Parte crucial da construção e da luta pela democracia ao longo da história do Brasil, a classe trabalhadora marcou presença, por meio de seus representantes, no evento histórico de leitura da Carta às Brasileira e Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito (assine aqui) na manhã desta quinta-feira (11), na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, no centro da capital paulista. O local foi palco também de um outro documento histórico, elaborado em 1977 e que lutava pelo fim da ditadura militar no país (1964-1985).
Exatamente 45 anos depois daquele momento, a luta agora é para manter a democracia, conquistada a duras penas. “Após 45 anos daquele histórico 11 de agosto de 1977, a luta pela democracia se fortalece neste momento. Há o conservadorismo. As forças retrógradas ocupam o país e estamos aqui para dar um basta aos arroubos à democracia que Bolsonaro tenta impor”, afirmou o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo.
Ele se refere aos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral brasileiro. O presidente é o segundo colocado em todas as pesquisas de intenções de voto, lideradas pelo ex-presidente Lula, e já ameaçou não aceitar o resultado das eleições porque, segundo ele, as urnas eletrônicas não são seguras. Bolsonaro nunca apresentou qualquer prova de insegurança nas urnas eletrônicas brasileiras, elogiadas por democracias como a dos Estados Unidos como um dos melhores sistemas eleitorais do mundo.
“Nós, os democratas, os democráticos, e todos os que defendem que o país seja justo e que possa responder às necessidades dos mais pobres e ao mesmo tempo promover desenvolvimento, estamos aqui para defender a democracia e o respeito ao resultado das urnas”, assegura Ariovaldo de Camargo.
O metalúrgico Fabio Rossy, membro do Comitê Sindical da ZF do Brasil Planta 2 e que esteve no ato em defesa da democracia representando a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), assegura que, enquanto militante do movimento negro e dirigente sindical, poder participar desse momento histórico é de extrema importância. “Fico muito feliz em ver diferentes instituições, de diversos segmentos, assinando a carta e se mobilizando, isso prova mais uma vez que estamos no caminho certo. No caminho da democracia, do diálogo, de lutar por direitos, sejam eles sociais, por emprego ou no combate à fome”, assegura.
E completa: “o atual governo vem fazendo constantes ataques infundados, sem qualquer tipo de prova, ao Estado Democrático de Direito em que vivemos. Se não nos manifestarmos e formos às ruas protestar, haverá um retrocesso muito grande. Não podemos recuar frente a esses ataques contra a nossa Constituição e à nossa Democracia, vamos à luta”.
A defesa da democracia e do processo eleitoral neste momento, é tarefa de toda a sociedade, afirmou a presidenta da CUT-SP, Telma Victor, em seu discurso antes da leitura da carta. “Este é um dia histórico de grandes mobilizações pelo país, pela democracia, por direitos e por eleições com urnas [eletrônicas] sim!”, disse a dirigente.
“Aceitar o resultado que sair!”, pontuou Telma, se referindo às constantes ameaças de Bolsonaro de que não aceitará o resultado das eleições em caso de derrota e de que incitará seus apoiadores a criarem todo tipo de desordem.
Secretário-Geral da CUT –SP, Daniel Calazans reforçou a afirmação. “Eleições livres para escolhermos quem será o próximo presidente. A leitura da carta reúne várias forças da sociedade que estão referendando que querem continuar na democracia com o Estado forte e indutor de políticas públicas para promover igualdade” disse o sindicalista.
Movimento sindical
Representantes de diversas categorias profissionais estiveram no ato na Faculdade de Direito. Os bancários foram representados pelas duas coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira e Ivone Silva.
“É um grande movimento esta carta e nós, bancários, assinamos o documento também, porque defendemos a democracia. Significa defender os direitos, a vida, o Brasil, os interesses do povo brasileiro”, disse Juvandia, que também é presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT).A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (SpBancarios), Ivone Silve, reforçou que o momento pelo qual passa o país é um “momento delicado” e, conforme mostra a história, os principais alvos de regimes autoritários são os trabalhadores e seus representantes.
“O presidente [Bolsonaro] ataca a democracia todos os dias e estamos aqui porque a primeira coisa que o fascismo ataca é o movimento sindical, que luta. Lutamos por uma sociedade mais justa, igualitária e que tenhamos um governo que defenda a democracia”, disse Ivone Silva
A categoria petroleira também esteve representada por sindicalistas da Federação Única dos Petroleiros (FUP). O coordenador-geral da entidade, Deyvid Bacelar, ressaltou a importância da carta.
“É um movimento importantíssimo para além da esquerda, um movimento amplo onde, com certeza, teremos a vitória nas ruas e nas urnas para tirarmos esse que ameaça o Estado Democrático de Direito e a democracia e que tem tirado direitos históricos da classe trabalhadora brasileira”, disse.
O dirigente também afirmou que que um outro manifesto, específico da categoria, foi assinado pelos trabalhadores. “Aprovamos em assembleias de base com os trabalhadores do sistema Petrobras um manifesto em defesa da democracia, das eleições e em defesa do o resultado das urnas”, concluiu Deyvid.