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Vitória incontestável

Uma vitória apertada, porém, incontestável. No último domingo, dia 14, Nicolás Maduro foi eleito presidente da Venezuela com 50,66% dos votos contra 49,07% obtidos pelo opositor Henrique Carpriles

Imprensa SMetal

Uma vitória apertada, porém, incontestável. No último domingo, dia 14, Nicolás Maduro foi eleito presidente da Venezuela com 50,66% dos votos contra 49,07% obtidos pelo opositor Henrique Carpriles. Apesar da diferença mínima, cerca de 200 mil votos, a vitória de Maduro é incontestável, afinal, na democracia – como é na Venezuela – cinquenta por cento mais um é sinônimo de vitória.

Dito isto, é importante ficar atento à cobertura jornalística da grande mídia brasileira que, com histórico golpista, tende a por em dúvida o processo eleitoral da Venezuela (acompanhado por observadores neutros de organismos internacionais), fomentar a raiva da oposição derrotada e apostar na desestabilização do país “dividido”.

Existe, sim, uma série de razões que explicam a postura raivosa da imprensa conservadora. Para começar, Maduro é herdeiro do legado deixado por Hugo Chávez, eleito democraticamente presidente da Venezuela por três vezes consecutivas.

Chávez, por sua vez, foi o responsável por tirar o Estado e o petróleo – principal riqueza natural da Venezuela – das mãos da oligarquia e criou programas sociais que ampliou direitos e dignidade aos mais pobres.

Em seu governo, Chávez demonstrou que é possível crescer combatendo a miséria e privilegiando o povo. Os venezuelanos abaixo da linha da pobreza eram quase metade da população e passaram para 27,8% durante seu governo. A taxa de mortalidade infantil diminuiu de 27 por mil para 14 por mil. O acesso à água potável subiu de 80% a 92% da população e o consumo de alimentos cresceu 170%. A taxa de escolaridade cresceu de 40% para 60% e, de acordo com a Unesco, o país também ficou livre do analfabetismo.

Como em qualquer revolução, o comandante bolivariano colecionou desafetos conservadores, especialmente a velha mídia, inclusive brasileira, que sempre o considerou “um ditador”. Não por acaso, mas por conveniência, os meios de comunicação sempre omitiram a necessária informação de que Chávez participou de 14 eleições e referendos, saindo vencedor em todas elas.

Apoiado pelos Estados Unidos, pela velha mídia e pela extrema- direita venezuelana – que não aceita fazer oposição legítima pela via democrática -, Capriles, que ainda não reconheceu a derrota nas urnas e pede a recontagem de todos os votos, parece ter escolhido o atalho do golpismo.

O mesmo caminho foi adotado pelos militares venezuelanos que, em 2002, derrubaram Chávez e colocaram no poder (por dois dias) Pedro Carmona, um líder patronal que prontamente foi “reconhecido” como presidente pelo governo dos Estados Unidos e pela imprensa brasileira.

Obviamente, Maduro não é Chávez e, apesar de ter conseguido chegar ao poder graças ao legado do chavismo, deverá enfrentar um caminho difícil na condução da Venezuela.

Ao povo venezuelano, cabe defender bravamente a democracia e afastar o risco de golpe que assombra o país. Aos trabalhadores brasileiros, convém desconfiar da grande imprensa que, disfarçada de “imparcial”, frequentemente reproduz a síntese do pensamento conservador, oligárquico e, não raro, golpista.

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