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Cultura

João Leopoldo – Música popular brasileira melodramática

João Leopoldo divide o palco do Sesc hoje com Cida Moreira. Ele mostra o disco "Novo", que traz composições que marcaram sua trajetória de quase dez anos pelo universo do "surrealismo sonoro"

Jornal Cruzeiro do Sul/Felipe Shikama
MIRNA MÓDOLO / DIVULGAÇÃO

O evento teve apoio cultural do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região

Quando tinha 11 anos de idade, João Leopoldo já se destacava nas páginas do Cruzeiro do Sul sob a condição de pianista prodígio. Hoje, com 37 anos, o músico sorocabano não é apenas uma promessa e tem no currículo cinco discos autorais. O mais recente, intitulado Novo, que teve lançamento neste sábado, dia 9, às 20h, no Sesc Sorocaba (rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade), com a participação especial da cantora Cida Moreira.

Com cautela para não espantar o público em virtude de uma suposta intelectualização de sua obra, João admite que “surrealismo sonoro” ou “música popular brasileira melodramática” são alguns dos rótulos pertinentes para descrever sua música, ou como ele prefere, seu “universo particular”. Mas não é apenas isso. “As coisas não são classificáveis, mas “surrealismo sonoro” foi uma forma de eu me apoiar nas minhas influências, principalmente no que se refere à parte textual, porque esse meu projeto, que começou há quase dez anos, caminha para sempre pelo universo do fantástico”, comenta o músico.

Neste universo fantástico e sonoro de João Leopoldo, uma aranha conversa com um olho humano, dentes falantes descobrem que têm bocas e, portanto, dentes e a verdade decidem contar a sua primeira mentira. Nesta imersão de narrativas criativas e temáticas inusitadas, João pontua algumas de suas referências literárias que vão de Ítalo Calvino a Machado de Assis passando por Edgard Allan Poe.

Conhecido das noites sorocabanas por tocar piano em grupos de blues e jazz, onde a expressão se dá essencialmente por meio dos improvisos, João Leopoldo assinala que seu trabalho solo é completamente diferente e, neste caso, as teclas assumem função de coadjuvantes. “A música ajuda a criar uma atmosfera para que o ouvinte consiga mergulhar melhor nessas narrativas surreais. Para o ouvinte é uma experiência diferente, como se ele estivesse vendo um filme”, acrescenta. Para ressaltar a experiência audiovisual, o show de hoje contará com projeção de imagens em um telão, coordenadas pelo videomaker Juca Mencacci.

Parceira de João Leopoldo desde 2012, quando juntos estrearam o show Canções fatais, baseado em músicas “de cortar os pulsos” do compositor Vicente Celestino, a cantora paulistana Cida Moreira participou das gravações do disco Novo e estará no palco no show de hoje, como convidada especial do músico sorocabano. “Acho o João um artista excepcional, ousado, corajoso e brilhante. Tenho uma admiração imensa por ele e é uma honra fazer parte desse trabalho ao lado dele”, elogia a cantora, sinalizando que a parceria de dois vanguardistas tem tudo para ser longa e profícua. Recentemente, João gravou e assinou os arranjos de duas músicas do novo disco da cantora, que está em fase de masterização e deve ser lançado até o final deste ano.

Referências

João, por sua vez, retribui os elogios à cantora que a considera “a maior referência” na arte de aliar a música com a contação de história, valendo-se de recursos cênicos. “Ela foi muito importante para que eu descobrisse a maneira de trabalhar com música e teatro, porque eu não queria me tornar apenas um músico e muito menos somente um ator”, assinala o músico, que ouviu os primeiros discos de Cida durante a juventude, quando integrava a companhia teatral Tribufu Martelo.

Apesar do aparente marketing persuasivo, o título do disco, Novo, carrega consigo uma profunda dose de reflexão. “É engraçado como o termo “novo” está sempre empregado para tentar deteriorar o tempo. A palavra “novo”, para o disco, sugere que o novo é permanente e infinito e o velho não existe. A minha ideia é olhar para esse disco daqui 40 anos e achar ele novo”, filosofa o pianista e compositor.
Vale dizer que, apesar de “novo”, o álbum mais recente de João é um compilado de canções dos seus três últimos discos: Ideia nova, Ideia velha; Acostumando os ouvidos e Cabeça madura. A novidade é que, ao contrário dos anteriores, produzidos em sua casa, este álbum resgata sua essência pianística. “Quando eu fiz apresentações solo em Portugal, as pessoas me disseram que o disco tinha uma característica diferente. Ao vivo, só com piano, as músicas tem aberturas sonoras diferentes e é mais teatral. Eu fui cobrado, no bom sentido, e voltei de lá com essa ideia”, comenta.

Com 11 faixas, o CD independente só se tornou possível graças a uma série de parceiros, como a Secretaria de Cultura (Secult), que cedeu o Teatro Municipal Teotônio Vilela (TMTV) e seu piano, para a gravação do disco ao vivo, em um único dia. Já a confecção das cópias, que estarão à venda hoje a R$ 20, teve apoio cultural do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região. A produção é assinada por Maurício Nogueira. Em três faixas do disco, a essência do piano ganhou contornos ainda mais eruditos, que remetem ao início da formação de João Leopoldo, com arranjos do Quarteto Sorocaba de cordas sob regência do músico Bruno Cavalcante.

Citando que o show de hoje será pontuado por doses de bom humor, como na história da música A tragédia do som, na qual o ruído e o som decidem se transformar em silêncio para escravizar a sociedade desafinada, João Leopoldo adianta que o próximo desafio será o de se aproximar de outros artistas que trafegam pelo seu mesmo universo. “Estou começando a encontrar meus pares dentro desse universo particular. A música de vanguarda não pode ser propriedade somente sua, tem que encontrar um movimento, senão vai ficar isolada e engavetada”, assinala.

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