negociações políticas e institucionais, buscando esse apoio pelo voto feminino”, afirma Júlia.
Uma das bandeiras do movimento liderado por Getúlio Vargas era a reforma eleitoral, que depois de assumir a Presidência da República através de um golpe, em 1930, criou a Justiça Eleitoral, instituiu o voto secreto e estabeleceu o voto para todos os gêneros.
Para saber mais detalhes dessa história, leia O voto feminino no Brasil, de Teresa Cristina de Novaes aqui.