É difícil algum novo escândalo de corrupção, nepotismo e tráfico de influência surpreender quem acompanha de perto a política brasileira. O tecido da nossa institucionalidade política esgarçou, carcomido pela podridão. Os eleitores votam, o poder econômico elege e, lá em cima, os eleitos se entendem, se congratulam, se recompensam, e com certeza riem da nossa cara.
Nem por isso devemos descrer na democracia, desde que haja disposição de botar abaixo a plutocracia. A Lava Jato é, nesse sentido, uma iniciativa positiva, malgrado seu risco de também cair na tentação de fazer jogadas partidárias.
O Brasil está nu. E desmoralizado. E os dois poderes republicanos, o Legislativo e o Executivo, dependurados no Poder Judiciário. Este preside de fato o país. Contudo, o Brasil merece retomar o curso normal do processo democrático e, para isso, o Congresso deveria calçar as sandálias da humildade e aprovar, agora, eleições diretas para a presidência da República.
Qualquer outra solução é tentar costurar remendo novo em pano velho. Manter Temer é ver o país em queda livre, inclusive pelas denúncias que ainda emergirão.
Uma eleição indireta teria que buscar um candidato acima de qualquer suspeita. E o Congresso certamente não haverá de eleger quem, amanhã, possa desalojar do aparelho do Estado os suspeitos de corrupção e os indicados por eles.
Se queremos resgatar a democracia é melhor correr o risco com o povo do que pretender solucionar a crise sem ele.
Frei Betto é escritor, autor de “Ofício de escrever” (Anfiteatro), entre outros livros.