Sorocaba registrou 800 casos de acidentes de trabalho nos três primeiros meses deste ano, segundo dados da GRTE (Gerência Regional do Trabalho e Emprego), do Ministério do Trabalho. O número representa 60% a mais que a média trimestral do ano passado, quando foram registrados cerca de 500 acidentes a cada três meses, fechando o ano de 2023 com mais de 2 mil ocorrências.
Para reduzir esses números, entidades de representação de trabalhadores e empresas criaram uma força-tarefa há 10 dias. A primeira ação aconteceu na semana passada, quando o Crea (Conselho Regional de Engenharia) visitou 253 obras de construção civil e indústrias.
Das 253 diligências, 146 foram em empreendimentos de construção civil e 107 em indústrias e empresas de outros setores. Na área de construção foram encontradas 32 irregularidades, que podem trazer riscos de acidentes. No caso das indústrias e demais empresas, foram encontradas irregularidades em terceirizadas que atuam no ramo de segurança do trabalho.
O Crea afirmou ao Portal Porque, nesta segunda-feira (15), que ainda não tem os detalhes das irregularidades e das práticas de risco à segurança que cada empreendimento ou empresa cometem, pois essas informações ainda precisam de alguns dias para serem analisadas e finalizadas.
Força-tarefa e terceirização
Algumas instituições que compõem a força-tarefa, formada no dia 4 de abril, são Crea/SP, GRTE, Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Sindicato dos Metalúrgicos (SMetal), Sindicato da Construção Civil e Sistema S (Sesi, Senai, Senac). A primeira ação, do Crea, aconteceu de 8 a 12 deste mês.
De acordo com Ubiratan Vieira, o Bira, chefe de fiscalização da GRTE, do total de acidentes, 1/3 acontece na construção civil, o que significa quase 700 acidentes em 2023. Na indústria de transformação foram registradas 212 ocorrências. Mas também acontecem acidentes nos setores de comércio e de serviços, “boa parte por quedas e choques elétricos”, afirma Bira.
Dos 2 mil casos registrados no ano passado, segundo Bira, 1.900 resultaram em afastamentos do trabalho, pelo INSS, por prazo superior a 15 dias. Sete pessoas morreram.
Ainda de acordo com o auditor fiscal, a flexibilização trabalhista nos últimos anos tem boa parte da responsabilidade pelo crescimento dessas ocorrências: “infelizmente a terceirização exacerbada como é atualmente — e especialmente após a Reforma Trabalhista promovida por Temer/Bolsonaro — colabora com o aumento do número de acidentes. Assim é que os mais jovens estão morrendo, por absoluta falta de funcionamento das Cipas e também dos Sesmets (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho), hoje terceirizados”.
Operação do Crea
O chefe de equipe do Crea/SP na região de Sorocaba, André Martinelli Agunzi, explicou ao Porque que “a gente já vinha realizando operações de segurança no trabalho, mas desta vez a ação foi com mais detalhes. Indagamos não somente sobre os responsáveis técnicos pela segurança, mas também sobre o cumprimento das NRs (Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho)”.
André afirma ainda que o órgão questionou quais empresas dão treinamento para os funcionários e quais falham nesse aspecto. Essa lista, ainda segundo ele, será finalizada em breve. “Em 2023 foram muitos trabalhadores machucados, mortes, afastamentos do trabalho devido a lesões e limitação de mobilidade, pessoas com sequelas que podem até tirá-las do mercado de trabalho em definitivo”, afirma André.
Em relação às NRs, o chefe de equipe afirmou que as solicitações de comprovantes de cumprimento delas já foram feitas pelo Crea, mas o Ministério do Trabalho poderá intervir caso empresas ou empreendimentos se recusem a fornecer as informações.