Busca
Editorial

A manipulação midiática e a divisão de classes

Na obra "Showrnalismo: a notícia como espetáculo" (2001), o jornalista e professor universitário José Arbex Jr. faz críticas contundentes à manipulação dos grandes veículos de comunicação

Imprensa SMetal
Divulgação

Na obra “Showrnalismo: a notícia como espetáculo” (2001), o jornalista e professor universitário José Arbex Jr. faz críticas contundentes à manipulação dos grandes veículos de comunicação.

Fruto de sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP), o livro aborda como a Guerra do Golfo, que ocorreu em 1991, marcou um ponto de inflexão. Quem assistiu pela TV não viu ninguém morrer, como uma guerra limpa. Mas hoje sabemos que mais de 130 mil morreram. “Se a mídia é capaz de falsificar a transmissão ao vivo de uma guerra, o que mais ela é capaz de fazer?”, questiona Arbex.

Temos exemplos diários – de leves a graves – de como as notícias são manipuladas no dia a dia, se observarmos com o olhar crítico e questionador.

Nesta semana, na terça-feira, dia 25, foi publicado em diversos órgãos de imprensa a denúncia do doleiro Alberto Youssef durante a acareação, no Congresso, na CPI da Petrobras, de que o senador Aécio Neves (PSDB/MG) recebeu propinas da lista de Furnas. O portal do UOL deu a notícia com o título “Youssef e Costa confirmam repasse de propinas a Aécio Neves e Sérgio Guerra”. Só que minutos depois trocou para “Em CPI, Youssef e Costa citam repasse de propinas de estatais a tucanos”.

O Jornal Nacional não incluiu as falas sobre Aécio e Guerra em sua reportagem. Preferiu focar em Antonio Palocci e Dilma Rousseff, ambos petistas. Essa parcialidade na notícia mostra como a informação está atrelada aos interesses privados das grandes corporações midiáticas. Além disso, demonstra como alguns veículos caracterizam a notícia como uma mercadoria, resultando no fim da politização.

Alguns intelectuais afirmam que a liberdade de imprensa virou liberdade de empresa. O antropólogo e filósofo Jesus Martins-Barbero que tem diversos livros publicados sobre comunicação e educação já ressaltou que “falar de comunicação significa, em primeiro lugar, reconhecer que estamos numa sociedade em que o conhecimento e a informação têm tido um papel fundamental, tanto nos processos de desenvolvimento econômico quanto nos processos de democratização política e social”.

Sobretudo que o estudo da mídia é também o estudo da reprodução cultural e social, “inscrevendo-se, portanto no debate acerca da divisão de classes, que desvela o princípio estrutural de todos os aspectos da vida no capitalismo”.

Eis o desafio para todos os leitores e telespectadores diante da notícia (travestida de verdade): o de ficar atento às entrelinhas e aquilo que não foi dito.

Já aos veículos de nicho, aos blogueiros e mídias alternativas, fica o desafio de contribuir para uma mentalidade crítica, na leitura do mundo de maneira cidadã. Tendo a noção de que a informação tem papel constitutivo tanto na formação do discurso político (que não é só o discurso dos políticos) como na própria ação política, como alerta Barbero.

tags
classes Folha Metalúrgica golpe meios de comunicação mídia palavra da diretoria folha edição 801
VEJA
TAMBÉM